Um relatório apresentado na ONU sugere que a junta militar de Mianmar teria importado “pelo menos US$ 1 bilhão em armas e materiais relacionados de países como Rússia, China, Cingapura, Tailândia e outros, desde o golpe de fevereiro de 2021.”
Uma parte do equipamento foi usada para “atrocidades” cometidas contra civis, disse o relator independente sobre Mianmar, Tom Andrews.
Responsabilidade pelas atrocidades
Ao apresentar o documento no Conselho de Direitos Humanos, Andrews disse que as armas continuam a fluir para os militares, apesar do que chamou de “provas esmagadoras”. Ele indica que algumas dessas evidências apontam para delitos que podem configurar crimes de guerra e contra a humanidade.
O especialista menciona ainda a atuação de traficantes de armas, nesse grupo de países, a quem considera “essenciais para a operação contínua das fábricas de armas mortais dos militares de Mianmar, comumente chamadas de KaPaSa”.
Andrews enumera o que chama de “atos de brutalidade” alegadamente cometidos pela junta, incluindo um ataque aéreo de 11 de abril onde foi usando um caça russo Yak-130 em uma cerimônia com cerca de 300 opositores do governo militar.
O episódio foi imediatamente seguido por um ataque do russo MI-35 e apoiado por helicópteros. O perito disse que pelo menos 160 pessoas foram mortas no evento, incluindo muitas crianças.
Traficantes de armas
As metralhadoras e bombas usadas nos ataques continham peças e materiais de empresas localizadas nesse grupo de países.
Mianmar é marcado por confrontos a seguir à crise política na sequência da tomada do poder pelos militares. A ação provocou protestos pacíficos generalizados pelo país, reprimidos pelas forças de segurança.
Andrews disse que houve pelo menos 22 mil presos políticos desde o golpe. Cerca de 3,5 mil civis foram mortos e 1,5 milhão de pessoas deslocadas à força.
O relatório documenta mais de 12,5 mil aquisições enviadas diretamente para os militares de Mianmar. As transações de armas também envolvem traficantes que atuam desde a queda do governo incluía a conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi.
Informações altamente confiáveis e detalhadas
Para Andrews, o volume e a variedade de equipamentos recebidos pelos militares foram “assombrosos”. A lista inclui caças, helicópteros de ataque, drones, sistemas avançados de mísseis, atualizações para tanques, equipamentos de comunicação sofisticados, complexos de radar e componentes para navios de guerra.
Andrews disse ter recebido “informações altamente confiáveis e detalhadas de fontes confidenciais” que identificam as principais redes e empresas envolvidas no comércio de armas com Mianmar.
O relatório entregue ao Conselho de Direitos Humanos revela gastos de US$ 406 milhões em armas e material em aquisições de equipamento para o Exército de Mianmar a partir da Rússia.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.
Fonte: Organização das Nações Unidas