A cultura do marketing digital

Ouvi certa vez de uma influencer digital: “primeiro o cliente compra você, depois o que você faz”.

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Atualmente, toda pessoa é uma vitrine. Isso é uma consequência do fato de que tudo que se faz, fala e deseja, tornou-se publicável nas redes sociais. E embora a necessidade de se promover socialmente sempre tenha sido vantajosa, seja para encontrar com mais facilidade um romance amoroso, para conseguir um melhor cargo, para engajar o seu negócio, etc., hoje em dia as coisas estão ficando cada vez mais avançadas porque não basta ser bom no que se faz, mas também saber como divulgar, apresentar e mostrar ao público o quanto se é bom nisso.

Como o leitor até aqui pôde perceber, essa é uma das discussões contemporâneas mais difíceis de se lidar, por isso pretendo trazer reflexões filosóficas sobre ela. A seguir vou numerar três aspectos principais de como eu enxergo o tema.

α) A questão psicológica: aqui está um ponto muito difícil de se contornar, pois o que acontece é que muitos profissionais de diferentes áreas simplesmente não se dão bem com aparelhos eletrônicos ou se sentem velhos demais para usá-los. Eles têm vergonha de expor seu rosto na frente da câmera, de falar com o público, medo de julgamentos reprobatórios e continuam na espera de que seus clientes serão atraídos por seus diplomas ou pela fachada bonita que colocaram na frente da sua clínica ou consultório. Mas isso não acontece nunca, porque a verdade é que as pessoas realmente estão o tempo todo no celular. Seja no banheiro do MC Donald, na mesa do jantar, na cama, na frente da esposa, na frente do marido, na frente dos filhos. A maior parte de nossas relações tem sido através da tela – isso nem é mais novidade para ninguém. O celular é como um apêndice inseparável do corpo, deixamos um olho no mundo e outro nele, por isso, as propagandas têm de ser mais bem direcionadas na internet do que em qualquer outro lugar. Se um profissional quer se inserir no mercado e deixar sua propaganda online no segundo plano porque tem problemas psicológicos com a tecnologia é melhor tentar resolver isso muito rápido, já que cada pessoa é também o seu negócio e sua própria vitrine. Ouvi certa vez de uma influencer digital muito famosa: “primeiro o cliente compra você, depois o que você faz”.

Um exemplo: Boca Rosa é o nome de um canal do YouTube de uma maquiadora chamada Bianca Andrade. Nos últimos 10 anos ela saiu do absoluto anonimato para se configurar como uma das pessoas de maior sucesso do Brasil. O nome do seu canal também se tornou o nome da sua marca. Bianca Andrade vende produtos destinados às mulheres vaidosas, ou seja, quase todas. O fato é que a marca Boca Rosa vende tanto quanto a Natura ou o Boticário mesmo sendo relativamente nova em relação as duas últimas. Isso acontece porque as pessoas não estão comprando da marca Boca Rosa, mas sim da pessoa Bianca Andrade que passa o dia todo mostrando sua vida nos storys. Portanto, no marketing digital o nome social se confunde com o nome pessoal.

Diante desse cenário, não há nenhuma perspectiva de que o marketing do futuro não continue sendo cada vez mais feito na internet. Até as redes de televisão mais famosas estão se adaptando a ela com acréscimos de QR Codes nas laterais de propagandas e divulgações de suas mídias sociais durante seus programas de entretenimento. Se você ainda não percebeu isso, significa que não têm assistido muita TV (talvez por ser mais atraído pelo celular), ou simplesmente porque não se atenta as tendências do marketing e da propaganda.

β) A ideologia por trás de toda postagem: tudo que você faz, fala e compartilha com seus seguidores na internet esconde um fundo ideológico. Isso já é uma linha de estudos bem clássico na Filosofia (quem quiser ir até o fundo disso basta pesquisar pelos filósofos Theodor Adorno ou Max Horkheimer, pois ambos estudaram com profundidade as propagandas nazistas, stalinistas, socialistas e também o fetichismo do capitalismo que crescia muito no século passado).

A questão é que não dá para velar ou esconder as suas preferências políticas para um bom analista, e o que acontece é que o seu potencial cliente que está analisando seu perfil e suas postagens é esse bom analista. Ele pode até parar de gostar de você por perceber sua demonstração de comportamento, revelando-se ser muito progressista ou muito conservador.

Ninguém precisa ficar expondo sua opinião política na internet – também não é obrigado a mantê-la em segredo – porém, é bom ter muito cuidado para que você não desagrade um possível cliente. Por isso, nada de postar foto do seu candidato preferido ou de fazer textos criticando um político qualquer caso seu negócio não tenha nada a ver com política. Isso pode ser o motivo da sua falência e do seu fracasso nas redes sociais, porque por mais que você possa encontrar pares políticos com sua militância e também um grande engajamento, talvez o público alvo do seu produto ou serviço não concorde com sua colocação e então preferirá comprar do concorrente, que ao invés de postar sobre política, mantêm apenas seu aspecto de autoridade diante do negócio, serviço ou produto em questão.

γ) A imagem pessoal: aqui está um ponto muito importante porque não é apenas o seu texto e sua fala que irão ser decisivos para que um cliente compre de você ou não, mas também a sua imagem. Exemplo: como uma mulher poderia fazer um procedimento estético com uma profissional que aparecesse nos seus storys com uma roupa desleixada? Mesmo que isso não apresente um problema muito claro e consciente, no fundo, as pessoas estão sempre analisando nossa imagem. Uma boa imagem sorrindo e num lugar chique pode render e chamar atenção de clientes chiques, porém, do mesmo modo, uma imagem mal editada, com uma roupa chula e num lugar que não tenha nada de chamativo pode espantar qualquer possível cliente.

Conclusão dessas três reflexões: a subjetividade e também a forma que temos de nos portar quando estamos online nas redes sociais representa aquilo que somos para os olhos dos outros. No caso daqueles que precisam realmente postarem porque isso é importante para o seu sucesso profissional e financeiro (como é o caso da grande maioria das pessoas), os riscos de parecer estranho aos olhos dos outros aumentam ainda mais. E aí então é preciso ficar se equilibrando entre aquilo que se é e aquilo que tem de parecer para os outros. O problema é grave porque engloba as três questões aqui tratadas resultando no fato de que o indivíduo pode surtar psicológicamente por não estar agradando ninguém, além disso, na busca de ser agradável, ele acaba se desagradando, e pior, se degradando. O mundo está doente e uma das doenças é a própria internet.

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