Tanto a Guerra de Canudos como a Guerra dos Pelados (“A Guerra dos Pelados” lembra o episódio histórico da Guerra do Contestado: 1912-1916) estão envolvidos aspectos políticos, econômicos, sociais e religiosos que envolveram esses dois movimentos sociais ocorridos nas décadas iniciais do regime republicano.
Guerra de Canudos é um filme brasileiro de 1997, do gênero drama, dirigido por Sérgio Rezende. É baseado no célebre episódio real da história brasileira, a Guerra de Canudos, na qual o exército brasileiro enfrentou os integrantes de um movimento religioso liderado por Antônio Conselheiro, e que durou de 1896 a 1897 e terminou com o massacre dos insurgentes pelas tropas federais . Acessado em: 05 jul. 2022).
O filme relata a história de Antônio Conselheiro e seus seguidores tentaram escapar da seca no Nordeste, vivendo em comunidade, conseguiram diminuir e até evitar uma seca maior naquele período. Nessa perspectiva, gerou um conflito contra os grandes latifundiários na recém-criada república brasileira.
Isso aconteceu porque os grandes latifundiários queriam evitar o número de pessoas e consequentemente à influência que seria exercida pelos habitantes da comunidade de Canudos sobre outros moradores pobres da região e enviaram tropas para exterminá-los. Nas três primeiras expedições as tropas fracassaram e somente na quarta obtiveram sucesso e exterminam boa parte dos habitantes de Canudos.
A rebelião conhecida como Guerra de Canudos deu-se em virtude da situação precária em que vivia a população, sem terra e obrigada a se submeter às pressões dos coronéis. As terras pertenciam aos grandes proprietários rurais – os conhecidos coronéis – que as transformaram em territórios improdutivos desigualdades sociais.
Essa situação revoltou os sertanejos, que se uniram em torno de Antônio Conselheiro, o qual pregava ser um emissário de Deus vindo para abolir as desigualdades sociais e as perversidades da República, como a exigência de se pagar impostos, por exemplo. Os moradores do arraial acreditavam ser ele um divino mestre, que já praticara até milagres. Antônio Conselheiro fundou o vilarejo denominado Canudos e os sertanejos e suas famílias para lá passaram a migrar.
Vários fatores contribuíram para o desenvolvimento de Canudos. O clima seco castigava severamente a região, danificando o plantio de alimentos, secando os diques e matando os animais que não resistiam à falta de água. Os sertanejos também tentavam sobreviver, mas a cada ano milhares morriam de fome e sede.
Os habitantes de Canudos precisavam se resguardar e decidiram então organizar milícias armadas, pois era de se esperar uma reação contrária da parte dos coronéis e da Igreja Católica. Enquanto a igreja perdia seus fiéis, os coronéis sentiam-se prejudicados com o constante deslocamento de mão-deobra para Canudos, que prosperava a olhos vistos.
A população abandonou a sociedade republicana convencional, que até então só a alimentara de falsas promessas, e partiu para na direção da nova sociedade que despontava. Mesmo sem nenhuma garantia, pois não havia falsas promessas, o que era mais honesto. Os padres e coronéis coagiram o governador da Bahia a tomar providências urgentes, eles queriam que o governo desse fim a Canudos.
Nesta época o desenvolvimento econômico dava-se na região Sudeste do Brasil, onde a cultura cafeeira e os barões do café compunham uma elite agrícola. Já no Nordeste, a situação era bem diferente. Após e retirada dos nordestinos entre 1877 e 1879 – período da Grande Seca – a região passou por um dos períodos mais miseráveis de sua história, com os habitantes procurando por lugares melhores para a agricultura e moradia.
Podemos analisar, ainda, que os três combates vencidos por Antônio Conselheiro geraram um fortalecimento em Canudos. Portanto, o Governo Republicano viu-se na obrigação de organizar a quarta expedição em 05 de outubro de 1897, liderada pelo ministro de Guerra Carlos Bittencourt sob o comando do general Arthur Oscar de Andrade Guimarães. Todavia, com o recrutamento de mais de 10 mil soldados republicanos, Canudos foi tomada com muita violência, não foi poupado ninguém, foram motos além dos homens, mulheres, idosos e crianças, sendo considerado um dos massacres mais sangrentos da história brasileira.
A Guerra dos Pelados – Drama que recorda a Campanha do Contestado no início do século XX em Santa Catarina e Paraná. Ano de estreia 1971, gênero drama – direção: Sylvio Back.
O filme “A Guerra dos Pelados” lembra o episódio histórico da Guerra do Contestado (1912-1916). O filme se passa em outono de 1913, no interior de Santa Catarina. O conflito envolvia a concessão de terras a uma companhia da estrada de ferro estrangeira para explorar as riquezas naturais através de uma serraria subsidiária e a ameaça de redutos messiânicos de posseiros expropriados. Por exigência dos coronéis (grandes proprietários) da região, forças militares regionais e o Exército nacional intervêm. Chamados de “pelados” por rasparem a cabeça, os expropriados se revoltam e protagonizam uma resistência à semelhança de Canudos. (Fonte: . Acessado em: 05 jul. 2022).
O Filme relata os problemas agrários gerados pelo Coronelismo nas regiões dos planaltos de Santa Catarina e Paraná. Situada entre os rios Uruguai, Iguaçu e Negro e a fronteira da Argentina, a região do Contestado era disputada por Santa Catarina e Paraná por causa da rica floresta existente e da extensa plantação de erva-mate. A área atraiu grandes companhias, que expulsavam os posseiros locais.
A situação agravou-se com a construção da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande do Sul (passando o contrato à Brazil Railway Company). No final da obra, grande parte dos trabalhadores contratados tinha o projeto de permanecer na região. Contudo, os especuladores e as grandes companhias de madeiras exigiam a saída imediata deles, impedindo-os de ocupar os trechos próximos à ferrovia.
A multiplicação do número de trabalhadores sem terra criou um clima propício e agitações e conflitos. Foi nesse contexto que surgiu Miguel Lucena Boaventura, ex-soldado do Exército que se fazia chamar de monge José Maria.
Beato e curandeiro, o monge ajudava os caboclos e pregava uma sociedade igualitária. Seu propósito era resistir aos que pretendiam expulsar a população que seguiu o líder confiante na promessa de justiça divina (até mesmo sendo comparado com Jesus Cristo).
Os primeiros choques armados ocorreram em 1912. De um lado, a milícia da Monarquia Celeste, cujos integrantes raspavam o cabelo e ficaram conhecidos como pelados. Do outro lado ficavam os peludos, que eram jagunços contratados pelas empresas, policiais e soldados do Exército.
A Guerra do Contestado foi iniciada em 1912, entre as tropas regulares bem equipadas (armas de fogo) sob o comando do comandante João Gualberto, e o exército improvisado de homens rudes que portavam armas obsoletas – fuzis, facões, paus a espadas sob as ordens do beato. Foi elevado o número de baixas de ambos os lados, mas a vitória foi dada aos rebeldes – o monge José Maria morreu combatendo, mas os fanáticos não esmoreceram, pois acreditavam na sua ressurreição. Morreu também o comandante João Gualberto, das tropas governamentais.
Dali por diante, o conflito foi ganhando em intensidade, crueldade e extensão, sendo os anos de 1914 e 1915 tidos como seu auge. Diversas investidas das tropas foram feitas, a partir de 1914 e, numa ação conjunta dos estados de Santa Catarina e Paraná e o governo federal contra o reduto de Taquaruçu, o local foi tomado e incendiado.
O governo federal também endureceu, nomeando o general Fernando Setembrino de Carvalho como comandante das operações. Chegando a Curitiba, em setembro de 1914, com uma força de 7 mil homens, ele conseguiu reverter à situação e “pacificar” a região. Trocou a estratégia anterior, dos encontros diretos, por cercos prolongados aos núcleos resistentes, que dominava inclusive pela fome – os caboclos então começaram a render-se, com predominância dos velhos, mulheres e crianças dos povoados.
No capítulo 6 do livro “República: Estado e sociedade – 1889/1945”, com o título “As Lutas Sertanejas na Primeira República”, do autor Paulo Pinheiro Machado, Professor Doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina, podemos verificar que entre abril de 1915 e janeiro de 1916 o movimento viveu seu declínio com o aumento da escassez e da fome nos redutos (depois de Santa Maria os rebeldes se reuniram em Pedra Branca e São Pedro), com a retirada da tropa federal e o emprego maciço de vaqueanos civis, o que aumentou a violência e as execuções de prisioneiros ao final do conflito. O movimento do Contestado significou um importante episódio da luta das classes populares do Brasil, representando muito mais que uma luta reativa ou de resistência, mas a invenção de uma nova forma de vida em sociedade. (MACHADO, 2012, p. 93)
Nessa perspectiva, tanto Canudos quanto o Contestado representaram episódios que envolveram os miseráveis, os excluídos, os ignorantes, os supersticiosos, fanáticos, contra autoridades militares, políticas e religiosas. Dessa forma, o estudo desses conflitos brasileiros nos instiga as comparações, pois encontramos entre eles uma série de semelhanças nos aspectos políticos, sociais, econômicos e religiosos.
Referências Bibliográficas:
GUERRA DE CANUDOS. Disponível em: < . Acesso em: 05 jul. 2022.
A GUERRA DOS PELADOS. Disponível em: < . Acesso em: 05 jul. 2022.
MACHADO, Paulo Pinheiro. As Lutas Sertanejas na Primeira República. In: ROLIM, Rivail Carvalho (org). História do Brasil V – República: Estado e sociedade – 1889/1945. Coleção História e Conhecimento. Maringá: Eduem, 2012. p. 93.
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