Abrindo o Dicas Friends com chave de ouro convidamos todo o nosso público para desfrutar uma entrevista repleta de saber, dicas e descobertas de um novo tempo onde ler é a grande dádiva de crescer e fazer o bem acontecer ao nosso redor…
Dicas de Roberth para todos e com todos!
Entrevista de Margot Jung, com exclusividade para o crítico de cinema e artes, Roberth Fabris
1- Qual livro e filme não pode faltar na cabeceira da sua cama?
R: Livros do José Mauro de Vasconcelos, meu escritor preferido. Estou sempre
lendo/relendo algo dele. O meu preferido é “Confissões de Frei Abóbora”. Gosto muito
da brasilidade do Zé, do destaque que ele dá a pessoas indígenas, sempre presentes na
maioria de suas obras. Meu filme de cabeceira é “Para Wong Foo, obrigada por tudo,
Julie Newmar”. Sou apaixonada por esse filme. Nele é muito interessante como as
mulheres de um povoado, esquecido no fim do mundo e de tudo, se libertam do
patriarcado e do preconceito, através do apoio dado por mulheres transexuais. Vale a
pena assistir.
2- Qual foi o primeiro livro que ganhou de presente?
R: o primeiro livro que ganhei de presente foram três, rs. Uma história de Amor, O caso
da Borboleta Atíria e Seis pescadores bobocas. Pelo menos são destes que tenho
lembrança, pois os ganhei quando estava no primeiro ano da escola. Mas eu me lembro
que minha mãe sempre me comprava livros de colorir, porém não tenho lembrança dos
nomes e ela também não. Mas foram esses três livros que ela me comprou através de um
jornalzinho da Ediouro que recebíamos no colégio em que eu estudava. Uma outra
lembrança da minha infância foi um box com quatro livros de Walt Disney. Interessante
que estes livros, além de terem os contos de fadas tradicionais, tinha textos de geografia,
contando sobre países e povos bem diferentes da nossa realidade.
3- O que tem para comemorar neste dia da visibilidade lésbica nacional?
R: Na verdade, o dia da visibilidade lésbica não é um dia de comemoração. É um dia
para marcar as lutas das mulheres lésbicas por visibilidade, por direitos, por igualdade e
equidade, por uma sociedade justa, sem violência e sem preconceito de quaisquer
formas. As mulheres lésbicas eram invisibilizadas, inclusive no próprio movimento
LGBT. E a partir da conscientização de que um espaço de lutas, no qual o protagonismo
fosse das mulheres era importante, as mulheres lésbicas começaram a criar seus próprios
coletivos e pautar essa luta.
4- Como vencer o feminicídio em nosso país?
R: No Código Penal brasileiro, o feminicídio está definido como um crime hediondo,
tipificado nos seguintes termos: é o assassinato de uma mulher cometido por razões da
condição de sexo feminino, quando o crime envolve violência doméstica e familiar e/ou
menosprezo ou discriminação à condição de mulher. O feminicídio é um crime de ódio
praticado com motivações de gênero e está diretamente ligado ao machismo, ou seja, ao
sentimento de posse e de autoridade que o homem machista tem em relação às mulheres,
ou à uma mulher específica, de seu convívio ou círculo social. “O problema real da
violência contra mulher está inserido em valores culturais patriarcalistas que colocam a
mulher como indivíduo inferior e objetificado, havendo dessa forma, o sentimento de
posse por parte do agressor”. Creio que para eliminar o feminicídio, precisamos começar
um trabalho na base da vida de qualquer ser humano, ou seja, na escola. A importância
de se discutir e debater gênero nas escolas é primordial para que meninos, em especial,
cresçam com a consciência de que o mundo é um espaço para todas as pessoas e que as
mulheres não são propriedades. Mulheres têm deveres e direitos, os quais devem ser
respeitados. Agredir com palavras ou fisicamente, tocar o corpo de uma mulher sem
permissão são formas de violência que precisam ser desconstruídas já na infância. Só
assim conquistaremos uma sociedade sem machismo, com liberdade e dignidade para
todas as pessoas e sem feminicídio.
5- Literatura e política se combinam?
R: Combinam e muito! Muitos dos romances que li têm conotação política. Existem
muitos livros bons no país para entendermos a atual conjuntura politica, não só do
Brasil, como do mundo. Acho literatura e política uma combinação tão perfeita quanto
pó de café com água quente, rs…
6- Com o sucesso do casal de lésbicas da trilogia Rua do medo, você pensa que vai
ter mais lésbicas em destaque no mundo das artes?
R: Eu, sinceramente, não assisti Rua do Medo, apenas ouvi falar. Mas eu defendo que
mulheres lésbicas, homens gays, travestis, transexuais, pessoas intersexos devem ter
protagonismo nas artes em geral. Existir espaço para as diferentes identidades de gênero
e orientações sexuais é muito importante, pois a arte é também a fonte de renda de
muitas pessoas LGBTI, além de também proporcionar que as pessoas se identifiquem
com as personagens, com as obras de arte e se vejam prestigiadas/representadas. Creio
que uma pessoa, para ser artista, não precisa passar pelo crivo da orientação sexual ou da
identidade de gênero. O espaço artistico deve ser um espaço ata todas as pessoas. Afinal,
a arte é universal, não é? E eu espero, sinceramente, que esse caminho aberto não se
feche nunca mais.
7- O que pensa do empoderamento das mulheres na nova versão de He-Man?
R: Eu ainda não assisti a nova versão, mas li muitos comentários na internet. Muitos
comentários machistas, desrespeitos e xingamentos contra o diretor. Eu acho que esse
empoderamento vem ao encontro das lutas das mulheres na atualidade. E pelo que eu me
lembre, sempre houve protagonismo das mulheres nos desenhos antigos do He-Man! A
Teela era melhor que o príncipe Adam em tudo! Ela dava verdadeiras licões para ele! A
Maligna sempre foi o cérebro na dupla com Esqueleto. E tem também a Feiticeira que
era a guardiã de Grayskull, uma mulher poderosíssima!
8- Qual livro te surpreendeu neste tempo de quarentena?
R: No momento, estou apaixonada por Devassos no Paraíso, do João Silvério Trevisan.
Ainda não terminei, mas é uma viagem ao conhecimento do mundo LGBT brasileiro, a
história das lutas, derrotas e conquistas. Meu exemplar é uma edição revista, atualizada e
ampliada. Na pandemia li e reli todos os livros sobre os quais eu falo no meu canal no
Youtube, dentre eles Quarto de Despejo, da Carolina Maria de Jesus; As confissões de
Frei Abóbora, do José Mauro de Vasconcelos; Arséné Lupin de Maurice Leblanc; Por
que lutamos, da Manuela D’Ávilla; Como conversar com um fascista, da Marcia Tiburi;
Marighella do Mário Magalhães, dentre outros. Agora, está na fila, o livro Família
Harrad Reis, que conta a trajetória dos meus queridos amigos Toni Reis e David Harrad
e da família que eles formaram.
9- O lema Unidos pela emoção pode mudar o mundo para melhor?
R: É um lema bonitinho. Mas os Jogos Olímpicos ainda são um espaço de muito
preconceito. Atletas ainda têm muito que evoluir para serem considerados, de fato, uma
categoria unida. Atletas LGBTI ainda sofrem preconceito, negros e negras, atletas de
países que têm muito pouco investimento no esporte também sofrem preconceito.
Enquanto Unidos pela Emoção não for uma realidade, para mim, vai ser apenas mais
uma frase bonitinha na camiseta de alguém.
10- Qual a mensagem que você deixa para nossas leitoras e leitores de Maringá e
região?
R: Leiam! Leiam sempre! O tempo que se passa na frente do celular, olhando grupos de
whatsapp, poderia ser melhor aproveitado se fosse usado para ler livros, artigos, assistir
vídeos de entrevistas etc. Ler é libertador e abre caminhos para um mundo de
conhecimentos diversos. Uma poesia pode parecer algo tão pequeno, tão simples e tão
pouco significativo, mas uma poesia pode tocar sua alma e você nunca mais ser a mesma
pessoa. A poesia pode revolucionar um país, pode tocar uma alma, pode mudar as cores
do mundo. Como disse Heráclito de Éfeso, “nenhum homem (ou mulher) pode se banhar
duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tampouco o
homem (ou a mulher)”, ao terminar de ler um livro, nenhuma pessoa é mais a mesma,
assim como o livro também nunca mais será o mesmo. Ao reler um livro, ele sempre
será novo