A cerimônia do chá japonesa, chanoyu 茶の湯, é uma atividade tradicional com influências do Taoísmo e Zen Budismo, na qual o chá verde em pó é preparado cerimonialmente e servido aos convidados. O praticante da cerimônia do chá precisa ter conhecimento de uma ampla gama de artes tradicionais, além dos procedimentos formais de seu estilo de chanoyu, que podem passar de uma centena. Assim, o estudo de cerimônia do chá praticamente nunca termina.
O hábito de tomar chá foi trazido da China para o Japão pelos monges no século IX. O costume iniciou-se de forma medicinal e era um artigo de luxo, pois a erva tinha que ser importada da China. No século XII, um novo tipo de chá surge, o matcha, considerado um chá verde mais forte retirado da mesma planta de chá preto. Dos monastérios o hábito chegou à aristocracia japonesa. Finalmente, no século XVI, o hábito de beber chá se popularizou, chegando a atingir todas as camadas sociais do Japão. O Mestre Sen no Rikyu, considerado a figura histórica mais influente na prática da cerimônia do chá, foi quem configurou a forma que a cerimônia é praticada e que perdura até os dias de hoje.
Toda cerimônia é muito profunda de significados, pois os monges colocaram muito da filosofia budista na prática. Para Vinícius Mofernatti (36), a cerimônia significa entregar o que você tem de melhor para o outro. O cerimonialista precisa de muito estudo, disciplina e dedicação a fim de polir o seu espírito para poder dedicar isso para as outras pessoas. Existe um provérbio japonês ichi go ichie, 一期一会, que significa “os encontros na vida são únicos” portanto, para Mofernatti, a cerimônia é a celebração dos encontros. Por mais que possamos repetir encontros com as mesmas pessoas, no mesmo lugar, cada encontro é único. “Quando realizamos a cerimônia do chá, o objetivo é tornar aquele momento inesquecível para quem estiver participando e a maneira de tornar o encontro único é fazer a cerimônia com o máximo de atenção, entregando o que temos de melhor, tanto nas intenções de espírito quanto utilizando os melhores utensílios que temos à nossa disposição”, afirma.
Os conhecimentos sobre a cerimônia do chá chegaram ao Brasil através dos imigrantes. Em 1954, por ocasião do IV Centenário da Cidade de São Paulo, os imigrantes japoneses construíram o Pavilhão Japonês e doaram à Cidade e em sua inauguração, foi apresentada a Cerimônia do Chá e, desde então, o Chanoyu vem sendo difundido.
Para obter mais informações sobre a prática e verificar as localidades onde a cerimônia é realizada, visite o site: https://www.chadourasenke.org.br/
Vinícius Mofernatti e a paixão pela cultura japonesa
Durante a realização do Costão Matsuri 2021, no Costão do Santinho Resort, os participantes puderam aprender um pouco sobre a Cerimônia do Chá, que foi conduzida por Vinícius Mofernatti, um descendente de russos, espanhóis e italianos que é apaixonado pela cultura japonesa. Essa ligação com os japoneses teve início na sua cidade natal, Cornélio Procópio, onde a presença da comunidade nipo-brasileira é bem marcante. Ele conta que sua mãe tinha uma amiga japonesa que costumava cantar para os filhos em japonês. A mãe de Vinícius não sabia o significado da música, mas aprendeu a melodia e cantava a música “Kutsu ga Naru” enquanto preparava a mamadeira para o filho. Vinícius cresceu tendo contato com a cultura e o seu interesse pelas tradições e costumes japoneses foi se intensificando até que em 2001, aos 15 anos de idade, mudou-se para Curitiba e começou a estudar a Língua Japonesa. Depois de um tempo, tornou-se praticante da Meditação Zen Budista Zazen, estudou inúmeras artes orientais tais como o taiko, shamissen, caligrafía, literatura e haiku. Seu primeiro contato com a cerimônia do chá foi através da Profa. Teruko Iwakami Beltrão em 2005. Chegou a fazer algumas aulas com ela, porém ela adoeceu e acabou falecendo. Dois anos após a sua morte, três de seus ex-alunos se reuniram para não deixar que a prática caísse no esquecimento. Hamako Hara, Massako Ishida e Clécio Santos reiniciaram as práticas e foi com eles que Vinícius aprendeu sobre o chanoyu. “A prática da cerimônia do chá mudou a minha visão de mundo. Aprendi a enxergar a beleza nos pequenos detalhes e tomei consciência de que todos os encontros são únicos”, comenta.
Durante as inúmeras apresentações que fez no Costão Matsuri 2021, alguns participantes do evento tiveram o privilégio de degustar o chá após uma breve explicação sobre os significados de todos os movimentos, dos utensílios utilizados e do sentimento que prevalece durante toda a cerimônia. Realmente, uma experiência única e inesquecível.