Não é novidade afirmar que Kenji Ueta é, sem dúvida, o maior fotógrafo de Maringá. Mas quem é o homem por trás da câmera fotográfica que imortalizou o desenvolvimento da Cidade Canção? A coluna foi em busca de conhecer o homem por trás das lentes que, infelizmente, nos deixou no ano passado, vítima de Covid-19.
Nascido na província de Fukushima, no Japão, em 1927, Kenji Ueta chegou ao Brasil em 1933, juntamente com seus pais e irmãos. Como a maioria dos imigrantes japoneses, a família enfrentou inúmeros desafios, pois tudo no Brasil era muito diferente do Japão. O pai, Sawaiti, não se adaptou ao trabalho extremamente pesado, à estranha comida e falta de infraestrutura e acabou falecendo três anos depois. A primeira fazenda de café onde a família se estabeleceu foi na região Mogiana. Depois, acabaram indo trabalhar com algodão em Bauru, interior de São Paulo. De lá mudaram-se para Pompéia, também no interior paulista, onde Ueta casou-se com Yoshico. Ficou durante um tempo na capital São Paulo, mas não se acostumou à vida na cidade grande e, em julho de 1951, transferiu-se para Maringá, onde viveu até os 93 anos. Chegou na cidade de avião, junto com a esposa e o filho Shiniti. Em Maringá, nasceu sua filha Akemi.
Ueta começou a fotografar com a antiga máquina “lambe-lambe” e só comprou o equipamento portátil em dezembro de 1951. Ficou em dúvida se adquiria a máquina ou uma casa, mas para a felicidade dos maringaenses, decidiu investir no equipamento. Em 1952, comprou o Foto Lux e o transformou no Foto Maringá.
Kenji Ueta sempre foi um homem visionário, do tipo que consegue pensar fora da caixa. Muito antes de existirem empreendimentos comuns nos dias atuais, tais como uma casa de festas ou produção de cestas matinais, ele já apontava a necessidade de criar esse tipo de negócio. Sempre preocupado com a preservação da cultura nipo-brasileira, Ueta dedicou sua vida a manter as tradições vindas da Terra do Sol Nascente. Muitas vezes atuou nos bastidores e, mesmo sem levar os louros do trabalho realizado, ficava feliz por ter contribuído com o evento. Sua filha Akemi lembra da vinda do imperador Akihito e da princesa Michiko em 1978, quando Ueta mandou seu filho Shiniti elaborar um dossiê com estatísticas a respeito de Maringá. Sem dúvida alguma toda essa demonstração de organização por parte das autoridades maringaenses contribuiu para a inclusão de Maringá no roteiro de visitas da família imperial.
Ueta nunca mediu esforços para contribuir com o crescimento da cidade e com a preservação da cultura japonesa. Humilde e atencioso, tratava a todos com respeito e participava dos eventos dos diversos grupos ligados à comunidade nipo-brasileira. Ao ser indagado sobre qual era a sua religião, ele dizia que eram todas e utilizava a seguinte metáfora: “Imagine uma montanha. Deus está no topo da montanha e na base estão as inúmeras religiões. A diferença é que cada religião vai subir a montanha por um caminho. Um vai subir em espiral, outro em linha reta, outro em curvas e outro em zig zag. No entanto, apesar dos caminhos serem diferentes, todos levam para o mesmo lugar”. Dessa forma simples e natural, ele explicava sobre a vida e através do seu exemplo, ensinava as pessoas com quem convivia a respeitarem-se mutuamente.
Falar das inúmeras fotos emblemáticas do acervo de Ueta seria impossível. Em cada foto é possível observar o olhar cirúrgico do fotógrafo que consegue captar a essência daquela imagem. Suas fotos parecem conversar com quem as observa e retratam a alma dos acontecimentos. Isso é um talento inato que Ueta possuía e por isso seu legado é incomparável. Realmente, Maringá foi privilegiada pelo fato de um profissional do calibre de Ueta tê-la escolhido como seu lar e ter permanecido distribuindo seus cliques durante tantos anos.