Não são apenas os italianos que gostam de produzir quadrinhos/filmes sobre o western (vide Tex, Django e companhia ilimitada), esse gênero norte-americano por excelência no cinema. A criação franco-belga “Blueberry” se tornou um clássico nas mãos da lendária dupla Jean-Michel Charlier e Jean Giraud (que mais tarde se tornaria mundialmente conhecido como Moebius).
Mas, no Brasil, os leitores nunca tiveram a oportunidade de ler toda a saga. É uma lacuna que a editora Pipoca & Nanquim pretende sanar com o lançamento de uma coleção integral e definitiva desse marco dos quadrinhos europeus.
Programado para 30 de junho deste ano, o volume 1 de “Blueberry” está em pré-venda na Amazon por R$ 167,90. Trata-se de edição de luxo, com 484 páginas coloridas impressas em offset, capa dura e formato grande. Reúne três (das nove) edições integrais francesas, que trazem os álbuns: “Forte Navajo”, “Tempestade no Oeste”, “Águia Solitária”, “O Cavaleiro Perdido”, “Na Pista dos Navajos”, “O Homem da Estrela de Prata”, “O Cavalo de Ferro”, “O Homem do Punho de Aço” e “A Pista dos Sioux”.
Segundo informações, no início de cada etapa de um integral francês entra um vasto conteúdo extra, que conta os bastidores da concepção do personagem e dos seus coadjuvantes, além da contextualização da época e a maneira como seus criadores se envolveram com a obra.
Tida como uma das principais obras do gênero faroeste, “Blueberry” é um relato contundente e detalhado da epopeia do tenente Mike Steve Donovan, mais conhecido como Blueberry, enquanto serve ao exército norte-americano em uma região do país assolada de forma contumaz por conflitos sangrentos entre brancos e indígenas, durante o desenfreado desbravamento do Oeste, após os eventos da Guerra de Secessão.
“Lançada originalmente em 1963, por influência de faroestes clássicos como ‘Sangue de Heróis’ e ‘Rio Bravo’ e da paixão dos autores pelo tema, ‘Blueberry’ não se limita a beber de suas fontes, tornando-se, ao longo da sua narrativa, ela própria inspiração e referência sobre como retratar o famigerado Oeste Selvagem, de modo a hoje alcançar todos os tipos de expressões artísticas, para além dos quadrinhos”, diz o material de divulgação.
“Drama, aventura, suspense, denúncia, romance… Este projeto monumental não só reúne centenas de cenas de ação de tirar o fôlego, com duelos mortais de armas de fogo, eventos históricos e combates a cavalo, como também propõe reflexões atuais e pertinentes, com suas mensagens antimilitarista e anticolonialista, entregues com louvor por seu carismático protagonista anti-herói”, complementa.
Autores
Jean-Michel Charlier (1924-1989) nasceu na Bélgica e tem em seu currículo mais de 500 roteiros devotados à televisão, rádio e quadrinhos, sendo que até os dias de hoje é considerado um dos mais importantes escritores de histórias em quadrinhos franco-belgas, por ter sido o criador do ofício de roteirista profissional de HQs por lá e criado tantas obras-primas.
Nos anos de 1940, ele entrou para a equipe da revista Spirou, na qual desenhou a série de destaque “Bucky Danny”. Ao conhecer o famoso desenhista Jijé (pseudônimo de Joseph Gillain, autor de “Jerry Spring” e “Spirou & Fantasio”), decidiu abandonar a arte e dedicar-se somente à produção de roteiros. Foi um dos fundadores da famosa revista Pilote, ao lado de Albert Uderzo (“Asterix”) e René Goscinny (“Asterix”, “Lucky Luke”). Além de “Blueberry”, participou das séries La Patrouille dês Castors, Marc Dacier, Barbe-Rouge, Tanguy et Laverdure e Le Démon des Caraïbes.
Jean Giraud (1938-2012), também conhecido como Moebius, é o mais influente nome dos quadrinhos franceses dos últimos 50 anos. Começou a trabalhar na área aos dezoito anos e tornou-se famoso ao desenhar a série de faroeste “Blueberry”, iniciada em 1963. Mas sua reputação mundial veio nos anos de 1970, quando ajudou a fundar a paradigmática revista de fantasia e ficção científica “Métal Hurlant”, onde deu vazão às suas mais mirabolantes ideias com um estilo de desenho imaginativo, surreal e completamente inovador.
A consagração definitiva de Moebius chegou com o lançamento de “Incal”, em 1980. Além de centenas de HQs, também colaborou com diversos filmes, como “Alien: O 8º Passageiro” (1979), “Tron” (1982) e “O Quinto Elemento” (1997). Entre seus admiradores estão Federico Fellini, George Lucas, Stan Lee, Hayao Miyazaki, Jiro Taniguchi e Katsuhiro Otomo.