Da necessidade de um espaço maior para realização das missas, surgiu um incrível projeto pelas mãos do escritório Verri e Galvão. A ampliação da Igreja Cristo Ressuscitado foi realizada em 2017 e garantiu à igreja e ao escritório muita satisfação. “Para o escritório realizar este projeto foi um enorme privilégio, pois é um tema, no qual se relacionam espaço físico e o espaço celebrativo, objetividade e subjetividade, que nos interessa. […] tínhamos como orientação advinda do Padre Júlio: “A igreja somos nós”.” diz Aníbal Verri, responsável pelo projeto, sobre o início dos estudos. A obra é um retrofit, termo utilizado na arquitetura quando se trata de projetos que visam revitalizar, readequar e modernizar algum edifício. “A forma da fachada e, consequentemente a da volumetria em duas águas, derivou da estrutura existente da cobertura, e, por meio do retrofit, o telhado foi estendido e adequado às novas proporções.” ressalta o arquiteto sobre a nova forma da igreja. Sobre os materiais aplicados, o arquiteto explica que a escolha se deu pela naturalidade dos mesmos ao representar certa perenidade e descolamento de tendências datadas. “[…] Pedra, tijolo de barro, madeira e concreto (a pedra contemporânea), o templo como a Igreja precisa de perenidade […] São elementos que não cedem a tendências efêmeras e modismos.” Todas essas estratégias garantiram ao projeto seu maior propósito: o acolhimento da população. “[…] o espaço possibilitou uma sensação de pertencimento. A igreja é a comunidade”. Confira abaixo a entrevista completa com o arquiteto Aníbal Verri Júnior, responsável pelo escritório Verri & Galvão.
Igor Mendes – Qual a história e o significado desse projeto para o escritório Verri&Galvão?
Aníbal Verri – Para o escritório, realizar este projeto foi um enorme privilégio, pois é um tema, no qual se relacionam espaço físico e o espaço celebrativo, objetividade e subjetividade, que nos interessa. Estudamos e investigamos essa dicotomia há tempos, consultando bibliografias relacionadas a essa abordagem.
A realização do projeto arquitetônico da PARÓQUIA CRISTO RESSUSCITADO partiu de um chamamento do padre Júlio na celebração, sobre a demanda de um espaço ampliado. Em atendimento ao chamado, propusemo-nos às elaborações de estudos, que convergiram ao que está executado. Passamos por versões de novas paróquias e, sob demanda da igreja, já na presença do Padre Altair, propusemos um retrofit.
No estabelecimento dos diálogos entre a Verri & Galvão e os contratantes, prática necessária ao bom desenvolvimento dos trabalhos, principalmente nesse tema que envolve grande simbolismo, tínhamos como orientação advinda do Padre Júlio: “A igreja somos nós”.
IM – Quais foram os principais desafios da obra, se tratando de um projeto de retrofit?
AV – A arquitetura teve como desafio a manutenção da estrutura ritmada dos apoios porticados e propôs novos limites para o retângulo construído que o templo sempre ocupou, de maneira a aumentar a forma e a permitir que a igreja existente acolha, exclusivamente, a nave. Às faixas de ampliação foram destinados: o acesso principal, as circulações laterais, uma entrada acessível pela praça, marcada pela imagem de São José e outra entrada pela rua Vitório Balani, marcada pela imagem da Nossa Senhora, além da forte presença da capela do Santíssimo, que conecta a nave à praça e ao Presbitério.
Voltado à avenida Rio Branco, um adro acolhe os fiéis à igreja e os conduz aos espaços do rito e da reflexão. A nave recebe luz natural assim como o presbitério, com um maior volume de luz, hierarquizando as funções.
IM – Existem três acabamentos predominantes no projeto: tijolo aparente, concreto aparente e madeira. Quais foram as intenções dessas escolhas?
AV – Todos os materiais empregados são naturais: pedra, tijolo de barro, madeira e concreto (a pedra contemporânea), o templo como a Igreja precisa de perenidade, e estes materiais, cada qual com sua característica, cumprem este papel, não cabe na premissa da igreja, o simulacro. São elementos que não cedem a tendências efêmeras e modismos.
IM – A volumetria da obra tem grande destaque e imponência por sua forma que remete à um telhado de duas águas. Quais foram as diretrizes para o processo de volumetria do projeto?
AV – A forma da fachada e, consequentemente a da volumetria em duas águas, derivou da estrutura existente da cobertura, e, por meio do retrofit, o telhado foi estendido e adequado às novas proporções. Nessa expansão foram desenhadas as circulações laterais com estrutura e lajes inclinadas de concreto aparente. À frente foram conformados o adro e o acesso principal, prevendo um lugar de transição entre a fachada, o frontispício e o corpo da nave da igreja, com um plano de tijolos limitando os espaços interno e externo e simbolizando a transição do profano ao sagrado. Desenhou-se, ainda, na cota mais alta, uma torre com a cruz, elemento que imprime verticalidade ao conjunto.
IM – Na opinião do escritório, quais foram os impactos da obra em questões visuais e formais, de uso do projeto pela população e para seu entorno?
AV – O escritório está muito emocionado com a reverberação do projeto. Tecnicamente, um retrofit possui algumas limitações que o diferencia de um projeto iniciado do zero, mas, as manifestações da comunidade são positivas e elogiosas. Talvez possamos pensar nos versos do grande poeta português, que diz que o rio mais bonito é o rio de sua aldeia. De igual forma, o espaço possibilitou uma sensação de pertencimento. A igreja é a comunidade. Ela tem uma escala delicada, uma paróquia de bairro, baixa, conforme a maioria das edificações dos seus arredores, mas há a torre da cruz como hierarquização e marcação do espaço.
A avenida rio Branco, uma das mais lindas que conhecemos, é um espetacular túnel verde, e tem, na paróquia Cristo Ressuscitado, uma luz ao seu final, uma luz rebatida pelo barro e pelo concreto no fim do túnel.
Foto: Jefferson Ohara
*Retrofit foi um termo utilizado na Europa e nos Estados Unidos, que significa “colocar o antigo em forma” – “retro” do latim, “movimentar-se para trás” e “fit” do inglês, “adaptação, ajuste”. É um termo frequentemente utilizado no mercado de construção civil, nos processos de revitalização de edifícios, envolvendo uma série de ações de modernização e readequação de instalações, cujo objetivo é preservar o que há de qualidade na obra existente, adequá-la às exigências atuais e, ainda, estender a sua vida útil.