Demolidor, X-Men, Justiceiro, Thor, Conan… havia um tempo em que estes personagens eram encontrados pelos leitores marvetes numa única publicação, a revista mensal “Superaventuras Marvel” da editora Abril. Ou apenas “SAM”, como ficou conhecida entre os fãs.
Em julho de 1982, há mais de 40 anos, chegava às bancas de todo o Brasil o número 1 dessa publicação. Na capa, estavam o herói cego Demolidor (que décadas depois ficaria famoso no streaming), o bárbaro Conan e “O Homem de Aço” Luke Cage.
Eram 84 páginas de aventuras, publicadas no famoso formatinho (13,5 x 19 cm), com lombada quadrada e páginas coloridas (depois, passaria a encadernação com grampos). Naquela época, era muito comum a editora da família Civita reunir HQs de personagens diferentes numa única revista, naquilo que ficou conhecido como “mix”.
Essa mistura azeitada de personagens e boas histórias deu tão certo que a SAM durou até fevereiro de 1997, ao longo de quase 15 anos, publicando 176 edições – o fim se deu à queda de vendas. “Desde o início, SAM priorizou histórias fechadas, evitando as continuações. Por isso, os primeiros números costumavam trazer duas aventuras do mesmo personagem a fim de fechar os arcos rapidamente, o que deixava a cronologia mais organizada, fidelizando o público”, aponta o “Dossiê Grandes Revistas – Volume 3”, da editora Heroica.
Mas uma das apostas certeiras estava no material protagonizado pelo Demolidor, personagem criado em 1964 por Stan Lee e Bill Everett. Para quem não sabe, o personagem (Matt Murdock na identidade civil) ainda jovem ficou cego após um acidente radioativo; mas que aguçou seus outros sentidos, desenvolvendo uma espécie de radar que substituiu sua visão. Assim, ele se tornou um mascarado combatente do crime.
Desde a edição de estreia, SAM trazia o Homem sem Medo como seu carro-chefe, sob a batuta dos editores Dorival Vitor Lopes e Hélcio de Carvalho. A melhor fase do herói se daria com Frank Miller nos desenhos e roteiros. O quadrinista usou suas referências de HQs clássicas (Will Eisner, Hugo Pratt) e japonesas para construir tramas complexas para o Demolidor.
Outro momento importante ocorreu com a estreia dos X-Men de Chris Claremont (roteiro) e John Byrne (arte) na edição 14 (agosto de 1983). Com tramas novelescas e desenho dinâmico, é a fase que alavancou as vendas do famoso grupo de mutantes da Marvel.
Avaliação
Para o escritor e roteirista de quadrinhos Gian Danton, SAM publicou as duas melhores séries Marvel dos anos de 1980: o Demolidor, de Frank Miller; e os X-Men, de Chris Claremont e John Byrne. “Hoje nenhum leitor conseguiria imaginar o impacto que essas séries tiveram e como foram revolucionárias. As mortes de Elektra e da Fênix foram verdadeiros fenômenos, todo mundo que conhecia estava falando sobre isso. Pra se ter uma ideia, a ansiedade era tão grande que a gente sabia o dia que a revista chegava às bancas e naquele dia íamos perguntar para o jornaleiro se já tinha chegado – e haja reclamação se não chegava”, diz, em entrevista a este repórter.
Danton vai mais além ao classificar “Superaventuras Marvel” como uma revista antológica: “uma revista mix de super-heróis como jamais existiu ou existirá no Brasil”.
O autor recorda também que a SAM foi criada quando a Abril conseguiu os direitos sobre todos os personagens Marvel – até então os principais personagens da editora, como Hulk e Homem-Aranha, estavam com a RGE (a antiga Rio Gráfica Editora). “De repente, a redação Abril se viu com uma quantidade impressionante de material de muita qualidade. E foi em SAM que eles colocaram tudo isso”.