Imbuída da ideia de que arte não pode ser enfeite, nem um bibelô na parede, a atriz, diretora, produtora, professora e palestrante Iara Ribeiro comanda a Cia Pedras Teatro Circo desde 1994. Ou seja, há 31 anos, quando fundou essa companhia em Maringá.
“A arte é algo que tem que nos mover, nos mover da nossa inércia para que a gente aja. Para que a gente lute pelo nosso tempo e pelo nosso povo. Ela tem que ser algo que mova. Ou que nos mova para algum lugar, mas que sigamos sempre em movimento”, afirma Ribeiro, em entrevista nos estúdios do jornal O Maringá.
Ela destaca que toda a sua vida foi dedicada às artes. “Isso é muito emocionante, você fazer 30 anos de história e continuar resistindo”, acrescentando que o nome Pedras sempre foi o mesmo, desde o início. “Eu estava sentada na área da minha casa, mexendo naquelas pedrinhas de construção, pensando em um nome. E a princípio o nome ia ser ‘Corta Bamba’, que é o nome de um espetáculo meu”, dizendo que à época acabou optando por Pedras porque é algo que edifica. “Eu queria algo que fosse edificante, algo que não quebrasse, algo que não perdesse a resistência. Eu falei: ‘vai ser Pedras’. E ficou”.
Em sua atuação à frente da Companhia, Ribeiro costuma utilizar as palavras “resistência” e “humanidade” como lemas do projeto. “Resistir é a gente levantar todos os dias dos escombros, para que renasça um pedaço de nós a cada dia”.
Desde criança, vinda de origem humilde, a atriz está envolvida no meio teatral e, com 13 anos, já escrevia peças, dirigia e participava de grupos. Até que ela resolveu fundar sua companhia. Estudou e se especializou no ramo: dança e teatro-educação. Possui Graduação em Letras, Especialização em Literatura e Ensino; e Mestrado em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
“Eu queria fazer algo que me tirasse da minha zona de conforto. Eu queria entrar na corda bamba, porque é por isso que eu luto. Porque assim…. a gente está sempre na corda bamba de alguma coisa. E eu falei: ‘Eu vou fazer mestrado, só que eu vou fazer em filosofia’”, recorda, destacando que seu filósofo é Jean-Paul Sartre e ela fala sobre o engajamento sartriano, que nada mais é do que o compromisso com a arte. “Não é uma arte do entretenimento, não é um compromisso apenas artístico, é um compromisso com a vida, porque antes de sermos artistas somos seres sociais”, explica a produtora de Maringá.
Na Cia. Pedras, Ribeiro conta que, para criar uma personagem, as pessoas precisam se autoconhecer. Elas têm de saber como funciona sua expressão facial, seu sentimento, sua voz. Entender os seus medos, anseios e a arte aos poucos vai entrando nesse caminho. “A filosofia me traz esse pensamento do que eu luto e inclusive o ‘Corda Bamba’, que é um espetáculo que eu escrevi em 2012, faz parte da minha dissertação. Porque eu mostro que é um espetáculo que tem esse engajamento, porque ele busca mostrar para as pessoas esse ser que está sempre em busca de engajar-se, ou seja, de ir para ação. Ele vai para a luta”.
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Planos para 2025
Em 2025, a Cia Pedras vai apresentar a intimista e roqueira atração “Vertigem”, que está em sua 34ª edição. É um evento independente, com cenas curtas e críticas que acontecem com exposição, música, um rock and roll ambiente. “Arte não existe só para encantar, ela existe para questionar e para fazer refletir”, diz Iara Ribeiro.
Ainda sem data definida, o Vertigem está previsto para este mês de fevereiro, na reinauguração da sede da Companhia, que ganhou um ar de “harém circense”, nas palavras de sua fundadora. Ou seja, elementos do circo desde a recepção.
Outro evento programado para o ano é o piquenique artístico, que será realizado em parques da cidade onde os alunos vão se encontrar para fazer alongamentos e troca de experiências, em exercícios lúdicos tanto de teatro quanto de circo. A previsão é a cada três meses.
Paralelamente, a Cia. Pedras mantém a rotina de ensaios de seus espetáculos. Na verdade, a Companhia nunca para de ensaiar. “Porque todo o processo criativo, aos poucos, vai ganhando formas. Conforme você vai vivendo, você vai sofrendo, você vai sorrindo, o espetáculo vai se modificando, porque o homem é isso, é essa mutação diária”, destaca Ribeiro.
Em breve, a Companhia também vai se apresentar nos projetos da Prefeitura de Maringá, caso do “Convite ao Teatro” e do “Expresso Cultural”, pois passou nos respectivos editais.
A fundadora do Pedras destaca que está com grandes expectativas, apesar de tudo o que se passou durante a pandemia de Covid-19. “Todo o sofrimento, as milhares de vidas que se perderam e como a minha arte e acredito que de muitos artistas significaram a partir deste momento. Então é uma luta diária sempre, fazer arte assim”.
Palestrante
Iara Ribeiro também é palestrante e ministra curso de capacitação para professores, um trabalho que ela exerce há um bom tempo. “Não vou dizer que está lançando, mas assim, a gente está abrindo mais esse espaço para a palestra, porque é algo que me facilita também para viajar, eu posso viajar sozinha, viajar apenas com uma pessoa da equipe”, explica a artista.
“E eu gosto muito de me conectar com pessoas. A palestra é exatamente isso, a arte para humanizar e fazer refletir. Para me conectar com as pessoas e elas entenderem que elas fazem parte disso”, completando que possibilita às pessoas se aproximarem da arte. “Quando eu dou aula, para que os meus alunos sintam que isso é verdade e quando eu palestro ou ministro cursos, que as pessoas entendam que a vida é sempre ressignificar”.
Serviço
A Cia Pedras Teatro Circo fica na Rua Vitória, 1.202, na Vila Esperança, atrás do campus sede da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Para contato, tel. (44) 9 9116-2498; e Instagram (@ciapedrasteatrocirco).