É uma história necessária para o contexto social de Maringá, diz autor de livro sobre o caso Clodimar

Em “Sala dos suplícios”, que acaba de ganhar uma 3ª edição ampliada e revisada, o coordenador do projeto Maringá Histórica, Miguel Fernando, se debruça sobre um dos casos mais complexos da história maringaense: a morte do adolescente Clodimar Pedrosa Lô, ocorrida em novembro de 1967

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Miguel Fernando é pesquisador, diretor e coordenador do Maringá Histórica (Crédito da Foto: Arquivo/OM)

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Um dos crimes mais brutais da história de Maringá. Assim, pode ser descrito o episódio ocorrido ao final daquele novembro de 1967.

Acusado de furto, o adolescente Clodimar Pedrosa Lô (15 anos) foi detido pela polícia na Delegacia e morto após sessões de tortura na famosa “sala dos suplícios”. O fato causou comoção popular e, em seguida, surgiram desdobramentos ainda mais devastadores para o então jovem município.

Com o passar do tempo, o episódio entrou para o imaginário popular e motivou no século 21 a produção do livro “Sala dos suplícios: o dossiê do caso Clodimar Pedrosa Lô”, escrito pelo pesquisador e coordenador do projeto Maringá Histórica, Miguel Fernando Perez Silva. A obra acaba de ganhar uma 3ª edição revisada e atualizada, com informações inéditas, cujo lançamento ocorreu no dia 26 de novembro.

Em entrevista ao jornal O Maringá, o autor explica que, quando lançou a 2ª edição em 2017, uma pessoa do Maranhão entrou em contato para informar que poderia ter pistas sobre um dos réus da acusação de tortura e morte do garoto de 15 anos. Porém, naquele momento, Miguel Fernando julgava encerrado o assunto.

“Mas essa pessoa insistiu”, explicando que, um tempo depois, o tal informante o visitou em Maringá com o indicativo de que teria achado a localização do ex-soldado. Assim, o escritor chegou até o advogado de um dos algozes de Clodimar. “Eu escrevi uma carta de próprio punho, mandei um livro para o advogado”.

Segundo Miguel Fernando, o doutor ligou depois e disse que havia conversado com seu cliente, que começou uma nova família em outra localidade e manteve o episódio de 1967 em sigilo. Por isso, o ex-soldado, hoje um senhor com mais de 80 anos de idade e que sofre de sérios problemas de saúde, não queria mais tocar no assunto.

O objetivo do contato era possibilitar ao acusado apresentar sua versão dos fatos ou até mesmo pedir desculpas para a sociedade maringaense, conforme relata o pesquisador. Porém, até o momento isso não ocorreu.

Assim, seguiram-se 2019, 2020, 2021 e, em 2022, o coordenador do Maringá Histórica analisou que o caso completaria 55 anos e muitos leitores ficaram sem acesso à 2ª edição de “Sala dos Suplícios”, esgotada. “É uma resposta à sociedade disponibilizar uma nova edição e trazer novas informações que eu já havia colhido desde 2017”, destacando que, embora seja um caso triste, “é uma história necessária e importante para o contexto social da cidade de Maringá”.

Nova edição apresenta informações inéditas sobre o caso (Crédito da Foto: Cristiano Martinez)

Santo
Além dessa descoberta do paradeiro, o livro contém outras informações e um novo prefácio escrito pela professora universitária Solange Ramos de Andrade, que é especialista em história das religiões. “Porque eu queria ter uma visão, uma análise, sobre a perspectiva de santo popular”, afirma Miguel Fernando.

Vale lembrar que o túmulo de Clodimar é o mais visitado no Cemitério Municipal da Cidade Canção, recebendo uma multidão de fiéis durante o ano todo. Aliás, ele se tornou uma espécie de santo para a população, porém não reconhecido pela Igreja Católica.

Entenda
“O livro retrata um dos mais complexos casos policiais e jurídicos da cidade. Retirante, Clodimar Pedrosa Lô vem tentar a sorte na cidade de Maringá. Morando com o tio, começa a trabalhar como ajudante geral no Palace Hotel, local que foi acusado de furto em 23 de novembro de 1967. Levado pela polícia para averiguação, o garoto então com 15 anos, foi torturado até a morte”, diz o site do Maringá Histórica.

Em seguida, a população cobrou resposta, quando o Governo do Estado do Paraná promoveu profundas transformações nas forças de segurança pública. “O pai de Clodimar, Sebastião, veio do Nordeste em busca de respostas. Não tendo encontrado os soldados que haviam assassinado o seu filho, vingou-se do gerente do Palace Hotel que chamou a polícia, Attílio Farris. Após três juris populares, Sebastião foi absolvido e até hoje o caso, que vitimou duas famílias, os Lô e os Farris, ainda chama atenção”.

Terceira edição teve lançamento no dia 26 de novembro (Crédito da Foto: Cristiano Martinez)

História
Durante a conversa, Miguel Fernando observa que Maringá, embora seja uma cidade relativamente jovem (75 anos), tem ainda uma gigantesca história a ser descoberta.

“O caso Clodimar é muito emblemático pelo fato dele ter promovido um desvelamento do que acontecia nos porões da Delegacia de Maringá”.

Segundo o autor, as pessoas tinham noção do perigo de entrar nesse órgão de segurança, citando também o temível Jeep 28 utilizado pelos homens da lei. Mas eram registros muito pontuais pela imprensa. “Quando acontece o caso Clodimar, me parece que era o estopim que as pessoas esperavam para cobrar das autoridades respostas. Além de ser um crime de tortura que leva à morte, é um jovem de 15 anos”, resumindo que se trata de um conjunto de equívocos legais e operacionais eclodidos nesse caso.

Miguel Fernando aponta que, como a “panela está fervendo”, esse episódio trágico vem para transbordar o contexto e trazer à tona o problema. Diante da pressão popular, só restou às autoridades da época, nos anos de 1960, tomar providências e dar à sociedade uma resposta, como foi o caso da destituição de comandantes.

********Confira trecho em áudio da entrevista com o autor:

Trecho da entrevista com o autor

Serviço
Com tiragem de 1.000 exemplares, “Sala dos suplícios: o dossiê do caso Clodimar Pedrosa Lô” (iPerfil Editora, 2022, 224 págs.) está à venda na Melômano Discos (rua Arthur Thomas, 288 – Loja 3, Centro de Maringá), por R$ 50.

*****Confira fotos do lançamento do livro em evento no dia 26 de novembro, no Shopping Avenida Center:

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