Bem-vindos, caros leitores, a esta mística coluna. Eu sou Almir Soares e este espaço é dedicado a trazer os ensinamentos dos antigos mestres. No presente momento estamos trazendo os ensinamentos recebidos por Madame Blavatsky, vamos a sequência da semana passada:
– Assim também, e nesse mesmo sentido, fazemos eco a King, o autor de The Gnostics, e a diversos outros arqueólogos, afirmando que as duas primeiras escolas procedem do Budismo, que é ao mesmo tempo a mais simples e a mais satisfatória das filosofias, e que resultou numa das mais puras religiões do mundo. É apenas uma questão de cronologia decidir qual dessas religiões, que diferem apenas na forma externa, é a mais antiga, e, por conseguinte, a menos adulterada. Mas mesmo isso só toca indiretamente no assunto de que aqui tratamos. Já há muito tempo antes de nossa era, os adeptos, exceto na Índia, haviam cessado de se congregar em grandes comunidades; mas seja entre os essênios, seja entre os neoplatônicos, seja, ainda, entre as inúmeras seitas dissidentes que nasceram para morrer, as mesmas doutrinas, idênticas em substância e espírito, se não sempre em forma, são sempre encontradas. Por Budismo, por conseguinte, entendemos a religião que significa literalmente a doutrina da sabedoria e que precede em muitos séculos à filosofia metafísica de SIDDHÂRTHA-SÂKYAMUNI (Nome do fundador do Budismo).
Após dezenove séculos de forçadas eliminações dos livros canônicos de toda sentença que poderia instalar o investigador no caminho correto, tornou-se muito difícil mostrar, para satisfação da ciência exata, que os adoradores “pagãos” de Adónis, seus vizinhos, os nazarenos, e os essênios pitagóricos, os terapeutas curadores, os ebionitas e outras seitas foram todos, com pouquíssimas diferenças, seguidores dos antigos mistérios teúrgicos. No entanto, graças à analogia e a um firme estudo do sentido oculto de seus ritos e costumes, podemos traçar-lhes as afinidades. Foi dada a um contemporâneo de Jesus a possibilidade de mostrar à posteridade, interpretando a literatura mais antiga de Israel, a que ponto a Filosofia Cabalística concordava em seu esoterismo com a dos mais profundos pensadores gregos. Esse contemporâneo, ardente discípulo de Platão e Aristóteles, foi Fílon, o Judeu. Como explica os livros mosaicos de acordo com um método puramente cabalístico, ele é o famoso escritor hebreu a quem Kingsley chama de Pai do Novo Platonismo. É evidente que os terapeutas de Fílon são um ramo dos essênios. Seu nome o indica – médicos. Daí, as contradições, as falsificações e outros desesperados expedientes para reconciliar as profecias do cânone judaico com a natividade e a divindade do Galileu. Lucas, que era médico, é designado nos textos siríacos como Asaya, o essaiano ou essênio. Josefo e Fílon descreveram bastante essa seita para não deixar nenhuma dúvida em nossa mente de que o Reformador nazareno, após ter recebido sua educação nas moradas essênias do deserto, e ter sido profundamente iniciado nos mistérios, preferiu a vida livre e independente de um nazaria errante, e assim se separou ou se desnazarianou deles, tornando-se um terapeuta viajante, um nazaria, um curador. Todo terapeuta, antes de deixar sua comunidade, tinha de fazer o mesmo. Tanto Jesus como João Batista pregaram o fim da Idade (O significado real da divisão em eras é esotérico e budista. Os cristãos não iniciados tão pouco o compreenderam que aceitaram as palavras de Jesus literalmente e acreditaram firmemente que ele falava fim do mundo. Já antes houvera muitas profecias sobre a era vindoura. Virgílio, na quarta Écloga, faz menção a Metatron – uma nova prole que terminará com a idade de ferro para renascer com a idade de ouro.), o que prova seu conhecimento da computação secreta dos sacerdotes e dos cabalistas, que partilhavam com os chefes das comunidades essênias o segredo exclusivo da duração dos ciclos. Esses últimos eram cabalistas e teurgistas; “tinham seus livros místicos, e prediziam os eventos futuros”, diz Munk. Dunlap, cujas pesquisas pessoais parecem ter sido coroadas de sucesso nessa direção, constata que os essênios, os nazarenos, os dositeus e algumas outras seitas já existiam antes de Cristo: “Elas rejeitavam os prazeres, desprezavam as riquezas, amavam uns aos outros em mais do que outras seitas, desprezavam o matrimônio, considerando o domínio sobre as paixões como uma virtude”, diz ele. Todas essas virtudes era pregadas por Jesus; e se devemos aceitar os Evangelhos como um padrão de verdade, Cristo era um partidário da metempsicose, um reencarnacionista – tal como esses mesmos essênios, que eram pitagóricos em todos os seus hábitos e doutrinas. Jâmblico afirma que o filósofo sammiano passou algum tempo com eles no monte Carmelo. Em seus discursos e sermões, Jesus sempre falou por parábolas e empregou metáforas com seus ouvintes. Esse hábito é também característico dos essênios e dos nazarenos; os galileus que habitam em cidades e aldeias jamais foram conhecidos por empregarem tal linguagem alegórica.
Continua…