Até pouco tempo era estranho assistir a alguém abrir o celular, escanear um QR Code e quitar o pão francês com alguns centavos de USDT. Hoje a cena se repete em cafeterias de Curitiba, quiosques de Salvador e até em feiras livres na Grande São Paulo. A criptomoeda deixou de ser tema de fórum nerd para virar meio de pagamento tão simples quanto o Pix.
Uma maré mundial empurra o Brasil
A onda começou lá fora. Nos Estados Unidos, 37% dos lojistas de e-commerce já aceitam criptomoedas e o volume anual de vendas em ativos digitais supera os bilhões de dólares, mostra um estudo da processadora B2BinPay. Quando o consumidor encontra essa opção nos sites internacionais, passa a esperá-la também nas vitrines nacionais.
O varejo brasileiro percebeu o recado. Segundo o relatório Status do Pagamento com Criptomoedas no Brasil 2024, da Foxbit Business, 16% dos estabelecimentos nacionais já recebem moedas digitais, e 78% dos consumidores dizem ter interesse em usá-las no dia a dia.
Uma parte importante desse processo é a conversão de reais em ativos confiáveis para gastar por aí. Felizmente, as melhores corretoras de criptomoedas do Brasil permitem carregar a carteira do celular, garantindo taxas baixas, liquidez imediata e suporte local. Mas a popularidade também se explica por fatores bem brasileiros.
O Pix educou a população para pagamentos instantâneos, o Open Finance tornou mais simples migrar de banco, fintechs oferecem cartões que convertem cripto em real na hora da compra. Some-se a isso o interesse de pequenos comerciantes em reduzir tarifas de adquirência e você tem o caldo perfeito para a adoção.
Enquanto isso, o Banco Central acelera o Drex, a versão digital do real que já se encontra na segunda fase de testes, prevista para concluir contratos inteligentes até o final de 2025. A autoridade monetária não trata o Drex como concorrente, mas como infraestrutura capaz de dialogar com stablecoins e carteiras privadas.
Turismo, hospitalidade, educação e saúde entram na corrida
Se existe um setor que incorporou criptomoedas com naturalidade, é o de viagens. A agência global Travala, que atende usuários brasileiros, viu as reservas pagas em cripto saltarem para US$100 milhões em 2024, um avanço de 78% em doze meses.
Em fevereiro de 2025, o metabuscador Trivago firmou parceria com a própria Travala para oferecer pagamentos em mais de 100 moedas digitais em dois milhões de hotéis pelo mundo, sinal de que o viajante quer levar sua carteira cripto junto com o passaporte. Boa parte das vendas ainda seja liquidada em stablecoins ou convertida instantaneamente.
No entanto, o exemplo mostra que a demanda existe, e pressiona redes de hotéis e companhias aéreas nacionais a seguirem o mesmo caminho. Na esfera acadêmica, a mudança já é visível. A Universidade de Caxias do Sul passou a aceitar Bitcoin nas mensalidades ainda em 2022, tornando-se pioneira no país.
A tendência ganhou força com iniciativas de pesquisa, como a disciplina “Bitcoin – aspectos técnicos” incluída na grade da Universidade de Brasília em 2024, que discute justamente o uso de ativos digitais como meio de pagamento e fonte de financiamento para laboratórios e projetos.
No setor de saúde, clínicas particulares e healthtechs têm testado modelos de remuneração via tokens, em especial para serviços preventivos e programas de bem-estar. A chegada do Drex pode acelerar a tokenização de procedimentos e seguros, criando um ecossistema de pagamentos em blockchain dentro de hospitais e planos de saúde.
Eventos, entretenimento, pagamentos B2B e freelancers atravessam fronteiras
Quando o Rock in Rio distribuiu pulseiras NFT na edição de 2022, parecia só marketing. Dois anos depois, a adoção de ingressos tokenizados espalhou-se por festivais e casas de show, principalmente para combater fraudes e revenda ilegal.
Hoje, organizadores de grandes eventos brasileiros, inspirados pela experiência do Rock in Rio, começaram a trocar bilhetes eletrônicos por NFTs rastreáveis, elevando a experiência do fã e o controle de acesso. Para empreendedores digitais e profissionais autônomos, receber em stablecoins já virou prática cotidiana.
Um relatório da Chainalysis indica que a América Latina movimentou perto de US$415 bilhões em criptomoedas entre julho de 2023 e junho de 2024, com o Brasil respondendo por US$90,3 bi, a segunda maior fatia. O motivo é simples, USDT ou USDC liquida em minutos, 24 horas por dia, sem o custo do Swift.
E depois pode ser convertido em real na exchange que o usuário escolher. Recursos entram no caixa da pequena empresa com volatilidade mínima, o que explica a explosão de plataformas de payroll em cripto para equipes distribuídas.
Oportunidades a curto prazo e o que vem pela frente
A popularização dos pagamentos esbarra em três pontos: volatilidade, tributação e segurança. A volatilidade vem sendo mitigada pelo uso predominante de stablecoins indexadas ao dólar, já a tributação segue pauta quente em Brasília.
O governo estuda novas alíquotas para ganhos de capital e a criação de uma declaração padronizada de criptoativos, mas teme que regras excessivas empurrem empresas para fora do país. Em questão de segurança, contratos inteligentes auditados, dominam o mercado.
A segunda fase do piloto Drex, anunciada pelo Banco Central, foca justamente na robustez desses contratos. Ao mesmo tempo, seguradoras estudam coberturas específicas para lojistas que aceitam cripto, reduzindo o medo de chargebacks ou ataques hackers.