De Al Pacino a Ian McKellen, passando por Pedro Pascal e Ralph Fiennes, a voz poderosa e única do carioca Luiz Carlos Persy está há 25 anos marcando seu ritmo cênico nos ouvidos dos brasileiros. Inclusive, ele está na nova produção maringaense “A Cápsula” (dir. Ribamar Nascimento), mostrando seu talento como ator.
Em versão nacional, esse dublador está por trás de personagens tão distintos quanto Jimmy Hoffa (“O Irlandês”), Gandalf (“O Hobbit”), Joel (“The Last of Us”), Voldemort (“Harry Potter”), entre tantos. É praticamente impossível contar a quantidade de trabalhos de Persy para séries, filmes, games e locuções em geral – ele é a voz oficial, por exemplo, do Canal Brasil na TV paga.
“São infinitos papéis. Eu acho que é resultado de um bom trabalho, dessa busca constante… eu sou obcecado pela verdade cênica”.
Mas, claro, fazer atores como Fiennes, McKellen, Pacino, Pascal ou mesmo Marlon Brando (“O Poderoso Chefão”) marcam de outra maneira. Aliás, Persy fez recentemente a dublagem de Pascal na nova série sensação da HBO, “The Last of Us”. O brasileiro já havia emprestado sua voz para o game que deu origem a esse programa no streaming.
“É um trabalho [a dublagem] que eu encaro com muita seriedade, com muito carinho e muito critério. É apaixonante”, diz Persy, destacando que, a cada dia, nova produção, tem como meta aprimorar seu ofício, em uma busca constante.
Hoje com os holofotes voltados para os dubladores, graças à internet e participações deles em convenções de cultura pop, o público conhece a face do profissional por trás das vozes adoradas no cinema, TV ou streaming. “Quando eu comecei na dublagem, se dizia que ‘dublar era uma arte anônima’. Hoje em dia, já não é. As pessoas, às vezes, reconhecem a gente na rua, fazemos um podcast ou participamos de algum evento. As pessoas conhecem ‘fisicamente’ aquela voz”, analisa Persy, acrescentado que é “o” reconhecimento.
Hoje os fãs têm a oportunidade de conversar com os dubladores sobre a atividade. “É muito revigorante você chegar a um evento e ver as pessoas vindo falar com você”.

Tecnologia
Em relação às mudanças tecnológicas, Persy avalia que a dublagem mudou bastante, principalmente a partir dos anos 2000 com a entrada do digital. “E você começa a poder dublar sozinho e começa a poder experimentar mais, porque conforme experimenta, você pode errar”, destacando que o processo ficou mais rápido e autônomo.
Ele recorda que a sua geração começou num tempo em que os dubladores precisavam ficar na bancada para fazer todos os personagens de uma determinada cena de filme/série. Era uma época em que se gravava em fita e não podia errar, caso contrário tinha de voltar tudo. “Havia um compromisso muito mais rigoroso com relação até as experimentações. Você tinha que ensaiar muito perfeitamente”, citando, por exemplo, a precisão naquela época.
E, com a profusão do streaming (caso de Netflix, Amazon Prime Video, Globoplay etc.), abriu um leque maior de oportunidades para os dubladores. Porém, é preciso ter tempo hábil para absorver tanta demanda. “Todo dublador acaba tendo a sua média de trabalho que consegue ocupar a agenda”.

Profissional
Segundo Luiz Carlos Persy, o mercado de trabalho acompanha o aumento das produções, tanto séries quanto filmes, nacionais e internacionais. Mas algo que não muda é o compromisso.
“O profissional se mantém tendo a obrigação de se aprimorar”, diz. Caso contrário, corre o risco de não ser absorvido pelo mercado.
No caso específico da dublagem, Persy diz que tem muito apreço pela profissão, pois é exatamente o símbolo do bom profissional. E ele não se refere somente à “voz bonita”, pois o dublador precisa cumprir horários, marcar presença, ter talento, entre outros.

Maringá
Pela primeira vez, Persy gravou um filme no Paraná, mostrando seus dotes como ator na pele de um personagem. Em Maringá, ele participou de “A Cápsula”, longa-metragem dirigido por Ribamar Nascimento e com set majoritariamente na Cidade Canção; e outra parte no antigo Hotel Yara em Bandeirantes, região Norte.
Na narrativa, o ator/dublador encarna o líder de uma gangue num mundo pós-apocalíptico. “Nós, juntos, interpretamos para encontrar quem era o personagem, a verdade dele, o mais profundo possível”, diz Persy, em entrevista a O Maringá, explicando como a sua voz, instrumento cênico, foi encontrada para compor sua persona nessa produção maringaense. Na verdade, o trabalho com a voz é resultado de 35 anos de formação e carreira apenas como ator.
O lançamento de “A Cápsula” está previsto para final de 2023/início de 2024, com sua primeira exibição na TV Cultura. O filme foi produzido pelo programa de coinvestimento regional da Agência Nacional do Cinema (Ancine), através do Edital Prêmio Aniceto Matti Audiovisual 2019.