Xavier Antunes

Era uma vez, um menino que nasceu numa serraria, em Itararé / SP, em 24/outubro/1949.

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Família humilde e com os pais sem qualificação profissional, de fato, e 4 filhos pra criar, moramos em várias cidades do estado, como: Itapetininga SP, São Caetano do Sul SP, Sorocaba SP, São João da Boa Vista SP, entre outras.

Vindos para o Mandaguari, Estado do Paraná, nos anos de 1956, permanecemos por dois anos e, em seguida, nos anos de 1958 para Maringá, onde, definitivamente, “firmamos ponto nesse terreiro”.

Nessa época, Maringá não tinha asfalto, a não ser a Avenida Brasil que era calçada com paralelepípedos. Comemos muita poeira e amassamos muito barro, pelas ruas da cidade, o que me remete a muitas lembranças e aventuras saudáveis da minha infância, vividas nesse período.

O espaço, hoje denominado Novo Centro, era um terreno descampado, onde descarregavam toras de madeira, brutas e gigantescas, transportadas por trem, onde lenhadores esquadrejavam essas peças com machados tipo medievais, para depois seguirem seu destino para serrarias de vários estados do Brasil. Muitas famílias não tinham fogão a gás e as cascas retiradas das toras eram um excelente combustível para queima em fornos e fogões de lenha. Então, todos os dias, pela manhã, meninos da região “buscavam lenha” nesse lugar, utilizando-se de carrinhos de madeira, improvisados, cada um com seu estilo de moleque, que acabou virando uma espécie de passeata matinal e, por muitos anos encantou e serviu famílias menos favorecidas.

Aí começa a minha interferência artística, com trabalhos em madeira.

Com o auxílio de poucas ferramentas manuais, como serrote, grosa, martelo e um formão, e madeira de peroba usada para construir cercas, em lugar de muros, chamada de balaústres, construí a réplica de uma carrocinha, tendo tido como referência, a carroça de um padeiro que passava todos os dias na nossa rua 12 de julho, hoje Rua São João, quando eu pedia para dar a volta no quarteirão e assim, fui me familiarizando com os detalhes, tanto da carroça quanto do arreio que o cavalo “vestia”.

Com pneus velhos de bicicleta eu tirava o arame e a borracha era usada para a confecção do arreio.

Não satisfeito, pedi a meu pai que arrumasse um bode para puxar a carrocinha e assim ele presenteou-me com um bode bem velho, que ganhara de um sitiante amigo e, a partir desse dia D, eu me senti, literalmente na passarela, desfilando com meu “carro alegórico”, seguido por um bando de moleques. Uns elogiavam, outros morriam de inveja e eu, magrelinho, me defendia das ameaças com a energia que sempre julguei ter, através do olhar hipnótico de um ninja cutucado com vara curta.

Assim, o contato com a madeira e o exercício do “garimpo” de peças para construção de outros objetos, geralmente brinquedos, surgiu com esse episódio. Eu não precisava ganhar presente de natal. Eu fabricava meus próprios brinquedos e, se alguém se interessasse eu atendia dentro do meu limite e barganhava por alguma outra coisa, como gibis, bola de capotão, bolinhas de gude, etc.

(Vale ressaltar que, no ano de 1963, com 14 anos, decidi não brincar mais na rua e deixar de usar” calças curtas. Fã inveterado do Campeão Mundial de Boxe Eder Jofre, entrei para uma academia no Aero Clube de Maringá, conquistei a primeira namorada, consegui meu primeiro emprego como auxiliar de escritório e já me achava um homenzinho. Porém, a criança interna ainda não havia se desapegado das coisas lúdicas que eu planejava, junto com o sonho de ser um empresário da minha própria arte. Construí, no quintal de terra da minha casa, um ringue de boxe, onde eu era o empreendedor e protagonista da estória. Foi aí que aprendi a bater e apanhar, até que uma vizinha ameaçou de denunciar meu magnífico empreendimento, alegando que eu estaria atraindo a bandidagem e libertinagem. Outro detalhe: em seguida, depois que me aplicaram esse knockout, construí uma mesa de sinuca e pebolim, com cabos de vassoura e madeira achada pelos quintais e cobrava dos moleques para jogar. Aí, foi a decadência final. A dita vizinha, denunciou meu reduto como Antro de Jogatina, comércio ilegal e outras merdas que nem lembro mais.”

INSPIRAÇÃO PARA COMEÇAR A PINTAR

Acho que a primeira influência para a arte, foi herdada, aos 5 anos, ao me surpreender com um desenho a grafite, feito por um primo, em ITARARÉ SP…estudos de desenhos de mãos e um dedo polegar com luz e sombra me chamou muito a atenção. Aos 12 anos, vi na revistinha Seleções, que meu pai assinava, o desenho colorido de um índio. Era muito pequeno e eu recortei o quadrinho da revista, coloquei dentro de um livro e ficava observando para descobrir como aquele desenho teria sido feito. Sem, no entanto, tentar absolutamente nada, pois não tinha noção nenhuma de materiais. Aos 14 anos, passando por uma banca de revistas, vi a capa de uma delas, com uma foto em contraste de preto e branco do músico Johnny Rivers. Imediatamente, comprei um caderno de desenho na loja A Copiadora, alguns lápis e fui pra casa, sem saber como começar. Sabia que iria desenhar aquela figura, apenas começando. Assim o fiz. Algumas horas e o desenho estava pronto. Para minha surpresa, as pessoas elogiaram e então pensei: estou no caminho certo.

Esse desenho ficou guardado em um quadro com vidro por mais de 30 anos. Até que resolvi trocar a moldura e, para minha tristeza, ao retirar o vidro o papel esfarelou e o desenho se desfez.

 

 

DESAFIOS

Na verdade, nunca vi a minha arte, como desafio.

Considero um dom Divino que eu sempre procurei honrar e agradecer.

Vejo, sim, como uma proposta de vida.

 

Alguém disse, sabiamente: Tem pessoas que vivem uma vida toda achando que nunca vão morrer e morrem, como se nunca houvessem vivido, de fato.

Eu sou mais ou menos assim.

Minha filosofia de vida é: viver e ser feliz.

Certa vez, um amigo me perguntou:

Xavier, qual sua filosofia de vida?

R: Viver e ser feliz.

Ele: mas isso não é filosofia.

R: Então, limite-se em apenas viver.

Hoje, perto dos 70 anos, soube que ele encerrou sua carreira de empresário de Marketing, vive em uma casinha de campo, tem uma pequena marcenaria hobista e acho que está feliz.

Não me vejo enquadrado dentro de um mercado de arte ou de atividade profissional. Me vejo inserido em um contexto, de certa forma, lúdico, e livre para bem fazer o que eu estiver disposto. Se meu trabalho interessar a alguém, esse alguém vem até mim. Nunca idealizei uma exposição individual e já fui premiado várias vezes em Salões de Arte. Se estou certo ou errado, não sei dizer. Apenas faço o que meu coração manda e pronto. Acho até, que não me desapeguei daquela criança que me descobriu, na mais tenra idade infantil. Hoje, de posse de ferramentas adequadas para minha necessidade, continuo idealizando e executando, tantos projetos que sonhava, quando criança, de uma forma mais favorável e nada mais.

Meus sonhos nunca foram de me tornar alguém, de crescer na vida, de ter isso ou aquilo, mas, sim, de “ser” o mesmo alguém que tiver que ser.

 

INFLUÊNCIAS:                                                                                           

Não me considero influenciado, sem descartar a possibilidade de tê-lo-sido.

Tenho minha caligrafia própria, meus traços são meus e eu uso e abuso deles como melhor me convier. Se isso, de alguma forma e, em alguma época incomodou alguém, ao considerar que fui influenciado por algum artista, ótimo, que assim o seja, PT Saudações.

 

HABILIDADES:

Só posso dizer das habilidades que tenho.

Não me deixo levar pelos parâmetros de mercado, e a mim, não importa se o mercado de arte está em alta ou em baixa. Não quero, jamais, perder a essência que carrego e permitir que meus traços se modifiquem, em função do que o mercado pede, sabe assim?

 

Tanto no desenho, na pintura ou nas artes com madeira, meu traço está sempre evidente.

Não sei se saberia estabelecer alguma regra para o artista.

Sinto que o artista nasce artista.

Desenvolver essa capacidade ou habilidade, só o tempo dirá.

Não sei se sou capaz de apontar regras ou diretrizes para alguém se tornar artista ou evoluir nessa atividade. Considero minha arte, meu próprio trabalho. Cansei de ouvir que: É difícil viver de arte nos dias de hoje. Vejo a arte até no ato de dobrar uma camiseta para guardar. Vejo arte na forma de vestir das pessoas, no falar, no gesticular. Penso que todos os caminhos que possam contribuir para a evolução, sejam válidos. No meu caso, passei pela Escola de Música e Belas Artes. Me ensinou? Não sei responder, pois fui aprovado no vestibular com o melhor desenho da turma, fui convidado pelo professor Ivens Fontoura para atender uma turma de calouros num cursinho pré-vestibular, em pleno primeiro ano de faculdade. Nasci sabendo? Não. Porém, essa vontade já veio comigo, ao vir ao mundo. De onde trago, não sei dizer, também.

MENSAGEM ATRAVÉS DA MINHA ARTE:

Procuro mostrar meu estado de espírito e, de preferência, apenas os estados positivos. Se não estou bem comigo mesmo, vou limpar a casa, varrer o terreiro, organizar meu atelier, ou coisas assim. Estaria, assim, escondendo um pouco do que sou? Talvez e pronto!

Não acho conveniente, que as pessoas se compadeçam de mim, por não estar bem comigo mesmo. Essa responsabilidade é minha e cabe a mim, resolver as pendengas e oferecer ao espectador, apenas o bem estar.

A alegria das cores que, geralmente não se misturam por si, as formas delineadas que procuro empregar no meu trabalho, os temas que abordo, tudo isso junto, traduzem a beleza que imagino causar ao observador e que lhe proporcione alegria.

 

MENSAGEM PARA OS AMANTES DA ARTE:

Ao observarem uma obra de arte, jamais digam: Ah! Gostei muito!

Se gostou ou não gostou, não vem ao caso.

Gostar ou não gostar é uma sensação que só pertence a você. A proposta da arte, nem sempre é agradar ou desagradar. Trata-se de uma atividade intelectual, traduzida para o material, que procura, de alguma forma, explicar o inexplicável, traduzir o intraduzível e compreender o incompreensível. Em grande parte, é a materialização do inconsciente do artista que vê, além do próprio sentido da visão natural.

Por outro lado, ninguém tem obrigação de estar na mesma sintonia do artista, no momento em que elaborou tal obra. Ou, compreender a essência da proposta de sua arte, pois, a partir do momento em que essa arte é exposta, ela se torna de domínio público, sujeita a elogios e críticas, benéficas ou não e, com isso causar indagação e, quem sabe, entendimento, compreensão, ou até mesmo, esquecimento.

Porém, gostar ou não, seria o mesmo que dizer:

Porque você gostou ou não gostou: Porque sim.

 

 

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