Um dos primeiros ramos da medicina a ser tratado como especialidade independente, a oftalmologia ocupa um lugar especial na evolução da medicina em virtude das peculiaridades do olho humano. Aproveite o Dia do Oftalmologista para entender melhor qual o papel deste profissional em cada fase da vida. Você sabia, por exemplo, que existe um teste do olhinho, tão importante quanto o exame do pezinho para os bebês? Sabia que 60% das cegueiras poderiam ser evitadas e que muitas doenças oculares são assintomáticas? De quanto em quanto tempo o oftalmologista deve ser consultado? Entenda como se proteger, prevenir doenças e até evitar a cegueira ao longo dos anos, desde os primeiros dias de vida até a terceira idade.
Após o nascimento
A Organização Mundial da Saúde estima que uma criança fique cega a cada minuto no planeta. Dentre os 400 mil casos existentes hoje no mundo, 94% encontram-se nos países em desenvolvimento como o Brasil, onde os olhos dos recém-nascidos nem sempre são adequadamente examinados. Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica – SBOP, a maioria dos serviços de neonatologia do país não realiza o teste do reflexo vermelho, também popularmente conhecido como “teste do olhinho”.
“Rápido, simples e indolor, o teste deve ser realizado pelo pediatra ou pelo oftalmologista ainda no berçário, antes mesmo do bebê sair da maternidade, quando muitas doenças passíveis de diagnóstico precoce podem ser descobertas. O exame também deve ser repetido nas próximas consultas pediátricas e oftalmológicas durante toda a infância, explica Islane Verçosa, presidente da SBOP. É possível identificar enfermidades que comprometem o eixo visual, como a catarata congênita, o glaucoma congênito e os processos de má-formação. O teste do olhinho também pode detectar traumas de parto, hemorragias, inflamações e infecções.
O exame é disponível na rede pública de saúde, por força da lei, no Distrito Federal e em mais de seis estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Paraná. Além disso, as cidades de Porto Alegre e Recife possuem leis municipais que obrigam a realização do teste.
Após os 3 anos
Caso não haja nenhuma anormalidade, recomenda-se que o bebê volte a um oftalmologista a partir dos três anos de idade. Nessa fase, o médico pode fazer uma avaliação geral da saúde da visão da criança, para identificar se há alguma alteração de grau, estrabismo, miopia ou outras deficiências. É também nessa fase que começa a prevenção à ambliopia, que se caracteriza por uma diminuição da acuidade visual e só é reversível até os seis anos de idade. A patologia tem como causas mais frequentes o estrabismo e erro de refração, ou seja, altos graus ou diferenças importantes de acuidade entre os olhos.
Idade pré-escolar
É recomendável uma avaliação completa da visão, com dilatação da pupila e exame de fundo de olho, em crianças por volta dos 6 ou 7 anos de idade. Muitas escolas das redes pública e privada realizam campanhas internas com ajuda de oftalmologistas e até de professores para testar a capacidade visual das crianças. Aquelas que apresentam alguma anormalidade são encaminhadas a um especialista. Caso contrário, a OMS recomenda que o oftalmologista seja consultado a cada dois anos.
Depois dos 18
De acordo com o oftalmologista Dr. Walton Nosé, professor livre docente da Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), diversos estudos internacionais têm demonstrado que jovens pré-universitários, que passam muitas horas lendo e ao computador, tendem a desenvolver miopia pelo esforço para enxergar de perto. Por essa razão, esse é um bom momento para fazer uma nova avaliação oftalmológica. Se tudo estiver normal, recomenda-se voltar ao médico a cada dois anos durante toda a vida adulta.
Depois dos 40
É quando começa a aparecer a presbiopia, também conhecida como vista cansada. Trata-se do enfraquecimento do poder de acomodação para a visão de perto devido à perda da elasticidade do cristalino, que é a lente natural dos olhos. Os principais sinais da presbiopia são: dificuldade para leitura com maior nitidez e conforto, aproximação de luz para enxergar melhor e necessidade de afastar objetos para poder ter uma visão adequada. A presbiopia aumenta progressivamente até atingir um ponto de falência da visão.
A vista cansada pode ser corrigida com óculos ou lentes de contato com graduação específica para perto. As autoridades médicas de alguns países, entre eles os Estados Unidos, autorizam o implante de lentes intraoculares (LIOs) multifocais como tratamento para a presbiopia. No Brasil, no entanto, o procedimento só é recomendado para cirurgias de catarata. Nesse caso, as LIOs AcrySof ReSTOR são também capazes de corrigir a vista cansada.
Muito mais sério que a vista cansada é o glaucoma, doença que atinge 1 milhão de brasileiros, sendo que mais do que 60% dos casos são assintomáticos. Frequentemente chamado de “inimigo oculto”, o glaucoma é uma doença isolada multifatorial, que envolve danos ao nervo óptico, responsável por enviar sinais visuais ao cérebro. Ainda não se sabe ao certo o que causa este dano, mas já foi provado que a elevação da pressão intra-ocular é um dos principais fatores de risco associados ao desenvolvimento da doença.
A prevalência da doença aumenta com a idade, estando associada a outros fatores de risco, como pressão intraocular elevada, hereditariedade e raça negra. O caráter hereditário dá aos parentes de primeiro grau 10 vezes mais chances de desenvolver a doença. “Pacientes com maior risco de desenvolver a doença devem consultar um oftalmologista uma vez ao ano para medir a pressão ocular. O glaucoma não tem cura, mas é possível evitar a perda da visão se a doença for descoberta precocemente. Na maioria dos casos, o glaucoma pode ser tratado apenas com a aplicação de colírios que agem reduzindo a pressão intra-ocular, mas medicamentos orais e intervenções cirúrgicas também podem ser necessários”, orienta Vital Paulino Costa, professor livre docente da Universidade de São Paulo e chefe do Setor de Glaucoma da Unicamp.
Depois dos 50
O cristalino, lente natural dos olhos, perde a acuidade e vai opacificando com o tempo. É assim que surge a catarata, doença responsável por 48% dos casos de perda da visão no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Estima-se que só o Brasil tenha 552 mil novos casos da doença todos os anos. Para se ter uma idéia, a doença atinge aproximadamente 17% das pessoas dos 50 aos 65 anos de idade, salta para 47% na população entre 65 e 74 anos e chega aos 68,3% entre os maiores de 80, segundo o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia).
A maioria dos casos resulta do envelhecimento natural do olho, mas existem manifestações congênitas ou resultantes de problemas como diabetes, traumas no olho e uso de colírio corticóides, além da herança genética. A evolução da doença varia de pessoa para pessoa, mas a catarata só é tratada através da cirurgia. No passado, os especialistas recomendavam esperar a catarata “amadurecer”, ou seja, o cristalino tornar-se totalmente duro e opacificado, antes de fazer a cirurgia. “Hoje, graças aos avanços da medicina, que tornaram o procedimento muito mais seguro para os pacientes, entende-se que o procedimento deve ser levado em consideração sempre que a catarata interferir nas atividades diárias do indivíduo”, orienta o especialista Walton Nosé. A cirurgia é realizada por um aparelho de ultra-som, o facoemulsificador, que aspira o cristalino e injeta a lente atrás da íris – parte colorida dos olhos. Hoje já é possível retornar ao trabalho em 24 horas, sendo que a recuperação total geralmente ocorre em uma semana.
Em março deste ano, a ANVISA aprovou a chegada ao Brasil da terceira geração da mais moderna lente intraocular multifocal do mundo, a AcrySof ReSTOR 3 +, produzida pelo laboratório Alcon. Além de eliminar a catarata, a lente ainda é capaz de corrigir outros distúrbios, como a miopia, a hipermetropia e a vista cansada. Além disso, a lente protege contra os raios UV e a luz azul, que está presente principalmente nas lâmpadas fluorescentes. É a lente que mais se assemelha ao formato natural dos olhos. Mais de 30 milhões de pessoas já implantaram lentes AcrySof no mundo inteiro.
Após os 65
Calcula-se que aproximadamente 3 milhões de brasileiros com mais 65 anos de idade sofram de degeneração macular. A Degeneração Macular relacionada com a Idade (DMRI) é uma doença degenerativa da retina que causa a perda da visão central, deixando apenas intacta a visão periférica ou lateral. A DMRI afeta a mácula, a parte central da retina responsável pela visão nítida e central, necessária para as atividades diárias como ler e dirigir. O grau de perda de visão varia muito e está relacionado com o tipo de DMRI, com a sua gravidade, características individuais e conduz normalmente à cegueira.
Após os 80 anos
Todas as enfermidades já mencionadas se agravam nessa fase da vida, mas aqueles que cuidaram da saúde de uma forma geral ao longo dos anos tendem a atingir esse estágio com uma visão mais sadia, conforme explica Walton Nosé. “Alguns conselhos valem para a vida toda e deveriam ser seguidos desde a infância. Não fumar, comer alimentos ricos em proteínas, não usar colírios sem prescrição médica e fazer uso de óculos escuros podem ajudá-lo a ter uma visão saudável e mais jovem por mais tempo”.
Fonte: Portal Opticanet