No dia em que a Companhia de Terras colocou seus agrimensores a campo para demarcar o local para a futura cidade de Marialva, já se sabia exatamente que tipo de cidade ela seria: uma cidade para uma população entre 30 mil e 50 mil pessoas, com economia calcada na produção agrícola vinda de pequenas propriedades, geralmente tocadas pela família proprietária.
Por ser dividida em propriedades rurais pequenas, a agricultura não daria muito dinheiro, mas o que desse seria para muitas pessoas. Como as propriedades são pequenas, praticamente não haveria mecanização e assim estaria garantido trabalho rural por muitas décadas.
E assim se deu. No município das chácaras não se vende grandes tratores, nem colheitadeiras de R$ 1 milhão. Também não há fazendeiros que empregam apenas um operador de colheitadeira na colheita e não tem ninguém vivendo na propriedade, não produz fazendeiros que compram caminhonetes milionárias com financiamento agrícola e nem extensivas criações de gado.
Diferente das áreas de grandes fazendas, onde poucos ganham muito e vão gastar em outras regiões, talvez até em outros países, Marialva é apenas a cidade
das chácaras, que de tão pequenas só servem para a agricultura familiar. E na mão do agricultor familiar, que não pensa em soja e gado a perder de vista, não
tem tempo para sonhar com caminhonetes cheias de caixas de som com pancadão ensurdecedor, faz de suas chacrinhas, chacarazinhas, chacarolas e os pequenos sítios plantações de flores, que são vendidas em todo o Estado, morango hidropônico de encher a boca d’água e os olhos de desejo, hortaliças que abastecem feiras e supermercados, e uva preta, vermelha, verde, com semente, sem caroço, enfim, uma produção que vai para o Ceasa de São Paulo e volta em forma de divisas que movimentam o comércio local.
Com o dinheiro nas mãos de mais pessoas, o que se pode esperar é uma sociedade se sentindo mais justa, mais igualitária, menos dividida e, por isso, mais satisfeita e mais feliz. Os reflexos disso podem ser medidos pelos números, que indicam baixo desemprego, poucas ocorrências policiais, pouca gente procurando ir viver em outro lugar.
Cerca de 100 anos depois do dia em que os agrimensores foram demarcar a área da futura cidade, vê-se que o planejamento mostrou na prancheta do urbanista a cidade que se teria um século depois e como seria o povo que nela viveria. O povo satisfeito por viver em Marialva hoje está em festa para comemorar 70 anos do município construído por muitas mãos todos dias.