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Hermeto Pascoal, o mago da música brasileira

Por André Drago
14 de setembro de 2025
Créditos de imagem: Divulgação site oficial Hermeto Pascoal.

Créditos de imagem: Divulgação site oficial Hermeto Pascoal.

Quando se vai um músico muito importante, muito querido e carismático como
Hermeto Pascoal, a nossa sensação é de perder um amigo daqueles dos melhores,
de longa data, antigo, porém que nunca tivemos oportunidade de conhecer
pessoalmente. É estranha essa sensação de ter uma pessoa tão próxima e, ao
mesmo tempo, tão distante — como que a arte proporciona pra gente. Hermeto
Pascoal foi uma figura central na música brasileira devido ao fato de tornar o mundo
consciente de que música é coisa séria, sim: exige dedicação total, integral, de uma
vida inteira pra arte. Contudo, também pode ser vista como a atividade mais
prazerosa, como a brincadeira que aguardamos com mais alegria pra que
possamos participar. E o Hermeto nos mostra o quanto música é a respeito de
liberdade: liberdade de criar, de compor, de fazer, de ser, de existir.

Quando uma pessoa de tamanha relevância em sua área nos deixa, nós
percebemos como é a oportunidade de viver entre os maiores gênios da
humanidade. Uma pena que a grande maioria só perceba isso — e isso é natural —
após a morte dessa celebridade. Hoje, infelizmente, comunicamos a morte de
Hermeto Pascoal aos 89 anos, no dia de ontem, 13 de setembro de 2025, à noite,
por volta das 9h. Qual o impacto da vida e obra desta pessoa pra música brasileira e
pra arte no sentido internacional? É isso que vamos ver agora, mergulhando entre
notas de um mago — o mago da música brasileira.


Influência e origens

Hermeto Pascoal não ganhou esse título à toa. Ele é reconhecido
mundialmente por sua inventividade, genialidade e também bom humor na hora de
fazer música. É considerado um dos músicos mais originais e inovadores do século
XX e XXI. Nascido em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa, no estado de
Alagoas, é filho de José da Costa Pascoal, músico autodidata que lhe ensinou no
acordeon as primeiras notas, ainda na infância.

Nascido com a condição de albinismo e também estrabismo, não podia
trabalhar na roça. Hermeto conta que o pai o deixava na carroça, à sombra,
enquanto ele tocava música, e seus irmãos trabalhavam desde cedo. Foi cercado
por sons da natureza e do cotidiano — a água, o vento, os animais. Mergulhou nos
ritmos do sertão, trazendo ao mundo a sua visão, a sua identidade e a da terra em
que nasceu. Contribuiu enormemente para o desenvolvimento de uma obra
complexa, mas fundamentada nas origens simples de sua família e na cultura rica e
profunda do Nordeste. Ritmos como baião, xote, frevo e coco ganharam novas
dimensões e alçaram voo a todos os cantos do mundo através de seu trabalho
primoroso.


Primeiros passos e projeção internacional

Na década de 1950, mudou-se para Recife, posteriormente para São Paulo e
Rio de Janeiro, na efervescência de ritmos novos como a bossa nova e o sambajazz. O Brasil explodia estilos novos e músicos talentosos. Foi quando Hermeto
Pascoal fundou o Quarteto Novo, com Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de
Barros. Este grupo modernizou o baião e aproximou a música nordestina do jazz, o
que deu projeção internacional.

Em 1971, Hermeto participou do álbum Live-Evil, de Miles Davis. Miles,
inclusive, disse que Hermeto era um dos músicos mais impressionantes do mundo,
reconhecendo o grande aprendizado na participação desse brasileiro em sua obra.
Ao começar a se apresentar em festivais internacionais, Hermeto ganhou a fama de
improvisador, por seus improvisos que transcendiam muitos compositores
contemporâneos de sua época. Já trazia uma visão de músico contemporâneo,
daqueles que estão na beira da ruptura musical, ao mesmo tempo que nos
impressiona pela beleza de sua obra e nos incomoda a refletir sobre a profundidade
da nossa.


Estilo musical

Outros grandes músicos, além de Miles — que ficou fascinado com sua
liberdade e ousadia — também destacaram as habilidades de Hermeto, como
Wayne Shorter, que comenta sobre sua inventividade única; Herbie Hancock, que
diz que Hermeto une tradição e inovação como poucos; e Jovino Santos Neto, exaluno e parceiro, que sempre o chama de fonte inesgotável de aprendizado.

A verdade é que cada um de nós que estudamos música temos algo pra falar
de Hermeto Pascoal. Seu estilo musical integra música clássica, jazz, música
concreta, popular e contemporânea, bem como música experimental, pois faz
música com objetos, sons da natureza e até mesmo animais. Alterna o lirismo com o
caos, polirritmia e muito humor. Sua música é praticamente líquida, ou seja, sem
rótulo, transitando livremente entre o erudito e o popular. Costumava dizer que,
quando acham que ele está fazendo uma coisa, ele já estava fazendo outra.


Obras que fazem a gente abrir o ouvido

A Música Livre de Hermeto Pascoal, álbum de 1973, traz a invenção de
clássicos brasileiros. Mistura lirismo com improviso caótico. Produzido por Rubinho
Barsotti, o disco apresenta arranjos novos para músicas como Asa Branca e
Carinhoso. O destaque vai para a música O Gaio da Roseira, que possui extensos
improvisos com percussões, flautas de PVC e instrumentos não convencionais (até
mesmo objetos do dia a dia).

Eu aconselho firmemente: se você não conhece, venha a conhecer esta obra.
Mas não como se escuta qualquer canção, e sim como quem assiste a uma obra
cinematográfica para os ouvidos. Nessa época, no mesmo ano, Nana Vasconcelos,
outra lenda brasileira, lança seu álbum Africadeus. É impossível não associar as
técnicas de gravação e produção utilizadas pelos dois. Outro disco que precisa fazer
parte do seu arcabouço cultural. Então, levanta no dia de hoje escutando música,
pessoa!

Além desse álbum, outras obras de Hermeto ganharam destaque, como o
álbum Slaves Mass (1977, EUA), que mistura jazz, baião, sons de animais e objetos
domésticos; o álbum Eu e Eles (1999), em que Hermeto toca todos os instrumentos
utilizando técnicas de multipista; e a célebre Música da Lagoa, em que músicos
tocam dentro da água, utilizando flautas, enquanto os sons da natureza e da água
se misturam em uma composição única, impossível de ser reproduzida novamente.
Hermeto Pascoal e sua obra são amplamente difundidos no mundo
acadêmico, revelando seu impacto pedagógico. Seu método de ensino não era
formal: desenvolvia a exploração de sons do cotidiano, a escuta e percepção
musical, a criatividade e a improvisação.


Reflexões sobre liberdade e filosofia do som

Hermeto Pascoal faz o Brasil dialogar com o mundo, reafirmando a nossa
identidade. É um dos artistas responsáveis por não permitir que a nossa aquarela
descolore em meio ao mar de informações da globalização. Ele pratica uma ética de
liberdade criativa, sem se submeter às pressões do mercado ou da academia,
valorizando autenticidade artística acima da conformidade. Defende que todo som
tem valor em si, e que ninguém precisa de permissão de uma instituição pra criar
música. No campo estético, transforma o ordinário em extraordinário: utensílios,
sons do dia a dia e até mesmo ruídos viram matéria-prima artística. Rejeita rótulos e
cria uma estética fluida que mistura o erudito e o popular.

Sua obra desafia a ideia de beleza tradicional, mostrando que o belo nasce,
sim, do inesperado. Do ponto de vista filosófico, vê a improvisação como
experiência de consciência expandida, tratando a música como forma de
conhecimento e percepção do mundo, questionando fronteiras entre natureza,
cultura, arte e vida. Psicologicamente e historicamente, se insere como integrador
de tradições brasileiras e universais, representando a continuidade e a invenção de
práticas como o baião, o choro e o jazz. Sua música se relaciona tanto com a
cultura oral do sertão quanto com a tradição erudita ocidental. Podemos analisar até
mesmo de um ponto de vista noético, relacionado à mente e à consciência, pois
Hermeto enxergava o som como extensão do pensamento. Para ele, a música era
uma forma de materializar estados mentais e espirituais.

Celebrado pela crítica como gênio visionário, considerado por muitos
excêntrico, sua obra desafia ouvintes e críticos que buscam categorias fixas. É
prova de que muitas vezes precisamos reformular a nós mesmos para entender
artistas tão radicais. Sua relação com a música é a mesma que possui com a
natureza: ela perpassa sua existência de forma natural.


Liga o som aí!

Hermeto Pascoal se destacou, impressionando todos os estudiosos a respeito
de sua ousadia. É evidenciado como um dos músicos mais originais e inovadores
do mundo em todas as épocas. É mais que um músico: um inventor, pedagogo e
filósofo sonoro. Sua obra, tão mestre em unir tradição e experimentação, mostra
que música é, sim, liberdade, imaginação e poesia. Para ele, o universo todo cabe
em uma nota. Bem-humorado como era, dizia: “O meu negócio não está nas notas
de dinheiro, e sim entre notas musicais.”

Para aqueles que desejam se aprofundar mais no universo de Hermeto
Pascoal, recomendo a leitura das biografias “Quebra Tudo – A Arte Livre de Hermeto
Pascoal”, de Vitor Nuzzi, e “Hermeto: Veredas Sonoras e Improvisos do Sertão”, de
Pierre Sicsic, que oferecem uma visão detalhada da vida, da carreira e da
genialidade sonora deste músico único.

Que possa descansar em paz nosso eterno mago Hermeto Pascoal. Nossa
gratidão a ele por todas as gerações vindouras que ainda vão poder beber dessa
fonte inesgotável de sabedoria artística. O domingo amanheceu mais triste, mas, na
medida do possível, um excelente domingo a todos, com muita música. E aos que
não conhecem ainda a obra de Hermeto, convido a escutar com escuta ativa,
despretensiosa e receptiva — um verdadeiro cinema para os ouvidos!

André Drago – Entre Notas – Dom 14/11/2025

Créditos de imagem: Divulgação site oficial Hermeto Pascoal.

Tags: DestaqueHermeto Pascoalmago da músicamago da música brasileira

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