“Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos, pela última vez, Olga.”
Olga é um filme brasileiro produzido em 2004 pelo diretor Jayme Monjardim, inspirado na biografia escrita por Fernando Morais sobre a alemã, judia e comunista Olga Benário Prestes. No filme, estrelam – Camila Morgado como a protagonista, Caco Ciocler como Luís Carlos Prestes e Fernanda Montenegro como Dona Leocádia Prestes, mãe de Luís Carlos Prestes. Olga foi um grande sucesso de bilheteria; 385 mil pessoas o assistiram o filme apenas no fim de semana de estreia no Brasil. A obra também recebeu três prêmios no Grande Prêmio Brasileiro de Cinema de 2005, mas teve recepção negativa da imprensa alemã. Olga Benário (Camila Morgado) é uma militante comunista desde jovem, que é perseguida pela polícia e foge para Moscou. Em Moscou, Olga faz treinamento militar. Lá ela é encarregada de acompanhar Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler) ao Brasil para liderar a Intentona Comunista de 1935, se apaixonando por ele na viagem. Com o fracasso da revolução, Olga é presa com Prestes, ela esta Grávida de 2 meses, é deportada pelo governo Vargas para a Alemanha nazista e tem sua filha Anita Leocádia na fazenda de seu pai. Afastada da filha, Olga é então enviada para o campo de concentração de Ravensbrück, onde é morta na Câmara de Gás sufocada. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Olga_(filme). Acessado em: 29 jun. 2022).
O filme relata a história de Olga Benário Prestes. Nascida em Munique na Alemanha, em 1908 e filha de pais judeus. Ela se tornou ativista do comunismo. Após libertar seu Otto Braun da cadeia, eles são forçados a fugir para União Soviética e receberam treinamento para a guerrilha.
Em meados de 1933, Olga aderindo ao Partido Comunista, conhece mais tarde Luís Carlos Prestes que pertence à Aliança Nacional Libertadora – ANL, onde o qual se torna um dos principais líderes comunistas do Brasil. A partir de 1934, Prestes volta ao Brasil com a intenção de liderar uma Revolução Armada Internacional Comunista, juntamente com Olga na intenção de derrubar o governo de Getúlio Vargas.
Nesse sentido ex-líder da Coluna Prestes, Luís Carlos Prestes optou por um caminho mais radical. Crítico da união dos jovens políticos com a dissidência oligárquica, Prestes decidiu não participar da revolução e lançou seu próprio Manifesto Revolucionário. Declarava-se socialista e sustentava que a mera de troca de homens no poder não atenderia às reais necessidades da população brasileira. Nesse período a relação amorosa entre Olga e Prestes fica cada vez mais intensa e em 1935 ela fica grávida. Nesse sentido, o movimento revolucionário é derrotado pelas forças de Getúlio Vargas. Tanto Olga como Prestes foram presos pelo chefe de polícia Filinto Muller.
Mesmo casada com Prestes e a espera de uma filha, o governo de Vargas não teve pena em deportá-la, porque Vargas tinha uma simpatia com a ditadura de Adolf Hitler. Vargas e nos seus governos (Provisório, Estado Novo e a Ação Integralista Brasileira – AIB), inspirou-se no movimento nazi-fascismo, com o apoio de grupos dominantes conservadores (contra ao comunismo).
Olga nesse momento fora deportada grávida. Na prisão mais tarde ela dá a luz uma menina e batiza com o nome de Anita Leocádia Prestes, homenageando a mãe de Prestes, Dona Leocádia.
Após anos na prisão no campo de concentração de Ravensbrück, a opinião pública internacional fez inúmeras tentativas para libertá-la, sendo tudo em vão. Mas tarde sabendo que a sua hora da morte na câmara de gás estava chegando, ela escreveu uma carta comovente de despedida de Prestes e sua filha.
No final do filme em aproximadamente 2:12:48, Olga relata as seguintes palavras na carta: “Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos, pela última vez, Olga.”
Mesmo com a repressão que Olga sofreu tanto no Brasil por ser deportada no período da Era Vargas para a Alemanha nazista, ela manteve sempre firme e a coragem de enfrentar um sistema político autoritário. Olga escreve sua última carta, revelando não se render à morte porque acreditava que a causa dos proletários prosseguia, e que as novas gerações viveriam em um mundo sem a exploração do homem pelo homem.
No capítulo 9 do livro “República: Estado e sociedade – 1889/1945”, com o título “Repressão Política e Social na Era Vargas – Rupturas, Permanências e Autoritarismo”, do autor Márcio José Pereira, Professor da rede pública do Estado do Paraná, Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá, enfatizou que em 1924, com a criação da Delegacia de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo, a trindade vigilância, repressão e controle foi sacramentada. Consequentemente, o modelo de São Paulo se espalhou por todo o Brasil. Vargas não teve dúvidas em apoiar a lógica de suspeição defendida pelas delegacias, e em 10/01/1933, por meio do Decreto 22.332, criou a Delegacia Especial de Segurança Política e Social, para poder gerenciar todas as delegacias de polícia e a estrutura de coerção como um todo. O DOPS permaneceu em atividade no Brasil até 1983. A polícia tornouse a gestora dos atos repressivos, como frisamos acima, e em favor do Estado assumiu o papel de órgão disciplinador do povo brasileiro (PEREIRA, 2012, p. 127 – 128).
O autor enfatizou que havia toda uma estrutura organizada, com um organograma rígido e hierarquias definidas, mas sempre havia brechas, e não era incomum nos julgamentos realizados pelo TSN (órgão que Vargas havia criado, em 1934, o Tribunal de Segurança Nacional) se descobrir que havia um preso político sem que tivesse efetivamente cometido um crime. Muitas vezes as fichas eram recheadas de frases como: “Constitui perigo à nação brasileira”, “Pertence ao credo vermelho”, etc., mas o indivíduo não necessariamente havia cometido crime político; muitas vezes era delação de alguém por vingança, medo, e até mesmo por brincadeiras de mau gosto. No sentido de mobilizar o povo contra um perigo comum, a imprensa varguista e a DOPS trabalhavam incansavelmente para incutir na turba os perigos nefastos que o comunismo – e consequentemente seus adeptos – trariam para o país. Os comunistas tiveram a maior atenção do governo Vargas durante o período de gestação do Estado Novo. (PEREIRA, 2012, p. 128).
Podemos entender nesse contexto que Vargas via-se na situação de fragilidade do seu governo. O seu regime autoritário e repressivo fez com que as camadas sociais, principalmente as inferiores, passassem por uma atuação de brutalidade e violência, como era vivida na Alemanha no regime de Hitler. Devemos deixar claro que Vargas não estava preocupado em moldar o país conforme Hitler em uma raça ariana, ou seja, raça única, ele queria ela estabelecer a forma de governo sem liberdades – políticas, sociais e econômicas da população. Nesse sentido o autor enfatiza que a situação frágil entre o governo e os grupos de esquerda levou ao derramamento de sangue, quando, em 1935, os comunistas, organizados, ameaçaram destituir Vargas do poder. A chamada Intentona Comunista de 1935 não conseguiu se estabilizar, uma vez que, fracassada, serviu de bode expiatório para todo tipo de medidas autoritárias e repressivas contra grupos considerados exógenos. O discurso anticomunista e amplamente nacionalista era inflamado, opulento, e seu vociferar intimava o povo a se unir em favor do Brasil e contra o monstro do comunismo. Apelavase para os símbolos nacionais, para a figura do presidente, para a religião, para os mitos que se espalhavam com velocidade meteórica e tornavam a família brasileira alvo da moral e dos bons costumes.
Nesse sentido, nem os mais despreocupados com os rumos da nação passaram incólumes aos perdigotos nacionalistas derramados pelas inúmeras bocas pró-Getúlio. Nada nos impede de dizer que o malogrado levante comunista foi à chance que o Estado esperava para estabelecer um estado de exceção permanente, buscando dar maior flexibilidade à ação do aparato repressivo policial, de forma a dar plena liberdade de atuação para a brutalidade e a violência da polícia. Foi decretado estado de sítio por 60 dias, a partir de 25 de novembro de 1935, o qual, de maneira sutil, prolongou-se até junho de 1937. O primeiro ato repressivo contra os imigrantes foi justamente de encontro às questões educacionais: as escolas de língua estrangeira foram nacionalizadas, e qualquer língua que não fosse a portuguesa era símbolo de contestação ao Estado Novo e ao verdadeiro Brasil. O impacto da proibição dos idiomas estrangeiros foi imenso. Nas comunidades mais fechadas poucos haviam tido contato com o idioma vernáculo: somente as crianças possuíam maior contato, por intermédio das escolas. Cabe-nos ressaltar que o investimento para a educação básica desses imigrantes era mínimo e que a maioria das escolas, fundadas tanto nas colônias quanto nas cidades, foram subsidiadas pelo governo desses países estrangeiros, e que, mais ainda, a preocupação com a educação dos próprios brasileiros era novidade para muitas famílias. Nesse momento decisivo, tendo colocado os comunistas fora do seu caminho, o Estado e seus intelectuais passaram a procurar dar combate a todas as situações que pudessem levar o Projeto de Nacionalização à derrocada. Nesse sentido percebemos um discurso de inversão de discursos, quando os intelectuais ligados a Vargas evidenciaram que os imigrantes constituíam o grande perigo. Vale ressaltar que esses imigrantes, no século anterior, chegaram ao país com a missão de salvá-lo da própria sorte (PEREIRA, 2012, p. 129, p, 131).
Nesse contexto podemos perceber que o autoritarismo repressivo de Vargas não foi penas adotada para a população brasileira. Ato repressivo contra os imigrantes que aderiram ao comunismo, como foi o caso de Olga, foi intenso, agressivo, violento e até deportados como criminosos de guerra, como foi o caso dela. Porém, depois da entrada na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados (EUA), Vargas muda o foco em relação aos inimigos do governo, elegendo especialmente os estrangeiros/imigrantes (alemães) como inimigos do governo e, principalmente do país.
A partir do filme Olga e do livro “República: Estado e sociedade – 1889/1945”, com o título “Repressão Política e Social na Era Vargas – Rupturas, Permanências e Autoritarismo”, do autor Márcio José Pereira, no capítulo 9, podemos concluir que a Era Vargas foi um regime autoritário e repressor durante os períodos de 1930 – 1945. Dessa forma, seja o aspecto positivo ou negativo desse período, a Era Vargas suscita muito a visão acadêmica como fonte rica de pesquisas histórias para que possamos entender o Brasil de hoje.
Referências Bibliográficas
OLGA. Disponível em: < ; Acesso em: 29 jun. 2022
PEREIRA, Márcio José. Repressão Política e Social na Era Vargas – Rupturas, Permanências e Autoritarismo. In: ROLIM, Rivail Carvalho (org). História do Brasil V – República: Estado e sociedade – 1889/1945. Coleção História e Conhecimento. Maringá: Eduem, 2012. p. 127 – p.131.