Colheita será concentrada, mas sem problemas

Avanços tecnológicos do maquinário agrícola dos produtores e investimentos em infraestrutura de recebimento das empresas devem agilizar serviço

Com o atraso e concentração no plantio da soja e o alongamento do ciclo da cultura, devido a intempéries climáticas, a colheita da oleaginosa este ano, na região de Maringá, deve ser bastante concentrada, com a maior parte das lavouras “chegando” praticamente junta, em um curto período de tempo. Isso, entretanto, não deve causar problemas no ritmo de trabalho nas propriedades rurais nem no recebimento, segundo Juceval Pereira de Sá, chefe do Núcleo Regional de Maringá da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab).

Em vez de iniciar o plantio em meados de setembro, como tradicionalmente ocorre, quando está liberado o plantio na região pelo zoneamento agrícola, a maior parte dos produtores da região de Maringá, que engloba 31 municípios, acabou iniciando os trabalhos dia 18 de outubro, quando vieram as primeiras chuvas da temporada. A forte estiagem no final do ano, que atrasou o desenvolvimento da cultura, seguido de longos períodos de chuvas em excesso e pouca luminosidade, acabaram alongando o ciclo. Atualmente, apenas 10% das lavouras estão em período de maturação e 90% em vários níveis de frutificação.

Isso, entretanto, não deve causar problemas no ritmo de colheita ou de recebimento da safra. Avanços tecnológicos do maquinário agrícola dos produtores e investimentos em infraestrutura de recebimento das empresas devem agilizar o serviço, de modo que as operações transcorram sem grande dificuldade, perdas ou filas, avalia Juceval.

“A maior parte dos agricultores na região de Maringá tem seu próprio parque de máquinas, com colheitadeiras e implementos de alta tecnologia, potência e capacidade operacional, permitindo uma colheita rápida. Se fosse em outra época, a concentração da colheita poderia ser complicada. Mas, hoje, com a tecnologia existente, a colheita é rápida. Só será problema se tiver um período chuvoso daqui para frente”, comenta o chefe do Núcleo Regional da Seab em Maringá.

Da mesma forma, diz, o recebimento é muito ágil, com tombadores de alta potência, digitalização do sistema e várias empresas atuando na região com uma boa infraestrutura de silos para armazenar a produção. “As empresas se prepararam ao longo dos últimos anos e não devem apresentar problemas no recebimento”. Também, boa parte da soja recebida já foi comercializada e deve ser rapidamente exportada. Este ano o número de fixações de vendas antecipadas, contratos futuros ou venda de insumos vinculada a troca por produtos foi um dos maiores dos últimos anos devido ao bom preço futuro da commodity.

Juceval comenta ainda que deve crescer o percentual de produtores que fazem uso de produtos para dessecação da soja. “A maior parte deve lançar mão do recurso para acelerar o processo”, afirma.

Dos 296,5 mil hectares cultivados com soja na região, 83% das lavouras estão em boas condições, devendo produzir uma média de 145 sacas por alqueire ou entre 3.550 a 3.600 quilos por hectare. O Deral tem trabalhado com a expectativa de fechar a safra na região de Maringá com uma produção de 1,055 milhão de toneladas.

Depois de receber no ciclo 2019/20 o maior volume de soja de todos os tempos, ao redor de 1,5 milhão de toneladas, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, com sede em Maringá, inicia o período 2020/21 projetando recepcionar uma quantidade ainda maior, de 1,850 milhão de toneladas. Fundada em 1963, a cooperativa mantém operações nos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, onde possui 87 unidades operacionais que prestam atendimento a 15,5 mil produtores cooperados.

A estimativa de ampliar o recebimento se sustenta em vários fatores. No ano passado, graças a sua credibilidade junto aos produtores e também às oportunidades de negócios oferecidas, bem como a política de pagamento à vista mesmo diante do forte aceleramento das fixações (enquanto a concorrência se obrigou a estender os prazos), a Cocamar registrou expressivo aumento de participação de mercado em todas as regiões onde atua, sobretudo no norte do Paraná, ampliando sua fatia de 30% para cerca de 50%.

“Os produtores se sentem seguros na cooperativa”, observa o presidente executivo da Cocamar, Divanir Higino. Na avaliação dele, o ano desafiador de 2020 deixou ainda mais evidente a solidez da cooperativa, cujo faturamento de R$ 7,049 bilhões foi 52% superior aos R$ 4,650 bilhões de 2019.

Em seu planejamento para receber a maior safra da história, a Cocamar investiu R$ 32 milhões em adequações nas suas estruturas operacionais nas regiões, de modo a agilizar ainda mais o recebimento. Várias unidades foram equipadas com novas balanças e tombadores para que os produtores tenham fluidez nas entregas e mantenham a velocidade de colheita. Ao mesmo tempo, as unidades estão finalizando a contratação de aproximadamente 700 trabalhadores temporários para apoiar os colaboradores durante esse período.

Os produtores que pretendem plantar milho como safra de inverno têm até o dia 10 de março para efetuar a operação, dentro do zoneamento agrícola para a região. “O prazo será apertado, mas mudanças de última hora não devem ocorrer, principalmente diante da perspectiva de bons preços para o milho este ano”, diz Juceval. Também não há disponibilidade de semente de trigo, a não ser para quem já tinha planejado plantar. “Tudo depende das condições climáticas, mas, a tendência é que haja um percentual de produtores que devem plantar fora do período de zoneamento para o milho, e nestes casos, a tendência é que haja uma redução da tecnologia utilizada”, complementa.

Destaques da semana

JANELA DE EXPORTAÇÕES – A baixa disponibilidade de soja no Brasil devido a atrasos na colheita está ampliando a janela de exportações dos EUA fazendo com que compradores liderados pela China dependam da oferta norte-americana por um período maior do que o normal em 2021. O resultado disso é uma redução histórica nos estoques dos EUA e pode elevar ainda mais os preços da commodity. Normalmente, o Brasil colhe a maior parte da safra de soja nos três primeiros meses do ano, que marcam o fim do domínio das exportações norte-americanas. Mas, este ano o processo foi atrasado.

EMBARQUES – Os embarques brasileiros de soja em janeiro foram 28 vezes menores do que em igual período de 2020, somando 49,5 mil toneladas, enquanto os EUA registraram o maior nível de inspeções de soja para embarques no mês, 8,9 milhões de toneladas. Em fevereiro, os embarques brasileiros de soja podem ficar em 6 milhões de toneladas, abaixo dos 8,5 milhões de toneladas inicialmente esperados, segundo a Anec. O abastecimento do Brasil só deverá se normalizar em março.

CRESCIMENTO – Acompanhando o avanço do cooperativismo de crédito pelo Brasil, que já conta com mais de 11 milhões de adeptos, segundo o Banco Central, o Sicredi, instituição financeira cooperativa, alcançou a marca de duas mil agências no país. Em 2020 foram inauguradas 150 unidades e a previsão é que ao longo do ano sejam inauguradas mais de 250, com um investimento superior a R$ 200 milhões. Hoje, o Sicredi tem mais de 4,8 milhões de associados e está presente em 1.400 municípios de 23 estados e no Distrito Federal, sendo que em mais de 200 cidades é a única instituição financeira fisicamente presente.

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