Em sua nova mostra, o artista carioca Wáltercio Caldas propõe um mergulho nada convencional na natureza dos espelhos — não como simples superfícies refletoras, mas como instrumentos que questionam o real, o imaginado e nossas próprias expectativas.
A exposição, com curadoria na Galeria Raquel Arnaud, é fruto de um trabalho longo — afinal, toda investigação digna de filosofia começa com um olhar atento, não com um passe de mágica. O projeto levou cerca de um ano e meio para se materializar.
Espelhos que subvertem a mimese
Caldas não está satisfeito em reproduzir o que já se vê. Desde o fim da década de 1960, mas de forma mais intensa a partir dos anos 1970, ele explora o espelho como objeto isolável e maleável, capaz de desafiar sua função mimética clássica.
Em obras como “Circunferência com espelho a 30°” (1976), o visitante aproxima-se esperando ver sua imagem — apenas para encontrar um vazio que desfaz a relação tradicional entre observador e reflexo. É o “espelho com defeito” que convida à dúvida, à introspecção e à percepção além da superfície.
Reinventando o espelho como provocador
Na cena de Caldas, o espelho se torna um agente ativo — não apenas refletor, mas instigador de questionamentos. Ele cria “mundos infinitos” ao enfrentar a lógica do que esperamos ver, borrando as fronteiras entre realidade e ilusão.
Conclusão
A mostra de Wáltercio Caldas é menos sobre o que o espelho devolve — e mais sobre como rompe expectativas e nos obriga a olhar de outra forma. Em tempos em que a imagem virou reflexo imediato, sua obra nos resgata o encantamento da dúvida e a potência do olhar que desconfia.