Se é no peito que fala alto a viola e toda moda é um remédio para os desenganos, os integrantes da Orquestra Maringaense de Viola Caipira (OMVC) vivem em harmonia, em sintonia. Ou melhor, integrados socialmente por meio da música. Afinal, este é um dos intuitos do projeto criado e comandado pelo maestro e professor Jean Michel em Maringá, desde 2015.
Ao longo desse tempo, a Orquestra formou e recebeu violeiros, apresentando-se com repertório majoritariamente caipira; mas apimentado também com outros ritmos. Seus membros tiveram o prazer de tocar com nomes importantes da música nacional, como Renato Teixeira e João Carlos Martins.
E a OMVC também entrou para o Guinness Book ao participar do “Mil Violas”, em Uberlândia (MG).
No entanto, tudo começou bem antes, quando Jean Michel entrou para uma orquestra em Paranavaí, na região onde residiu no passado. Inclusive, seu primeiro instrumento foi a viola.
Em 2007, ele montou seu primeiro projeto no segmento, o grupo Chora Viola na cidade de Ângulo. Em seguida, a iniciativa expandiu e mais prefeituras gostaram, passando por quatro, cinco municípios.
Envolvido no setor musical, esse violeiro sentiu necessidade de estudar e ingressou na Universidade Estadual de Maringá (UEM), para fazer Regência, formando-se maestro.
Com o diploma em mãos surgiu o convite para entrar no Centro de Ação Cultural (CAC), na Cidade Canção, para reger alguns corais. Como tinha a prática da viola, propôs criar um grupo em torno desse instrumento.
Assim, em maio de 2015 nascia a Orquestra Maringaense de Viola Caipira, com alguns alunos que já eram de aulas particulares de Jean Michel ou que participaram do Chora Viola; além de alguns profissionais e iniciantes que queriam entrar. Mas como a proposta era de um grupo artístico, os membros da OMVC precisavam ter conhecimento prévio do instrumento e também de ritmos caipiras (tocar pelo menos uma toada, cururu, cateretê etc.).
Em contrapartida, oferecia aulas para alunos iniciantes e hoje praticamente tem uma escola-base da Orquestra. Toda quarta-feira, são quatro turmas de iniciantes e intermediários.
Após dois anos, eles começam a fazer o teste na Orquestra, que é o grupo de apresentações. É uma oportunidade de entrar no grupo e se socializar por meio da cultura. “Através de um instrumento que é típico brasileiro, que é a viola caipira”, define o maestro.
Repertório
O principal repertório é formado por música caipira. “A metodologia que uso é desenvolvida em cima dessas músicas caipiras, através dos ritmos”.
Mas Jean Michel diz que gosta de “apimentar” o set list, tendo já tocado chorinho nas apresentações do projeto. Inclusive, com a participação especial de clarinetista. “Acaba sendo um desafio para eles [violeiros]. Já tocamos outros ritmos com orquestra sinfônica”, citando o Festival Internacional de Música de Maringá (Fimma), em 2016, quando se reuniram ao mesmo tempo violas caipiras e violinos.
Para a temporada de 2023, o maestro conta que a ideia é trabalhar com três frentes: música caipira, temático (por exemplo, Raul Seixas na viola) e repertório instrumental (que seria um desafio técnico para os integrantes).
Composição
Na Orquestra, os integrantes são divididos em naipes de viola-base, harmonia, viola-solo e canto. “O diferencial da nossa Orquestra realmente é esse: dentro da Orquestra, a gente tem praticamente um coral. Mas não é um coral que só vem para cantar, é dos próprios violeiros. A gente treina as pessoas para cantar, o que estão aptos”.
Geralmente, participam de 30 a 40 violeiros, todos voluntários, variando de 12 anos até a chamada melhor idade, entre homens e mulheres. E outros 40 participam da formação para um dia fazerem testes a fim de integrar o projeto artístico.
No período da pandemia de Covid-19, o projeto sofreu o baque, tendo que parar e ficando só com aulas online. Desse modo, o projeto se desmobilizou, voltando apenas em 2021/2022. Mas perdeu integrantes que formavam um conjunto bem azeitado.
Em uma fase de reconstrução, hoje a Orquestra vive expectativas com as novidades de 2023.
O CAC conta com acervo de violas caipiras, mas os integrantes da Orquestra costumam ter seu próprio instrumento, pois sente necessidade de praticar em casa.
Crescimento
Com o crescimento do projeto, segundo seu maestro, a Orquestra começa a bater asas e ir mais longe.
“A gente fez um acordo que, a partir deste ano, a Orquestra é uma parceira. A gente ensaia aqui, no espaço da Cultura [CAC], só que em troca a gente devolve isso em apresentações gratuitas, para a comunidade. Mas a Orquestra, hoje, está liberada para receber patrocinadores”, explicando que também é possível participar dos editais de cultura.
Vale lembrar de que Jean Michel não é funcionário público da Prefeitura, sendo sim um prestador de serviço. Por isso, ele precisa aguardar o trâmite legal para iniciar os trabalhos a cada ano, incluindo a espera dos editais de abertura de turmas. Somente assim, ele pôde, neste ano, voltar com os ensaios, definir o repertório e retomar as apresentações.
Viola
Visualmente parecida com um violão, a viola tem suas particularidades, como a presença de dez cordas (no modelo tradicional, pois tem o instrumento de 12). Mas, segundo Jean Michel, a principal diferença é a afinação. “São várias afinações [na viola caipira]”, citando mais de 30 opções; mas com a ressalva que, às vezes, são dois ou três nomes para a mesma afinação.
Ele cita pelo menos os tipos classificados de “Cebolão”, “Rio Abaixo”, “Rio Acima”, “Paraguaçu”, “Boiadeira”, entre outros. Sem contar também aquelas que são criadas por músicos. “Cada afinação que a gente muda, é como se fosse outro instrumento morando ali dentro. Eu sempre falo: imagina seis instrumentos morando dentro de um só”, resumindo que é uma especificidade da viola.
Para além disso, Jean Michel diz que é importante divulgar esse produto tipicamente brasileiro. Principalmente pela questão de defender as raízes nacionais. Em sua origem, era “viola portuguesa”, trazida pelo povo além-mar. No entanto, com tantas transformações em solo tupiniquim, passou a ser um instrumento tipicamente do Brasil.
“A gente continuar cultivando as raízes brasileiras, as raízes da viola caipira. É de fundamental importância”, resume o violeiro, frisando o interesse pela viola nunca morreu.
Apresentação
Nesta segunda-feira, 28 de agosto, a Orquestra Maringaense de Viola Caipira apresenta “Memórias Sertanejas”, às 20h, no Centro de Ação Cultural (CAC), que fica na Av. Getúlio Vargas, 26, Centro, em Maringá.
A roda de viola tem entrada franca e todos estão convidados.
Serviço
Para conhecer mais sobre o projeto ou informações de como patrocinar a Orquestra Maringaense de Viola Caipira, entre em contato pelo perfil no Instagram (@omvcpr); ou tel./WhatsApp (44) 99851-1222.
Aliás, Jean Michel conta que o projeto está em busca de patrocinadores, para cobrir despesas de apresentações em eventos, caso de transporte e alimentação. E também gastos com os músicos externos que acompanham a Orquestra e mais a equipe de comunicação para registrar os concertos.
A chegada de patrocínios possibilitaria fornecer bolsas de estudos aos alunos; e poder contar com algumas funções que hoje são acumuladas pelo maestro, como o copista (que prepara as partituras), entre outros. É toda uma estrutura que poderia ser implementada.
Mais
Integrante da Orquestra Maringaense de Viola Caipira se sente realizado em participar desse projeto musical