As análises preliminares realizadas pelo Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio), que reavaliou exames anteriormente conduzidos pelo Laboratório PCS Saleme, não detectaram infecções por HIV nas amostras de sangue. Ao todo, 288 doadores de órgãos tiveram seus exames submetidos a essa nova avaliação. Apesar desse resultado inicial, a Secretaria de Estado de Saúde informou que o Hemorio realizará mais uma série de testes, devido à gravidade da situação.
“O Hemorio informa que as análises preliminares constataram que não havia mais nenhuma amostra de sangue de doador de órgãos infectada por HIV. No entanto, considerando a enorme relevância do caso e o rigor que o processo exige, a direção da unidade decidiu fazer uma segunda bateria de testes com cada uma das amostras para que não haja qualquer tipo de dúvidas”, disse a SES em nota.
De acordo com a secretaria, os laudos definitivos serão emitidos ao término dessa fase de análises, que ainda está em andamento. As amostras foram inicialmente testadas pelo laboratório PCS Saleme, uma unidade privada localizada em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Seis pacientes que receberam transplantes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio de Janeiro contraíram HIV, já que os órgãos recebidos eram de doadores infectados, informação que não foi identificada nos testes do laboratório.
Investigações
Desde a confirmação dos casos, o episódio vem sendo investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e pela Polícia Federal. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde também iniciaram investigações para apurar responsabilidades e identificar os culpados pela contaminação.
No domingo (20), a Polícia Civil prendeu Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do Laboratório PCS Saleme, durante a segunda fase da Operação Verum. Ela é suspeita de envolvimento na emissão dos laudos errados. O laboratório foi contratado por licitação pela Fundação Saúde em dezembro de 2023 para atender ao programa de transplantes.
Segundo nota da Secretaria de Estado de Polícia, a operação contou com policiais civis da Delegacia do Consumidor (Decon) e apoio do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), resultando no cumprimento de oito mandados de busca e apreensão. O objetivo é fortalecer a investigação em curso.
As investigações da Decon indicam que uma decisão do laboratório de reduzir custos levou a uma falha operacional no controle de qualidade dos testes. Anteriormente, as análises de amostras eram feitas diariamente, mas passaram a ser semanais.
Na primeira fase da operação, quatro pessoas foram presas: o médico Walter Ferreira, sócio do PCS Lab Saleme, e os funcionários Jacqueline Iris Bacellar de Assis, Cleber de Oliveira Santos e Ivanildo Ferreira dos Santos, que tiveram a prisão temporária mantida pela Justiça do Rio.
Além da investigação sobre os culpados, o processo de contratação do laboratório também está sendo apurado por uma força-tarefa montada pelo governo do estado.
Sistema de Transplantes
O Ministério da Saúde ressaltou que o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é um dos mais transparentes, seguros e consolidados do mundo. “Existem normas rigorosas que visam proteger tanto os doadores quanto os receptores, garantindo que os transplantes realizados no país mantenham alto nível de confiabilidade”, destacou em nota.
Dados do ministério indicam que o SNT, garantido pelo SUS, é responsável por financiar cerca de 88% dos transplantes realizados no Brasil.
Contaminação
Os laudos assinados pelo PCS Lab Saleme, referentes a dois doadores, não identificaram infecção por HIV, e os órgãos foram destinados a transplantes no Rio de Janeiro. Contudo, as testagens que consideraram as amostras como negativas estavam incorretas, pois os doadores eram positivos para o vírus. Como consequência, seis pacientes foram contaminados com HIV durante o processo de transplante.
Diante dos resultados, o PCS Lab Saleme foi interditado pela Vigilância Sanitária estadual até a conclusão das investigações. Novas testagens estão sendo conduzidas pelo Hemorio. O caso, considerado grave pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) e pelo Ministério da Saúde, é inédito no país.
Fonte: Agência Brasil