Lições da tempestade

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Na madrugada do último dia 22, nós, moradores de Maringá, fomos surpreendidos por um vento torrencial que causou destruição em toda parte. Com cada pessoa que se conversa ouve-se um relato particular sobre aquela fatídica noite de sexta-feira: tal fulano diz que acordou com o zumbido da janela, outro, diz que foi o alarme do vizinho que disparou e não parou mais, há ainda aqueles que relatam terem presenciado o barulho de postes e árvores caindo. Depois, na manhã do dia 23 pudemos ver os estragos. Conversei com um senhorzinho ao redor de uma dentre as tantas árvores caídas, ele relatou-me que mora na cidade há mais de 30 anos e nunca viu nada igual. Todos os bairros centrais passaram o sábado todo sem energia e internet. Ficou bem difícil não poder usar o cartão de débito ou crédito; pessoas abandonavam com revolta seus carrinhos de compra no supermercado; os caixas eletrônicos não estavam funcionando, por isso, não era possível sacar o dinheiro vivo; os sinais de trânsito também pararam. Foi um verdadeiro caos, todos sabem.

      Pois bem, dado esse prefácio que relata sucintamente um dos últimos acontecimentos de Maringá, quero, a partir daqui, expor algumas reflexões sobre o caso.

       Não apenas Maringá, mas o Brasil todo e também grande parte do mundo possui um problema de estética e segurança quando o assunto é energia elétrica. A utilização de postes e fios de energia que cruzam cidades, ruas e avenidas é um prato cheio para a desestabilização elétrica depois de ventos e tempestades, e isso é ainda pior se tratando de Maringá, uma das cidades mais arborizadas do Paraná. Pensando no longo prazo, uma possível solução para o problema seria a instalação de sistemas de fiação subterrânea: isso contribuiria não apenas para evitar as quedas de energia, mas também para a estética da cidade, como já acontece na região central das cidades de São Paulo, Londres, Paris e Buenos Aires (Cf. MuseuWeb).

        As desvantagens das fiações subterrâneas são o alto custo de implantação e a dificuldade de manutenção pela complexidade de localização do defeito, no entanto, outro fato é que o Brasil, segundo análise da Agência Internacional de Energia (IEA), baseado em números de 2018, ocupa a segunda posição entre os países que pagam a tarifa de energia mais cara do mundo (só perdemos para a Alemanha). Portanto, em vista disso, poder-se-ia talvez supor que por pagarmos caro, investir alto em implantações de melhorias no sistema de abastecimento de energia não deveria ser um problema. Mas não é esse o caso. O que acontece na verdade é que ninguém está pensando em fiação subterrânea, isso nem sequer é considerado já que estamos realmente habituados com a ambientação tosca das paisagens dos fios e postes de energia.

            Outro fator a ser considerado em relação ao já referido sábado dia 23 é o fato de que de algum modo, ficar um dia todo sem internet, sem energia e também sem televisão, fez com que as pessoas pudessem conviver de um modo mais próximo; sejam os pais com os filhos, um vizinho com outro, um transeunte e outro, etc. Deu para sentir o clima diferente daquele dia – o leitor poderá puxar na sua memória e relembrar. Reunimo-nos em volta das árvores caídas para falarmos do vento e do caos geral da cidade. Nos prédios as pessoas se aglomeraram para saber como iriam abrir os portões eletrônicos para saírem com seus carros. Parece-me, portanto, que esses momentos, embora tenham muito de transtorno, de revolta e também de graves prejuízos financeiros para muitos, eles ainda podem nos ensinar certas lições e, principalmente, que estarmos mais próximos, com energia elétrica ou não, é sempre muito bom.

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