E a vida seguiu assim e sempre que eu me deparava com a situação de maus tratos ou abandono dos animais, aquilo me incomodava. Com o passar dos anos este incômodo foi aumentando, até que, há aproximadamente oito anos, eu resolvi partir para a ação. Eu precisava fazer algo de concreto pela causa animal.
Comecei dando abrigo na minha casa para animais em condições degradantes de saúde, extremamente debilitados fisicamente e muitas vezes com traumas terríveis. Via de regra esses animais viam os Seres Humanos como carrascos. É indescritível a sensação de vê-los se recuperando, as formas deixarem de ser cadavéricas e ver as pontas de ossos que quase rasgam uma pele maltratada e, por vezes, repleta de feridas purulentas, dar lugar a animais fortes e sadios. É algo que não tem como explicar. Perceber aquele olhar de tristeza de desesperança se transformar na admiração e no amor incondicionais que só os animais resgatados possuem me fez perceber que aquelas pequenas atitudes estavam fazendo tão bem pra mim quanto pra eles. A cada resgate eu me sentia uma pessoa melhor.
Com o tempo o meu engajamento foi aumentando e minha casa ficou pequena para tantos animais e eu comecei a buscar uma maneira de facilitar sua adoção pois alguns animais não possuem um perfil que favoreça que sejam adotados. Os motivos principais para isso são as cicatrizes, a idade e as deficiências físicas. Estas são os excluídos e podemos considera-los como o grupo mais vulnerável dos animais abandonados. E o melhor jeito que encontrei foi justamente como uma facilitadora de adoções, oferecendo para eles um lar temporário, pois um animal saudável, limpo, vacinado e com garantia de castração gratuita aumenta demais as chances de adoção.
Nestes oito anos já consegui doar mais de 200 cães. A média de tempo que levamos para isso varia com o estado de saúde do animalzinho. A média são dois a quatro meses e em alguns casos os lares temporários se tornam definitivos.
Apesar de toda a dedicação, o momento mais difícil é a despedida. É um misto de alegria por ter cumprido a minha missão e poder ver o animalzinho ganhando um lar definitivo, com uma pontinha de tristeza com a partida deles. Mas a tristeza logo dá lugar a uma alegria muito grande porque eu acompanho a adoção por um período e os adotantes me enviam fotos e vídeos do dia a dia que são a minha maior recompensa. É muito gratificante poder ver a felicidade de uma criança que ganhou um cachorrinho e que agora ambos vão se desenvolver melhor. Esta semana aconteceu isso e sou muito grata. Doei um filhote para uma família e a criancinha chorou muito por ter ganhado seu primeiro pet de estimação.
Hoje me sinto realizada fazendo isso, sendo um elo de ligação entre um lar e um animalzinho e a cada doação tenho aquela sensação boa de ter feito a coisa certa e de ter ajudado ambos, as famílias e os animais. E não há recompensa maior do que a certeza de ter feito algo bom”.
Juliana Maia Bettini participa do projeto “PetLar Solidário” criado pela prefeitura de Maringá, por meio da Diretoria de Proteção e Bem-Estar Animal (BEA). O objetivo do projeto é que moradores ofertem Lar Temporário, de modo voluntário, aos animais resgatados que foram vítimas de maus-tratos, abandonados ou que estavam na rua e foram machucados.