Projeto da Semana – Mercadão Fratello

Foto: João Claudio Fragoso

Maringá acaba de ganhar uma nova área de convivência urbana no coração da cidade. Inaugurado no último dia 10 de dezembro, o Mercadão Fratello tem acessos pela Travessa Jorge Amado e pela Avenida Herval. O escritório responsável pelo projeto é o Verri e Galvão Arquitetos, que “desenvolve projetos de diferentes escalas, […] residenciais, comerciais, institucionais, desenho de mobiliário e retrofits” sendo este último, o caso do novo empreendimento. O novo espaço é um retrofit, técnica na arquitetura que visa a atualização e modernização de espaços existentes dentro da cidade. “As intervenções mantiveram a autenticidade do armazém, impregnado de história, mas registraram expressões arquitetônicas contemporâneas, potencializando o espaço com conforto e comprometida com nosso tempo” diz Anibal, responsável pelo escritório. O empreendimento conta com diferentes atividades, em área externa e interna, visando a “ocupação e vitalidade” desse espaço. Quando totalmente ocupado, serão 21 operações comerciais, 7 restaurantes e um espaço cultural distribuídos em aproximadamente 2.600m² construídos. “Desejamos para a cidade que esse modelo de ocupação seja disseminado, promovendo uma das características mais relevantes da urbanidade que é proporcionar o encontro entre as pessoas.” Confira agora na íntegra a entrevista com o arquiteto Anibal Verri Junior sobre o projeto. 

 

Igor Mendes – Conte um pouco sobre o escritório Verri & Galvão? A quanto tempo estão no mercado, quais projetos realizam, etc…

Anibal Verri – A Verri & Galvão é uma empresa de arquitetura fundada em 1996, dirigida por mim e que, simultaneamente ao ofício de arquiteto, mantenho a atividade acadêmica na UEM.

Os projetos desenvolvidos no escritório são resultado da composição entre a interpretação do lugar, o atendimento às condicionantes, entendidas como desafios, e otimização da estrutura. Há no método, certa herança da arquitetura moderna em seu cerne, momento de expressiva produção nacional.

O escritório desenvolve projetos de diferentes escalas, reunindo em sua história trabalhos residenciais, comerciais, institucionais, desenho de mobiliário e retrofits, atendendo às demandas privadas e públicas. Recentemente, a partir dos nossos projetos, foram concluídas as obras da igreja Cristo Ressuscitado, da Galeria Tuiuti – conjunto de lojas ancorado pelo McDonald’s vizinho a Rodoviária de Maringá, unidades da rede nacional de cinema CINEFLIX, a revitalização do Shopping Cidade e o Mercadão Fratello.

O trabalho que desenvolvemos é pautado na associação das solicitações que vêm ao escritório com a postura crítica acerca da qualidade dos espaços.

Foto: João Claudio Fragoso

IM – O projeto do Mercadão Fratello é um retrofit. Quais foram os desafios pra projetar, por ser um retrofit?

AV – Projetar em espaços existentes é sempre um desafio, com camadas sobrepostas de ressignificações, sob o aspecto histórico, temporal e material. Na região, havia o antigo pátio de manobras da estrada de ferro, registrando os primórdios da cidade, e ainda se vê alguns armazéns dessa época, entre eles, o armazém do Mercadão de Maringá e o novíssimo Mercadão Fratello, ambos do mesmo empreendedor.

No terreno que intervimos, encontra-se um armazém de 1963, com 1.000,0m² em alvenaria, e com uma cobertura metálica muito leve. Após a compreensão do lugar, propusemos a recuperação da cobertura e com uma lateral da metálica da cobertura estendida, desenhamos um shed, possibilitando a entrada de luz natural com a completa substituição das telhas, originalmente de fibrocimento por metálicas térmicas. As intervenções mantiveram a autenticidade do armazém, impregnado de história, mas registraram expressões arquitetônicas contemporâneas, potencializando o espaço com conforto e comprometida com nosso tempo.

IM – Eu fiz uma visita ao empreendimento e percebi pelo menos três ambientes diferentes no espaço. Como foi o processo de setorização, usos e acessos ou fazer o projeto?

AV – Gostaríamos de registrar que, ao iniciar o projeto, há uma condição indissociável de análise entre o edifício e a cidade, ou, entre a arquitetura e o urbanismo. Esse endereço é o coração de Maringá e, portanto, possui alto fluxo de pessoas, condição recorrente nos centros urbanos. Com a decisão da valorização do armazém existente, por meio do retrofit, uma característica vital para o empreendimento e para a cidade, é a liberdade dos fluxos, possibilitando seu acesso por duas vias: a travessa Jorge Amado, uma via peatonal pública e a avenida Herval.

O projeto de arquitetura se desenvolveu na organização dos espaços, possibilitando a fruição urbana livre entre as vias. Na conexão do armazém com a Herval, propusemos um open mall, com oito metros de largura, numa continuação da cidade dentro do empreendimento, com lojas voltadas para a rua e com delicadas praças e largos, equipados com mobiliário urbano e exuberante paisagismo.

No armazém foi proposta a Arena Fratello, um Espaço Cultural, objetivando acolher com a arquibancada e palco, uma diversidade de programas artístico-culturais, ações que vão complementar o empreendimento de vida, com seus bares e restaurantes, imprimindo plena ocupação e vitalidade no lugar. Ainda, complementando a atividade pulsante gastronômica do empreendimento, um – pergolado/avarandado – nas extensões dos restaurantes.

Foto: João Claudio Fragoso

IM – Na visita também notei a utilização de elementos que remetem a biofilia na arquitetura, como água, pedras naturais e um cuidado com a vegetação na área externa. Essa foi uma das intenções do projeto?  

AV – Nosso método de projeto sempre busca a interrelação das soluções dos espaços com as matérias naturais: a pedra, a madeira, o verde, luz e vento, esses elementos vão compor nossos espaços. No Fratello não seria diferente! A conexão com a natureza é sensível e dessa forma, o projeto possibilitou que um conjunto de lojas estivesse aberto à rua interna, relacionando-se com o sol e chuva, com o vento, frio e calor, luz e sombra. O empreendimento assume feições distintas conforme as estações do ano, como um jardim, teremos a florada, o barulhinho bom da água em cascata, ou os espirros do chafariz, que faz a farra da criançada. Essas lojas voltadas à rua, contam com um beiral de proteção aos usuários.

Foto: João Claudio Fragoso

IM – Notei que as divisórias entre os estandes são em drywall, e a estrutura externa em steelframe. Porque a escolha desses sistemas construtivos?

AV – Esse sistema construtivo foi uma sugestão do projeto, desencadeando uma obra seca, racionalizada, e esses aspectos foram bem recebidos pelo empreendedor. O projeto assumiu o sistema construtivo sem veladuras e a obra teve sua montagem rápida e controlada com estrutura metálica. Os fechamentos/vedações, tanto na cobertura como nas paredes, são painéis metálicos térmicos pré-pintados, a divisão entre as operações comerciais em dry wall. Até mesmo a arquibancada, equipamento do espaço cultural, os mezaninos dos restaurantes são em estrutura metálica e piso wall. Conforme uma galeria comercial, cabe agora a cada lojista, a organização de sua operação.  

Foto: João Claudio Fragoso

IM- Qual o impacto que esse novo espaço traz para a cidade e para o local onde está inserido?

AV – O trabalho do arquiteto deve contar com certa imprevisibilidade das relações, pois, uma coisa é planejar, outra, é ver a vida se desenvolvendo nos espaços.

Nesse trabalho, temos recebido um ótimo retorno dos usuários, sabendo que as famílias passeiam com as crianças e com os pets, apropriando-se da transitoriedade desse espaço. É uma prazerosa sensação ver que o planejamento foi traduzido em vida em movimento! Desejamos para a cidade que esse modelo de ocupação seja disseminado, promovendo uma das características mais relevantes da urbanidade que é proporcionar o encontro entre as pessoas.

 

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