Alguma coisa vamos aprender com tudo que estamos vivendo? É uma pergunta que todos fazem a si mesmos. Em 2020 tudo foi muito incerto e lidar com incerteza não é coisa que se faça com facilidade. O futuro não conseguimos prever, mas podemos pensar sobre o que vai acontecer com a gente daqui para frente, ou sobre o que faremos hoje. Em que você está pensando enquanto lê este texto?
Compartilhe com um profissional o que está pensando. A escuta especializada faz a diferença. Não é necessário falar do futuro, mas caso você queira, por que não? Como vamos ficar depois que a pandemia acabar, como lidaremos com o ano que está por vir, quando retornaremos à rotina que estávamos acostumados… Sei apenas que podemos conversar, e que conversar nunca foi tão essencial.
Eu sou o Bruno, psicólogo formado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-graduando em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Durante minha graduação, dediquei-me a temas relacionados ao envelhecimento, morte e luto, e sendo assim, este espaço servirá para dialogarmos e refletirmos sobre esses e outros assuntos relacionados à psicologia.
Você também pode enviar sugestões de temas para serem abordados aqui, pois sua participação é essencial!
O tema escolhido para esta edição de abertura do jornal O Maringá foi a realização da psicoterapia com pessoas de idade mais avançada, lembrando que Maringá ocupa a 22ª posição entre as cidades do Brasil que possuem mais idosos. Segundo estudo realizado pela Macroplan no início de 2020, Maringá possui cerca de 13,6% da população com mais de 60 anos, e 1,8% da população já passou dos 80 anos! No âmbito estadual, Maringá fica atrás somente de Londrina, que ocupa o 13º lugar do resultado obtido na pesquisa nacional.
Então, por que não conversarmos sobre essa parcela da população que, em muitos momentos, tornam-se tão resistentes a aderirem a psicoterapia por pensarem que já “passaram do ponto” para resolver algumas questões?
“Eu, fazer terapia nessa altura do campeonato, com a minha idade?” Esta é uma fala que ouço com frequência quando pergunto a alguns idosos se eles fazem ou teriam interesse em fazer algum tipo de acompanhamento psicológico. Pois bem, o que nós poderíamos responder?
É sabido que o envelhecer é um processo no qual o sujeito deve ser compreendido em sua singularidade, e essa compreensão, para ser total, precisa abranger todos os prazeres e desafios que a “nova idade” proporciona. Desse modo, poderíamos responder ao nosso interlocutor que a psicoterapia seria o espaço para seu reencontro com o passado, no qual resgataríamos o que já foi vivido, ao mesmo tempo em que o sujeito se retorna ao que vive hoje e ao que será vivido futuramente.
Então, na psicoterapia (partindo de um viés psicanalítico) pressupõe-se que escutamos o sujeito do inconsciente e que para este o tempo não existe. Assim, um fator positivo para a realização de psicoterapia em idade mais avançada é que esse processo dá a possibilidade ao sujeito de se encontrar com seus desejos, pois apesar de aparentar certo envelhecimento, a pessoa idosa continua sendo um sujeito desejante, e devemos ter sempre em mente que nem os sentimentos, muito menos os desejos dos idosos, envelhecem.
Portanto, a psicoterapia com idosos contribui na busca da compreensão do sujeito envelhecido em seu novo modo de estar no mundo, das maneiras como se relaciona e do modo de habitar um corpo envelhecido.