Batucando em sua máquina de escrever Remington, o jornalista e escritor Sérgio Porto entrou para os anais da história sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, uma paródia “mundana” dos colunistas sociais do Rio de Janeiro entre a primeira e a segunda metades do século 20.
Há quem diga que poderia ser também um heterônimo, tal como fazia o português Fernando Pessoa em sua poesia. Lalau era tão único e diferente de Porto que poderia transcender a categoria de pseudônimo.
No entanto, o escritor também foi radialista, teatrólogo, compositor… enfim, uma produção que valia por dois. Ao longo de apenas 45 anos de vida (morreu de infarto em 30 de setembro de 1968), publicou 14 livros (quatro assinados por Porto e 10 como Ponte Preta). Tendo nascido a 11 de janeiro de 1923, estaria completando 100 anos de idade nesta quarta-feira, 11, caso ainda fosse vivo.
O legado dele atravessa o século. Quem o conheceu de perto e também estudou a sua obra entende que a versatilidade é uma marca fundamental da alma do escritor e artista. Até os anos de 1960, tratou do cotidiano, particularmente, do povo do Rio de Janeiro. Depois de 1964, passou a abraçar uma missão com firmeza: atacar a ditadura militar e se apresentar como defensor da democracia.
“Na época da ditadura militar, ele foi um dos principais combatentes e críticos à opressão. Ele foi um grande defensor da democracia”, afirma a pesquisadora Claudia Mesquita, autora do livro “De Copacabana à Boca do Mato: O Rio de Janeiro de Sérgio Porto e Stanislaw Ponte Preta”, à Ag. Brasil.
Ela explica que os traços dessa escrita sarcástica estão nos três volumes dos livros “Febeapá – O Festival de Besteiras que Assola o País”. Claudia Mesquita é uma das principais pesquisadoras da obra de Sérgio Porto.
Aliás, a criação de Stanislaw Ponte Preta aconteceu no jornal Diário Carioca, em 1953. A criação foi ficando mais famosa do que o criador. Quando ele foi trabalhar no jornal, foi convidado para ser colunista social. Ele aceitou com a condição de que ele usasse um heterônimo e que pudesse falar de tudo.
“Para chegar ao novo nome, se inspirou no personagem Serafim Ponte Grande, criação de Oswald de Andrade. Ele foi um sucesso enorme”. Tanto que criou os personagens da família Ponte Preta, e que vão inspirar obras dele. Dessa viagem, criou obras como “Tia Zumira e eu”, “Primo Altamirando e elas” e “O garoto linha dura”.
A professora avalia que o interesse dele em falar dos subúrbios do Rio, mesmo sendo de Copacabana, tem o objetivo de tratar de uma cidade partida, denunciada por diferentes autores, como Lima Barreto.
“O que mais me impressiona na obra dele é a versatilidade que ele tinha, a capacidade ímpar de produzir. Além de cronista, escritor, jornalista, ele foi radialista, produtor musical, ele trabalhou nos primórdios da televisão brasileira. Ele era um trabalhador árduo”, diz a professora.
Livro
Em 2021, a Companhia das Letras publicou “A fina flor de Stanislaw Ponte Preta”, uma coletânea de crônicas organizada pelo jornalista Alvaro Costa e Silva a partir das seguintes obras de Stanislaw: “Tia Zulmira e eu”, “Primo Altamirando e elas”, “Rosamundo e os outros”, “Garoto linha dura”, “Febeapá” e “Bola na rede”. O volume traz “o olhar inteligente, mordaz, afiado e debochado de uma das mentes mais brilhantes do humor brasileiro”, diz a editora. “O diabo não frequenta os inferninhos de Copacabana com medo de ficar desmoralizado”, anota Lalau.