1º Diagnóstico do Desenvolvimento da Cultura em Maringá aponta caminhos a seguir, diz secretário

Pesquisa foi realizada pelo Observatório das Metrópoles, Núcleo UEM/Maringá em parceria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico (Fadec) da Universidade Estadual de Maringá, a pedido da Secretaria Municipal de Cultura (Semuc)

Secretário de Cultura, em entrevista ao jornal O Maringá (Crédito: Cristiano Martinez/O Maringá)

Pela primeira vez, em mais de sete décadas e meia de história, o município de Maringá conta com uma radiografia a fundo do cenário cultural.

Apresentado publicamente neste mês de abril, o relatório final do 1º Diagnóstico do Desenvolvimento da Cultura em Maringá é resultado de diversas etapas como mapeamento de agentes individuais; agentes coletivos, grupos e empresas; servidores; geoprocessamento; presença de indígenas em Maringá; artistas de rua; orçamento da cultura; e equipamentos culturais e patrimônio cultural.

É um levantamento importante para o planejamento das políticas públicas do setor na cidade. “Nós, gestores de cultura, ou do poder público, ou de forma independente, temos agora caminhos a seguir”, diz o secretário de Cultura da Cidade Canção, Victor Simião, em entrevista a O Maringá.

Ele destaca que o relatório é uma ousadia da gestão Ulisses Maia, pois deixou como legado um estudo de política de Estado; e não apenas de governo. “A partir de agora, vamos estabelecer outras metodologias de trabalho”, diz Simião, destacando que esse diagnóstico estava previsto no Plano Municipal de Cultura, de 2016, mas que foi efetivado só em 2018.

O problema é que, por uma razão ou outra, os secretários municipais posteriores não fizeram o documento. No entanto, Simião e sua equipe viram que era interessante elaborar o diagnóstico; ao mesmo tempo, o Conselho Municipal de Políticas Culturais também queria esse levantamento.

Desse modo, surgiu a pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles, Núcleo UEM/Maringá em parceria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico (Fadec) da Universidade Estadual de Maringá, a pedido da Secretaria Municipal de Cultura (Semuc).

O diagnóstico foi realizado entre abril de 2022 e março deste ano por pesquisadores de diferentes áreas acadêmicas: Antropologia, Geografia, Ciências Políticas, além de contar com bolsistas para compor a equipe de pesquisa.

Segundo o atual secretário de Cultura, ente junho e agosto de 2023 um fórum ou audiência pública será convocado para discutir os dados com o Conselho Municipal de Políticas Culturais e sociedade civil.

A ideia é estabelecer prioridades da gestão municipal para resolver ou encaminhar durante esse um ano e meio de mandato do prefeito. “A gente tem de ter a humildade de saber que não vamos resolver todos esses problemas”, frisa Simião, que também é jornalista e sociólogo.

Sessão de contação de histórias, em 2022 (Crédito: Semuc)

Bibliotecas
Em um dos tópicos do relatório, a biblioteca aparece com 33,9% como melhor local onde se desenvolvem atividades culturais em Maringá. Inclusive, uma das sugestões ao final do documento é para “rever o papel das bibliotecas públicas no organograma da política cultural”.

O secretário informa que são seis bibliotecas municipais (cinco em Maringá e outra no distrito de Iguatemi), que prestaram 199 mil atendimentos ao longo de 2022. O empréstimo tradicional de obras vem caindo; mas a Secretaria tem trabalhado com projetos como o Clube de Leitura do Vestibular, desmistificando a imagem da biblioteca como um “depósito de livros”.

“Ela [biblioteca] é um local para você fazer oficinas, contação de histórias, clube de leitura, reuniões de alguma coisa que envolve livros”, defende Simião, citando dois grandes gestores de bibliotecas como exemplo para a Cidade Canção: Robert Darnton, historiador da leitura que foi também diretor da biblioteca de Harvard; e Rogério Pereira, editor do jornal paranaense Rascunho e com passagem pela direção da Biblioteca Pública do Paraná (BPP).

“Ele [Rogério Pereira] escreve um modelo que estamos tentando trazer para Maringá, que é de uma biblioteca ComVida”, trocadilho de convidar e ter vida. Aos poucos, segundo o secretário local, as bibliotecas maringaenses vêm abrindo aos finais de semana, para uso de professores e escritores.

Inclusive, o próximo projeto será “Uma noite na biblioteca”, em que as crianças poderão dormir no local e fazer atividades afins, explorando o lado lúdico da estrutura. “Entendemos que a biblioteca é uma porta de entrada para ações de políticas públicas. De cultura, principalmente”, afirma Simião, destacando que a pessoa, principalmente pobre e sem acesso a livros, entenda que aquele espaço é dele.

Como exemplo de importância, ele cita que foi investido R$ 1,3 milhão na reforma da Biblioteca do Jardim Alvorada. E, de 2021 para 2022, o orçamento foi separado com R$ 115 mil livres para as bibliotecas. “Fizemos uma das maiores aquisições de livros da história”, com destaque para autores negros e contemporâneos.

Apresentação do relatório final do diagnóstico, no início de abril de 2023 (Crédito: Secom)

‘Nunca’
Outro aspecto do diagnóstico é a frequência com que a população usufrui de atividades culturais em Maringá: nunca visitou galerias de artes e/ou museus: 86,8%; nunca assistiu espetáculos de dança: 81,1%; nunca assistiu peças teatrais: 79,5%.

Na avaliação de Simião, é problema estrutural de uma cidade que, durante muito tempo, nunca teve preocupação com políticas públicas de cultura.

No entanto, nos últimos 20 anos há o mérito do trabalho desenvolvido para reverter isso por gestores culturais como Flor Duarte, Olga Agulham, Rael Toffolo e Miguel Fernando à frente da Semuc.

Atualmente, Simião cita ações nos bairros e distritos, para que a população se sinta pertencente. Outro exemplo é um programa cuja edição de 2023 ainda não foi lançada, feito em parceria com a Secretaria de Assistência Social: Rota Cultural/Rota da Cultura, com distribuição de convites para ações culturas, beneficiando famílias em situação de vulnerabilidade social.

“Várias famílias, que nunca tinham ido ao teatro, foram pela primeira vez. O que prova que, em Maringá, existe um público que se você der na mão e criar uma independência de decisão, essa pessoa vai”, afirma o atual secretário.

Jornalista e sociólogo, Victor Simião está à frente da Semuc desde 2021 (Crédito: Arquivo/Secom)

Balanço
Em 2022, foram 718 mil pessoas atendidas em Maringá com ações culturais; só da virada de ano, na rua, 60 mil pessoas; e 40 mil pessoas em dois dias de Virada Cultural. Victor Simião quer ver, daqui a dez anos, um novo diagnóstico da cultura, para comparar as mudanças e evolução.

“Quem sabe um dia, mas é um grande sonho, zerar. Imagina, todo mundo da cidade ter visto o espetáculo, ir ao teatro, ia ser um sonho”, resume Simião.

Serviço
O Relatório Final do 1º Diagnóstico do Desenvolvimento da Cultura em Maringá está disponível para consulta pública neste link: http://www.maringa.pr.gov.br/sistema/arquivos/d7d473ca557b.pdf

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