O avanço da tecnologia, o acelerado mundo das comunicações, imprimiu na humanidade, uma nova postura de vida. A vida não consegue acompanhar as inovações, a necessidade de consumir o que a tecnologia oferece, rapidamente.
A vida perde seu sabor, as pessoas são esquecidas, ignoradas, abandonadas. Novas enfermidades assombram a humanidade e perguntamo-nos: para que serve a vida? A vida está a serviço de quem? A vida precisa ser espiritualizada. O profeta aponta o caminho: “Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces; eu os conduzirei por torrentes d´água, por um caminho reto onde não tropeçarão, pois tornei-me um pai para Israel” (Jr 31,9).
A falta de referência, quando as pessoas impõem suas exigências sobre as outras, construímos um caos entre nós. Deus é a referência, a sustentação segura para uma vida acertada: “Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus” (Hb 5,4).
No mês missionário, o Papa Francisco convocou o mundo para participar da escuta sinodal, uma Igreja em saída, ouvir todas as esferas da humanidade para construir uma nova relação fraterna. Todos juntos, caminhando na direção da superação das dores e das desigualdades injustas, edificamos a vida sobre o alicerce da verdade entre os povos. O exercício da fraternidade cristã impõe um novo ritmo para a vida das pessoas na sociedade. A Igreja, sinal da presença de Deus no mundo, tem a árdua missão de mostrar os novos caminhos para uma humanidade renovada.
Caminhamos como Jesus para Jericó. Todos atordoados para ver Jesus, aproximar-se dele, vê-lo, tocar nele, enquanto Jesus surpreende com outra atitude, ouve os mais necessitados. A humanidade egoísta, agitada, desprotegida da sensibilidade humana, alheia ao sofrimento das pessoas, diferente das outras pessoas, Jesus parou no percurso, perguntou sobre os gritos dos sofredores, chamou um excluído, fitou o olhar no mendigo, cego, chamou-o para aproximar-se dele. Eis a novidade: ouvir, chamar, aproximar. Esta é a rota da cura. Este gesto deve ser mais agilizado nos tempos atuais. Não deixemos abafar o grito do sofredor. É pela nossa escuta que percebemos a dor da falta de pão, de casa, de saúde, de educação, de liberdade.
O Papa Francisco aponta a dinâmica da vida para equilibrar as relações humanas: “Quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal: Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: A vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros. Isto é, definitivamente, a missão. EG 9-13).
A figura de Bartimeu no Evangelho (Mc 10,46-52), retrata a pessoa estagnada, está cega, não consegue acompanhar o mestre pelo caminho. Grita, pede socorro. “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” (v 47). Ele tem maturidade de fé. O necessitado não tem escolha, grita por socorro. A multidão tem escolhas, tem a liberdade de calar um coitado, amarrado pela rotina sofrida diária. Temos a liberdade de ajudar, a mesma liberdade para ignorar, mandar calar.
A situação do mundo atual revela gritos ensurdecedores de tantas pessoas pedindo compaixão, porque estão privadas de alimento, da ternura do lar, da falta de pais, a imposição do trabalho ensurdecendo a vida, matando a relação fraterna, a ternura, mesa desabastecida, casa sem teto, ausência do amor, de solidariedade.
Que Bartimeu nos encoraje a gritar por Jesus e deixemos o Mestre aproximar-se de quem mais necessita, façamos a nossa parte: “Eles o chamaram e disseram: Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” (v 48).
Eis a nossa missão, caminhar com Jesus, encorajar os vulneráveis, acolher e cuidar dos que necessitam de ajuda.