Três países nas Américas ainda são considerados endêmicos para doença
*Com Agência Brasil
O Brasil recebeu nesta segunda-feira (11) o certificado de país livre da filariose linfática, conhecida como elefantíase, entregue pela Organização Mundial da Saúde (OMS) durante uma cerimônia na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília.
“Eliminar uma doença é um esforço gigantesco, especialmente por conta do vínculo entre certas doenças e a pobreza, gerando um ciclo vicioso. Os mais pobres adoecem mais, e, quando adoecem, se tornam ainda mais pobres. Isso resulta em perda de produtividade, e as famílias enfrentam maiores despesas com cuidados de saúde e reabilitação”, explicou o diretor da Opas, Jarbas Barbosa.
Barbosa enfatizou que eliminar doenças passíveis de erradicação é uma prioridade estratégica. “Isso vai além da saúde pública; trata-se de um imperativo ético e moral. Se temos os meios para eliminar uma doença, precisamos identificar onde estão as pessoas acometidas, as barreiras existentes e desenvolver novas estratégias”, afirmou.
Ele destacou que remover barreiras permite que as pessoas se beneficiem das inovações em medicamentos, vacinas, testes laboratoriais e modelos de organização de serviços que ampliem o acesso.
“É um reconhecimento e um desafio. Se conseguimos eliminar a filariose, também podemos eliminar a oncocercose, o tracoma, e avançar contra a tuberculose e o HIV. O Brasil tem todas as condições de continuar sendo um líder regional”, completou Barbosa, ressaltando o apoio de estados, municípios e instituições acadêmicas e científicas.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, reforçou que a filariose linfática reflete e agrava as desigualdades sociais. “Essas doenças são ao mesmo tempo causas e consequências da pobreza, o que torna esse momento ainda mais significativo.”
“Dedicamos este certificado às pessoas afetadas pela filariose linfática. Esperamos resgatar, de alguma forma, uma dívida histórica ao cuidar dessas pessoas e combater as chamadas doenças da pobreza – que, na verdade, são doenças da omissão e da falta de cuidado”, acrescentou.
Entenda a doença
A filariose linfática, ou elefantíase, é uma das maiores causas globais de incapacitação permanente, sendo endêmica no Brasil apenas na região metropolitana do Recife. O último caso confirmado ocorreu em 2017, de acordo com o Ministério da Saúde.
Transmitida pela picada do mosquito Culex quiquefasciatus, que carrega o parasita Wuchereria bancrofti, a doença causa edemas e acúmulo de líquido nos membros, seios e bolsa escrotal.
Cenário global
Com essa conquista, o Brasil se junta a outros 19 países que também eliminaram a filariose linfática como problema de saúde pública, como Malawi, Togo, Egito, Bangladesh, Tailândia e Vietnã.
Nas Américas, apenas República Dominicana, Guiana e Haiti permanecem endêmicos para a doença. Segundo a OMS, nesses países, é necessário realizar administração em massa de medicamentos para interromper a transmissão.
Em 2023, a OMS estima que 657 milhões de pessoas em 39 países viviam em áreas onde é necessário o tratamento em massa para combater a filariose linfática, usando quimioterapia preventiva. A meta global é eliminar ao menos 20 doenças tropicais negligenciadas até 2030.