Já se foi o tempo em que a conscientização da população quanto aos seus deveres cívicos, em especial quanto à vacinação, era realizada pelos chefes do executivo municipal através de informativos televisivos, ou em meio impresso, nos jornais, cartazes e banners, de forma neutra e objetiva.
A moda agora é promover eventos temáticos visando atingir um determinado grupo de pessoas, criteriosamente selecionado de acordo com o nível de engajamento que podem gerar nas redes sociais, com o claro objetivo de exibição e promoção, e não de informação ou conscientização, conforme apregoado.
Foi isso o que fizeram as prefeituras de Maringá e de Londrina, uma vez que promoveram, respectivamente, o ‘Open Vacina’, no último dia 16/09, e a ‘Balada da Vacina’, no dia 18/09, datas em que foram aplicados os imunizantes aos jovens com 18 (dezoito) anos ou mais.
Não é preciso ser versado em princípios da administração pública, previstos na Constituição Federal (art. 37), para constatar que, sob o pretexto de incentivar os jovens à vacinação, o executivo municipal propiciou o ambiente perfeito para a promoção pessoal de seus chefes.
Sim, porque, basta uma corrida de olhos nas páginas oficiais do prefeito Ulisses Maia para perceber que ele foi o garoto propaganda do evento, publicando tantas fotos que até daria para fazer um ‘book’, como aqueles de ‘Meus 15 anos’. Além dos diversos registros fotográficos com a juventude, seu público alvo, o chefe do executivo municipal gravou vídeos e ‘stories’, publicando-os, repito, em suas redes sociais pessoais.
Ora, caro leitor, indago a você, a concretização da vacinação dos jovens com mais de 18 anos foi obra única e exclusiva do município? Trata-se de um serviço público prestado tão somente por este ente jurídico? É o que está parecendo, não é? Não fosse isso, por qual outra razão o prefeito organizaria uma verdadeira festa em praça pública, da qual foi o anfitrião?
Não tenho dúvidas de que alguns desavisados vão pensar que somente foram imunizados graças à atuação do prefeito da cidade, deixando de considerar que tal feito só foi possível a partir da providencial contribuição do Governo do Estado do Paraná e do Governo Federal.
Mas será que não seria esse o objetivo? De promover a figura do gestor municipal como o responsável por um serviço público do qual não é o único titular? Será que é adequado, à luz do princípio da impessoalidade, que o prefeito rogue para si, através da promoção de uma festa para um grupo específico de pessoas, os louros da conquista da vacinação? Não configuraria, esse ato, violação ao aludido postulado constitucional?
A resposta a tais questionamentos vou deixar a cargo de vocês, meus queridos leitores, bem como aos órgãos responsáveis pelo controle externo da administração pública. Quanto a mim, bom, vou aguardar as próximas eleições para ver como o material produzido será utilizado pelos candidatos da situação e da oposição, pois a leitura que faço é que o ‘Open Vacina’ não passou de indevida promoção pessoal. Viva o SUS? Não! O dono da festa!