Sou Alexandre de Oliveira, Licenciado em História (2012/2015) pela
Universidade Estadual de Maringá – UEM e Pós-graduado em Metodologia do
Ensino Religioso (2016) pela Faculdade São Braz – Curitiba/PR. Vou somar
com a equipe do jornal “O Maringá” onde sou colunista da “História em Pauta”
e estarei todas as semanas falando sobre temas da História em geral, trazendo
curiosidades com bases e fundamentos históricos verídicos. Vou começar
minha matéria falando do pintor, desenhista e professor francês Jean-Baptiste
Debret e sua importância na sociedade brasileira do século XIX.
Jean-Baptiste Debret ou De bret (Paris, 18 de abril de 1768 – Paris 28
de junho de 1848) foi um pintor, desenhista e professor francês. Integrou
a Missão Artística Francesa (1817), que fundou no Rio de Janeiro, uma
academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes,
onde lecionou. De volta à França (1831) publicou Viagem Pitoresca e Histórica
ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e
da sociedade brasileira no início do século XIX.Uma de suas obras serviu como
base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira republicana,
adotada em 19 de novembro de 1889 (JEAN-BAPTISTE DEBRET. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Debret. Acessado: 13/06/2022).
De acordo as autoras Pelegrini e Pimentel (2015) Debret aportou nos
trópicos em 1816, com uma formação artística bem sólida, adquirida na
Europa. Aos 48 anos de idade, deparou-se com um Brasil embrionário. Após a
morte de D. Maria I e a aclamação do rei D. João VI, o artista pintou algumas
telas encomendadas pela corte, tais como a chegada da futura imperatriz D.
Leopoldina e seu casamento com Pedro I, e a coroação de Pedro I em 1822.
Essa obra merece particular destaque porque nela o pintor revelou uma
imagem de nação moderna, representada por uma construção pictórica cuja
composição oferecia visibilidade para a liderança exercida por D. Pedro, que
surgia cercado por vários tipos humanos, ou seja, índios, brancos, negros e
mulatos. Essa obra se diferenciava muito da arte barroca predominante até
então, na qual eram privilegiadas as figuras do alto clero e da corte. Com o
desenvolvimento do Neoclassicismo, novas vogas europeias eram impostas ao
Brasil, assim como o próprio país, de certa forma, também acabava por impor
as suas. Debret havia percebido quão destoante era o cenário no qual se
encontrava: a corte nos trópicos era bem diferente da luxuosa corte de
Napoleão. Sob o calor intenso do Rio de Janeiro, o sol dos trópicos fornecia
uma bela luminosidade às exuberantes flora e fauna do país, nunca antes
vistas pelos estrangeiros. Fato que chocou muito o pintor foi à escravidão: o
negro é quem ocupava as ruas e fazia a cidade fervilhar. Essa realidade ia
totalmente contra seus princípios de liberdade, igualdade e direitos do homem.
(PELEGRINI & PIMENTEL, 2015, p. 14).
Debret viveu 15 anos no Brasil (até 1831) e nesse período organizou a
sua obra mais conhecida mundialmente: Viagem Pitoresca e Histórica ao
Brasil. Nessa obra Debret representa os costumes e o cotidiano do Rio de
Janeiro do século XIX, sobre o povo brasileiro, paisagens, sociedade, cultura e
arquitetura do Brasil. As principais características de Debret estão relacionadas
ao estilo romântico. Mas as artes plásticas do pintor o consideram como um
pintor neoclassicismo.
O neoclassicismo foi um movimento cultural nascido na Europa em
meados do século XVIII, que teve larga influência na arte e cultura de todo o
ocidente até meados do século XIX. Teve como base os ideais do iluminismo e
um renovado interesse pela cultura da Antiguidade clássica, advogando os
princípios da moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os
excessos decorativistas e dramáticos do Barroco (NEOCLASSICISMO.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoclassicismo Acessado:
13/06/2022).
Nesse contexto podemos entender que Debret entes de morar no Brasil,
retratou a França em temas religiosos e bélicos voltados ao imperador francês
Napoleão Bonaparte. Após a sua vinda ao Brasil o pintor usou os costumes
cotidianos (Rio de Janeiro – século XIX), onde mostravam paisagens, cenas
cotidianas e a cultura do povo brasileiro. Em suas obras as cores são vivas,
suas aquarelas mostram sentimentos e emoções das figuras retratadas. Debret
sendo um pintor detalhista buscou retratar com um olhar clínico todos os
aspectos presente em sua volta. Esse olhar retrata bem o individualismo,
sendo um fator primordial das obras românticas.
Segundo as autoras desse capitulo, Debret passa a pintar cenas do
cotidiano, e tudo o que via era esboçado em papel. Nos 15 anos em que viveu
no Brasil, não só retratou todo o Rio de Janeiro, mas também boa parte do sul
do país, durante suas viagens e comitivas. As dificuldades encontradas eram
imensas: a tinta era um artigo muito escasso e de má qualidade no Rio de
Janeiro, além de seu alto preço; e o clima também não favorecia muito a
pintura a óleo (PELEGRINI & PIMENTEL, 2015, p. 14).
Nesse capitulo do livro as autoras relatam o Carnaval (Dia d’Entrudo).
Jean-Baptiste Debret. Aquarela sobre papel; 18 x 23 cm, Rio de Janeiro (1823)
– Museu Castro Maya (Rio de Janeiro).
Segundo as autoras1 Debret descreve sua aquarela do dia d’Entrudo em
sua obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839). Essa cena de
Carnaval integra a prancha 33 do primeiro tomo de sua obra:
Eis, em resumo, a história do carnaval brasileiro; quanto ao episódio
aqui desenhado, eis a explicação: a cena se passa à porta de uma
venda, instalada como de costume numa esquina. A negra sacrifica
tudo ao equilíbrio de seu cesto, já repleto de provisões que traz para
seus senhores, enquanto o moleque, de seringa de lata na mão, joga
um jacto de água que a inunda e provoca um último acidente nessa
catástrofe carnavalesca. Sentada à porta da venda, uma negra mais
velha ainda, vendedora de limões e de polvilho, já enlambuzada, com
seu tabuleiro nos joelhos, segura o dinheiro dos limões pago
adiantado que um negrinho, tatuado voluntariamente com barro
amarelo, escolhe, como campeão entusiasta das lutas em
perspectiva.
Além disso, acrescenta:
Perto deste e da porta pequena da venda, outro negro, orgulhoso da
linha vermelha traçada na testa, adquire um pacote de polvilho a um
pequeno vendedor de nove a dez anos; em cima, uma negra dispõe
se a vingar com um limão o punhado de polvilho que lhe recobre a
face e parte do olho; ao lado da mesma porta, outro negro,
grotescamente tatuado, está de tocaia. O vendeiro, tendo retirado
precipitadamente todos os comestíveis que de costume expõe à sua
porta, deixou tão somente garrafas cobertas de palha trançada,
abanadores e vassouras. No fundo do quadro pode-se observar
famílias tomadas da loucura do momento, uma vendedora ambulante
de limões, negros lutando e um pacífico cidadão escondido atrás de
seu guarda-chuva aberto e que circula por entre restos de limões de
cera. (DEBRET, 1978, p. 301-302, v. I).
Contudo, Debret conseguiu retratar o nosso país por registar fielmente a
paisagem, as espécies de animais e vegetais e a vida e os costumes cotidianos
do Rio de Janeiro do século XIX. A sua viagem pitoresca também mais tarde foi
boa parte do sul do país, durante suas viagens e comitivas, houve dificuldades
decorrentes ao clima e o preço alto da tinta de má qualidade conforme
relatados no capitulo pelas autoras. Entretanto, o pintor mesmo com essa
dificuldade conseguiu representar a realidade de um país totalmente exótico e
novo, com uma estética perfeita do neoclassicismo em busca do romantismo e
a sensação de converter a realidade brasileira através da pintura.
1
Aos olhos de um estrangeiro: a sociedade brasileira e as festas carnavalescas nas aquarelas
de Debret. Capítulo 01. Sandra C. A. Pelegrini e Mariane Tutui Pimentel– Maringá: Eduem,
2015, p. 18.
JEAN-BAPTISTE DEBRET. Disponível:<https://pt.wikipedia.org/wiki/JeanBaptiste_Debret>. Acesso: 13 jun. 2022.
PELEGRINI, Sandra C. A. & PIMENTEL, Mariane Tutui. Aos olhos de um
estrangeiro: a sociedade brasileira e as festas carnavalescas nas aquarelas de
Debret. Capítulo 01. História das Artes Coleção História e Conhecimento.
Maringá: Eduem, 2015.