O papel da esperança na política

formacao reconstruir a esperanca 768x576 1

Clique aqui e receba notícias pelo WhatsApp

Clique aqui e receba as principais notícias do dia

A esperança é a virtude dos tempos difíceis. Mas em termos sociais e políticos, há, houve ou haverá tempos fáceis ou não difíceis? Eu creio que não, por isso a esperança é, foi e sempre será essencial tanto para o âmbito individual como para o coletivo. Em verdade, ela nos faz manter firmes e confiantes para um almejar de futuro mais ameno, menos problemático.

Politicamente a esperança é oca e vazia de significado para aquele que não tem clareza em relação aos seus próprios princípios e ideologia. Isso quer dizer que é a ideologia que provoca o sentimento de unificação na formação de um corpo político que almeja alcançar seus objetivos de poder. Na ideologia, a esperança é o primeiro elemento ocultamente cultivado, é isso, por exemplo, que mantém vivo os pequenos partidos e os movimentos de pouca expressividade e relevância em termos de conquista de poder.

A ideologia é personificada na figura do político, pois este representa a esperança de confirmação e a possibilidade de se alcançar o poder no futuro próximo ou distante.

Em outras situações a esperança tem uma atuação semelhante no intelecto humano. Na religião é a salvação, a redenção ou o fim do samsara que se personifica na figura do mártir, do santo, do asceta redentor ou do salvador, por isso, tal como se espera a vitória do seu político preferido para atribuir poder à ideologia, na religião, se espera e confia no seguimento da própria fé e doutrina, para que dela venha a vitória do mártir. Noutro exemplo mais ameno, pense-se que no futebol, a esperança da vitória do jogo ou do campeonato é personificada nos jogadores, que tem seu fundamento na união da torcida em prol do amor pelo clube.

O que todos esses exemplos possuem em comum é o sentimento de socialização, união e coletivismo, pois a esperança da vitória aumenta quanto maior for o número e a força do grito da torcida no estádio; a esperança da salvação aumenta quanto maior o número e o sentimento de fé dos religiosos. No caso específico da política, que aqui é o que mais me importa, acontece que a esperança aumenta segundo qual critério?

Resposta: os critérios políticos para aumentar a esperança da vitória política são diversos, pois ela poderá crescer tanto mais dinheiro for investido numa campanha, por quanto melhores forem os argumentos e a capacidade de persuadir do político produzido e personificado pela ideologia, pelo poder de combater os oponentes e resolver os problemas públicos, pelo histórico, pela simpatia, pelo decoro nas relações de parcerias e coligações, etc.

Mas, além disso, há um elemento particular em relação à esperança política ao se pensar e almejar a vitória de um determinado candidato. Trata-se do fato de que ela cada vez mais crescerá tanto mais ela mesma for aplicada e inculcada no eleitorado, porém, isso tem de acontecer sempre de modo velado tal como o vendedor e chefe de marketing que quando quer vender um produto tende a convencer sem fazer que a propaganda seja necessariamente uma venda, mas meramente um despertar do desejo.

Portanto, quem mais for capaz de vender esperança sem necessariamente fazer com que seu discurso se pareça com esperança, mais terá sucesso e capacidade de sair vitorioso, seja nas urnas ou num debate político qualquer. Em um sentido ainda mais profundo, cabe dizer que tanto mais fácil será despertar a esperança, quanto mais ignorante forem os ouvintes, isso porque, a esperança, tratando-se de um sentimento, é, por conseguinte, contraria a racionalidade e ao pensamento reto e bem ordenado. Eis o motivo pelo qual o populismo faz sucesso e o debate dos principais políticos versa na maioria das vezes em razoabilidades de discursos pouco técnicos e de linguagem néscia: se o discurso do político for difícil demais e muito técnico, a grande maioria das pessoas, inerentemente preocupadas com a labuta diária, não poderão se conectar com esse discurso, muito menos com a ideologia e com a promessa de futuro, portanto, a esperança não é despertada nem estabelecida. Mas essa ignorância que me refiro, não tem necessariamente apenas a ver com a falta de estudo, já que como é sabido, muitas vezes não se há a oportunidade e a possibilidade de se estudar. Essa ignorância, portanto, também se encontra no âmbito moral das ações preconceituosas e reacionárias que podem encontrar pares políticos que representam e personificam uma determinada ideologia apta e com grande público para comprar e aceitar a ideia de um futuro moralmente retrógrado.

Todos querem crer que o futuro será nosso amigo ainda mais nos momentos de crise. Mas cabe um alerta: é preciso ter cuidado para não nos deixarmos enganar pela esperança que compramos e em quem a confiamos. É legítimo defendermos nossa ideologia e termos voz para expressar nossos problemas, mas é preciso sabedoria para suspender o juízo na hora de ouvir as promessas de outras ideologias. Porém, a linha tênue do cuidado, tanto em suspender sabiamente o juízo quanto em continuar crendo no que já se acredita e defende, está no fato de que não é legítimo que vendamos ou nos deixemos seduzir por aquilo que em momentos onde não estivéssemos abatidos pela crise, não acataríamos de modo algum. Por isso, a esperança não é só a virtude dos tempos difíceis, mas pode ser também o cerne de um problema para a nação inteira, podendo tornar-se fanatismo e até ufanismo.

A conclusão é que a esperança tem sim um aspecto positivo fundamental e essencial para melhor nos guiar e principalmente aliviar o nosso tormento, mas ao mesmo tempo ela surge como algo perigoso, pois facilmente pode nos enganar em relação ao que somos e acreditamos. Em termos políticos o melhor conselho para não ser esperançoso demais e para não cair do cavalo em relação à ideologia e ao candidato que se aposta é a seguinte máxima cética: “prepare-se para o inesperado!”.

Clique aqui e receba notícias pelo WhatsApp

Clique aqui e receba as principais notícias do dia

Sair da versão mobile