De fábrica do mundo à celeiro de inovação

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 (crédito: banco de imagens Pexels)

Você já ouviu falar sobre o Made in China 2025? Trata-se de um plano executado em estágios, que visa transformar a China em uma potência global. Entre as pretensões da fase atual nota-se uma atenção especial às diferentes áreas tecnológicas, visando reduzir a dependência na importação de tecnologia estrangeira.

Não por acaso, em dezembro de 2020, o país anunciou dois grandes feitos repercutidos mundialmente: a conquista da supremacia quântica e a inauguração do seu “sol artificial”, um reator nuclear que possibilitará explorar a fusão nuclear como fonte de energia limpa. Estes e outros projetos bem-sucedidos da área de tecnologia representam a colheita de anos de investimento no setor.  

O projeto para tomar a dianteira na corrida tecnológica não se limita apenas aos experimentos laboratoriais e incubadoras tecnológicas. A inovação também é observada na prática. A vida e rotina do chinês são completamente impactadas pelo tech. É como se o país estivesse em um constante “upgrade”. Inovações nas áreas econômicas, na saúde, na educação, nos meios de produção e nas ações governamentais acontecem o tempo todo. A China está deixando de ser uma mera fábrica do mundo e transformando em um celeiro de biotecnologia, robótica, engenharia aeroespacial e automotiva, energia limpa, inteligência artificial e indústria 4.0.

Para explorar um pouco mais as transformações que aconteceram na China nos últimos anos e sua meteórica ascensão tech conversamos com Ignácio Leopoldo Wisoczynski Reboledo, 25, que morou por sete anos em Pequim, capital do país. Ele, que no Instagram é @ignaciolwr, mora momentaneamente em São Paulo e é um dos fundadores do Instituto QI China, uma escola voltada a atender à crescente demanda pelo mandarim. Em alta, o idioma chinês atrai principalmente interessados no setor tech e de negócios. A escola tem representantes na China, no Brasil e na França e iniciou no último mês de dezembro ações no Instagram (@qichina) e Youtube (Instituto Qi China). As mídias sociais servem de apoio para difundir e desmistificar a língua e a cultura chinesa. 

Confira a nossa conversa sobre os impactos tecnológicos na vida deste povo tão peculiar.

 

Admirável Mundo Novo: Como começou sua jornada na China?

Ignácio: Aos 16 anos terminei o ensino médio e fui à China de mala e cuia. Tinha a intenção de aprender o idioma. Consegui bolsa integral e me tornei o primeiro brasileiro nativo graduado na Universidade de Pequim, com formação em artes liberais – foco em Literatura e Linguística Chinesa. Foi desafiador, mas faria tudo de novo se necessário.

 

Por que a China?

Saí do interior do Brasil e tinha muito medo de seguir com a realidade em que eu estava inserido. O Brasil possui uma economia muito travada, fraca liberdade econômica, pouco incentivo para quem quer empreender, o que me incomodava muito. Em 2011 ouvia-se muito do crescimento chinês, e escolhi Pequim. Explorar novos horizontes, desvendar o perigo do “socialismo”, cair de corpo e alma na cultura chinesa, me empolgaram demais. Quando cheguei foi paixão à primeira vista. Em vez de me deparar com uma culinária bizarra e sistema autoritário e opressor, vi ruas e viadutos gigantescos, prédios imensos, pratos deliciosos… Hoje a tecnologia já está incorporada no cotidiano do povo chinês.

 

Por que a China teve este avanço tecnológico tão expressivo nos últimos anos?

Para obter avanço tecnológico é necessário ter um ambiente colaborativo. Ao longo da história os chineses passaram por períodos de pobreza catastróficos, mas entenderam a importância de gerar riqueza enquanto povo. Eles trabalham duro para construir riqueza. Existe estímulo de mercado e concorrência, o ensino é de melhor qualidade. Era questão de tempo para que se tornassem líderes na revolução tecnológica. Já lideram a nova era de inovações tecnológicas em nível mundial, passando até os Estados Unidos em número de patentes registradas e “unicórnios” surgindo. A ideia de a China dominar o mundo com sistema de créditos e o Made in China é coisa do passado. Eles vão dominar o mundo com a inovação tecnológica.

 

Durante sua estadia quais aspectos tecnológicos mais chamaram sua atenção na China?

Presenciei o salto da era industrial e agrícola para a de inovação tecnológica. Até 2012 me comunicava com meus amigos por SMS. Por lá, em menos de um ano, passei a usar o Wechat (um aplicativo chinês semelhante ao Whatsapp). Em 2014 começamos a usar carteiras digitais: o WechatPay, da Tencent; e o Alipay, da Alibaba. No mesmo ano já era praticamente obrigatório possuir ambas no celular para transações básicas, deixando de lado o uso do dinheiro vivo. No último ano da universidade eu saía de casa abrindo a porta com uma chave digital. Pagava o bilhete do metrô, o cafezinho, tudo por aproximação do celular, em um estabelecimento 100% automatizado. Compras online, sistema de entregas, ensino remoto, consultas médicas virtuais até uso de Blockchain e inteligência artificial, são realidades que os chineses já vêm experimentando há um tempo.

 

Sendo cofundador da QI China, como avalia a crescente procura pelo aprendizado do mandarim?

Comecei o projeto do Instituto QI China para preparar os brasileiros para a realidade do futuro. Os conglomerados gigantescos chineses vão procurar economias emergentes como a nossa para operações internacionais. Eles querem brasileiros que falem mandarim. A China forma anualmente milhares de graduados em letras/português. No Brasil apenas uma instituição de ensino superior promove formação em chinês: a USP (Universidade de São Paulo), que oferta 15 vagas por ano. É pouco frente à demanda que só cresce. 

 

Quais mudanças você observa que a China está experimentando por conta de seu avanço tecnológico meteórico?

A vida fica mais confortável e todas as formas de serviços estão mais acessíveis a cada dia que passa. A democratização do conhecimento está aumentando devido ao uso da tecnologia juntamente com a forma de expressão nas mídias, cada vez mais calorosas. Como o Partido Comunista Chinês continuará a lidar com a liberdade de expressão é um ponto interessante a se acompanhar. Tem muita novidade vindo por aí. Com a tecnologia fazendo parte da realidade deles, se nota um crescimento do patriotismo entre os chineses.

Ignácio Reboledo – @ignaciolwr  durante sua temporada de estudos na China. 

Crédito: Arquivo Pessoal

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