As perspectivas para 2023 em meio aos impactos das turbulências no cenário geopolítico internacional e as incertezas de um ambiente doméstico marcado pela polarização, há menos de dois meses das eleições presidenciais, dominaram as discussões de uma das principais plenárias da programação na manhã desta quarta-feira (17), do 13o Congresso Brasileiro do Algodão, que reúne os principais atores da cadeia produtiva do setor, no Centro de Convenções de Salvador. No palco do evento, os economistas Mailson da Nóbrega, Zeina Latif e Sérgio Vale debateram os “Desafios e perspectivas econômicas do novo cenário mundial”, com a mediação do jornalista William Waack.
Logo no início da plenária, a primeira pergunta de Waack foi sobre a visão de cada especialista acerca do horizonte econômico para o próximo ano. “Sabemos que todo o ano de eleições é um ano de risco de desarrumação da política econômica, mas o que podemos dizer é que independente do candidato eleito, as perspectivas para a nossa economia em 2023 vão depender da capacidade deste presidente de arrumar a casa, negociando e estabelecendo prioridades com o Congresso, afirmando compromisso com disciplina fiscal, gestão dos custos e agenda de reformas”, resumiu a ex-economista chefe da XP Investimentos e hoje sócia da Gibraltar Consulting, Zeina Latif.
Neste mesmo contexto, o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, aproveitou para ressaltar que a “arrumação da casa” depende da capacidade do país de ter também “uma casa política arrumada”. “Nós vivemos um grau de polarização política que é muito ruim para a economia: é preciso começar a articular saídas e equacionar minimamente os conflitos, buscando um pouco mais de centralidade e sentido de conciliação”, defendeu o economista.
Já Mailson da Nóbrega chamou atenção, entre outras coisas, para a mudança de paradigma no cenário mundial, com riscos geopolíticos de grande impacto para a cadeia de suprimentos. “Nos próximos anos, teremos um mundo menos eficiente, com inflações e juros mais altos, além de uma capacidade de crescimento mais lenta”, sentenciou o ex-ministro de Economia, sem deixar de trazer uma perspectiva otimista para o cenário local. “O Brasil é o país da América Latina que reúne as melhores condições estruturais não só para enfrentar este cenário desafiador como tirar partido dele e conseguir navegar mesmo diante de uma eventual piora da situação”, sentenciou.