Dia de tempo nublado e muita chuva em Maringá. Mas isso não impediu que um grupo de 30 grafiteiros se reunisse para trabalhar no projeto Muros que Unem – Edição Santa Felicidade, ao longo deste sábado, 7 de dezembro. É evento idealizado e organizado pelos artistas Frank Paris e Mel Ramos. Aberto gratuitamente ao público.
A grafiteira Amanda Luiza da Silva Cordeiro, a Narizinho, veio diretamente de Londrina para desenvolver sua obra individual no muro localizado na Av. Cerro Azul. Essa estrutura de alvenaria foi construída para isolar visualmente o bairro, então tido como marginalizado. Agora, ele se tornará uma galeria a céu aberto de aproximadamente 120 metros de extensão.
Há dez anos no graffiti, Narizinho vem à Cidade Canção pela terceira vez para desenvolver trabalho na área. No evento Muros que Unem, o desenho começou na manhã deste sábado e tem previsão para ficar pronto amanhã, domingo. “Eu desenho rostos. Meu estilo é personagem. Eu desenho mulheres e crianças, normalmente. Para deixar um lugar mais feminino, mais aconchegante, mais empoderado”, explicando que jogou uma base de látex branco, para depois fazer o desenho com o spray.
Narizinho quer deixar sua arte como presente, tanto para o pessoal de cá quanto de lá do muro. A ideia do projeto é criar 30 murais individuais “que, juntos, formarão um grande mural de arte urbana, promovendo a arte do graffiti e muralismo, ressignificando um local que já foi considerado símbolo de segregação social e discriminação”.
Em Londrina, a artista urbana explica que seu trabalho tem mais saída fora da cidade. “Ainda é um pouco fechado. Porém, cada vez mais, todo ano que passa, a gente tem visto que tem mais gente aprovando e contratando grafiteiros”.
Paraíso do Norte
Outro grafiteiro vindo de fora é o Felipe Oliveira da Silva, mais conhecido como New Move. Profissional há 12 anos no graffiti, ele é arte educador e produtor cultural. Mas é envolvido com as artes plásticas desde moleque, 22 anos atrás.
A convite de Frank Paris e Mel Ramos, New Move retornou a Maringá para participar do projeto no Santa Felicidade. Junto de outros grafiteiros, a proposta é fazer um mural temático sobre o faroeste, cujo desenho começou a ser feito neste sábado, 7.
“Quando os grupos se juntam, eles fazem uma temática”, citando que um dos personagens desenhados no muro é da famosa animação “Rango” (2011). É outro grafiteiro que está desenvolvendo esse trabalho visual. Já o artista de Paraíso do Norte faz uma arte com estilo de letra, que é uma das marcas do graffiti.
O mural completo tem uma paisagem no horizonte, uma caveira, uma casa ao estilo faroeste, Rango e as letras formando a palavra “New” saindo do chão. E ainda um personagem relacionado ao universo western de um amigo grafiteiro que está a caminho de Maringá.
Ressignificar o muro
As atividades deste sábado começaram às 9h e deveriam ir até as 19h. Mas uma forte chuva caiu sobre a Cidade Canção quase ao final da tarde. No domingo, os trabalhos devem recomeçar às 9h e seguir ao longo do dia.
Segundo um dos organizadores do evento, Frank Paris, os 30 grafiteiros vão deixar suas artes no mural. “Para ressignificar esse muro que foi construído para segregar esse bairro da cidade. A gente está trazendo a significação através da arte”. Essa estrutura urbana é conhecida popularmente como “muro da vergonha” pelos moradores do bairro.
Frank conta que é um evento focado em Maringá e região, com metade do elenco de artistas maringaenses e a outra metade formada pelo pessoal de Londrina, Cianorte, Astorga, Paraíso do Norte, Apucarana etc. “Cada artista tem liberdade total para a criação, trazendo seu estilo, sua proposta. E que ao final, a gente tenha um mural de 120 metros de largura”, destacando também a troca de experiências e ideias entre eles, que ficam pintando lado a lado. “É uma comunhão de arte urbana, uma celebração”.
Inclusive, tem painéis reunindo três quatro, cinco grafiteiros em torno de uma temática. Uma espécie de equipe, grupo.
Produzido com verba de Incentivo à Cultura Lei Municipal de Maringá n.º 11200/2020 Prêmio Aniceto Matti, esse projeto do Muros que Unem começou a ganhar forma em 2024, até chegar aos dias de evento neste fim de semana.
No momento da entrevista, o tempo ainda estava nublado com chuvinha fraca, o que, segundo Frank, contribui para o trabalho dos artistas. É que o sol forte os atingiria diretamente, que ficam dez horas de exposição solar. Mas depois, caiu um aguaceiro em Maringá.
Em 2024, o projeto está no Santa Felicidade, onde os proponentes ouviram os moradores e exploraram as histórias do bairro, em comunhão com a comunidade. Mas a ideia é de a cada edição, focar numa região da cidade.