Oshi no Ko não é apenas uma obra fascinante — é uma experiência que abala as emoções e mexe com as percepções do público. Criado por Aka Akasaka (Kaguya-sama: Love is War) e ilustrado por Mengo Yokoyari (Kuzu no Honkai), o anime se destaca por sua capacidade de desconstruir a fachada glamorosa da indústria do entretenimento e expor as realidades cruéis que sustentam esse mundo. Mas o que faz dele o anime mais perturbador? É a combinação de temas profundos, reviravoltas chocantes e uma crítica social que atinge em cheio.
Vamos explorar os motivos que fazem de Oshi no Ko uma obra tão impactante, tanto para os fãs de anime quanto para os que buscam histórias que desafiem sua visão do mundo.
1. O choque inicial: uma reviravolta de tirar o fôlego
Logo no primeiro episódio, Oshi no Ko entrega uma das reviravoltas mais impactantes da história do anime. O público é apresentado à doce e enigmática Ai Hoshino, uma idol em ascensão que esconde segredos profundos, como a maternidade em segredo. Mas o que parecia ser uma história leve rapidamente se transforma em uma tragédia quando Ai é assassinada de forma brutal por um fã obcecado.
A morte de Ai, que ocorre diante de seus filhos, Aqua e Ruby, quebra qualquer expectativa inicial e revela o tom sombrio da obra. A forma crua como o evento é retratado é perturbadora porque espelha acontecimentos reais, lembrando o público dos perigos do fanatismo e da obsessão dentro e fora da ficção.
2. A desconstrução da perfeição das idols
A cultura idol japonesa é muitas vezes retratada como um mundo mágico de luzes e alegria. No entanto, Oshi no Ko desconstrói esse mito, mostrando como as idols são exploradas, tratadas como produtos descartáveis e forçadas a esconder suas vidas pessoais para manter a ilusão de perfeição.
Ai Hoshino simboliza essa dualidade. Seu sorriso cativante, que encanta multidões, é também uma máscara que ela usa para esconder seus medos e inseguranças. O anime revela como a busca incessante por agradar ao público pode destruir a identidade e a saúde mental dos artistas.
3. Assuntos tabus e críticas sociais
Oshi no Ko aborda temas difíceis e muitas vezes evitados em animes convencionais, como exploração de artistas, assédio moral, manipulação midiática e suicídio. Cada episódio mergulha mais fundo na realidade sombria da indústria do entretenimento, trazendo à tona histórias de personagens que enfrentam traições, pressão psicológica e abuso.
Um dos momentos mais angustiantes é o arco de Akane Kurokawa, uma jovem atriz que quase comete suicídio após sofrer uma onda de ódio online. Essa narrativa reflete casos reais de cyberbullying e destaca o impacto devastador que as palavras podem ter na vida de alguém.
4. A vingança como motor da trama
Após a morte de Ai, Aqua embarca em uma jornada obsessiva de vingança para descobrir quem está por trás do assassinato de sua mãe. Essa busca coloca o protagonista em situações moralmente cinzentas, onde ele manipula pessoas e situações para atingir seus objetivos.
A complexidade moral de Aqua torna Oshi no Ko perturbador porque força o público a questionar até que ponto a sede por justiça pode justificar ações questionáveis. O anime não oferece respostas fáceis, deixando o espectador refletir sobre as consequências de escolhas movidas por ódio e dor.
5. A dualidade entre sonhos e sacrifícios
Enquanto Aqua segue sua vingança, Ruby sonha em seguir os passos de sua mãe e se tornar uma idol. Essa dualidade entre os irmãos — um movido pela escuridão e outra pela esperança — cria uma tensão constante na narrativa.
O anime mostra como os sonhos, mesmo os mais puros, exigem sacrifícios. Ruby enfrenta dificuldades para se destacar em um mercado competitivo e desumano, enquanto Aqua luta para não ser consumido por sua própria escuridão. Essa luta interna de ambos os personagens é perturbadora porque reflete a luta universal entre seguir em frente ou sucumbir ao passado.
6. Realismo brutal: uma história que espelha a vida real
O que torna Oshi no Ko especialmente perturbador é seu realismo. Embora seja uma obra de ficção, muitos dos eventos e temas apresentados no anime têm paralelos diretos com o mundo real. O assédio a celebridades, as consequências do ódio online e a exploração da juventude na indústria do entretenimento são questões que afetam pessoas de verdade.
Esse espelhamento da realidade torna cada momento da série ainda mais pesado, lembrando o público de que as situações mostradas não estão tão distantes quanto gostaríamos de acreditar.
7. A arte e a trilha sonora como amplificadores do impacto
Além da narrativa, Oshi no Ko utiliza sua direção de arte e trilha sonora para amplificar a intensidade emocional de cada cena. A combinação de cores vibrantes e tons sombrios cria um contraste visual que reflete a dualidade da história. Já a trilha sonora, especialmente a abertura “Idol” de YOASOBI, encapsula perfeitamente o tema central da série: o brilho exterior que esconde uma verdade dolorosa.
8. Uma reflexão sobre o público e o entretenimento
Por fim, Oshi no Ko perturba porque nos força a olhar para nosso papel como consumidores de entretenimento. Ele nos questiona: somos cúmplices das condições que levam artistas ao sofrimento? Ao consumir conteúdo de forma passiva, ignoramos os sacrifícios feitos para criar essas performances?
Essa autorreflexão é talvez a parte mais desconfortável de Oshi no Ko, pois nos coloca como peças integrantes do sistema que critica.
Oshi no Ko é perturbador porque vai além da narrativa convencional e toca em feridas reais da sociedade, expondo a complexidade de um mundo que, ao mesmo tempo, encanta e destrói. Ao assistir a este anime, o espectador não apenas mergulha em uma história fascinante, mas também é confrontado com questões difíceis que desafiam sua percepção sobre a indústria do entretenimento e a humanidade por trás do glamour.
Essa é uma obra que não apenas perturba, mas também transforma — uma verdadeira joia sombria que ficará marcada na memória de quem a assistir.