Uma vida nas alturas

Relato de tripulante

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Fonte: Arquivo pessoal Barbara Neme Dutra

Já quis viajar o mundo e ainda ganhar dinheiro dessa maneira? Então com certeza você já pensou em ser aeronauta! Mas como essa vida funciona? E fácil como parece? Então de tripulante para aspirante a tripulante deixa eu te contar.

Eu sempre fui viajante e aventureira então parecia a profissão perfeita para alguém como eu, afinal de contas parecia ser tão fácil servir comida, armar uma porta e depois aproveitar um destino novo por dia. Ingressei minha caminhada fazendo o curso de comissária para depois prestar ANAC. Passei no meu teste e no dia da formatura do curso eu nem fiquei para o jantar, corri para fazer entrevista em São Paulo para uma empresa que eu não sabia muito sobre mas, que uma amiga insistiu que eu deveria tentar. Passei no segundo open day da Qatar Airways e poucos meses depois me mudei para Doha para iniciar meu treinamento.

Eu já havia morado fora antes, mas não em um país tão diferente do meu. Mas não tive problema, o treinamento de dois meses foi tão intenso que não dava tempo de pensar em mais nada. Logo mais chegou o dia do meu primeiro solo flight (primeiro voo), era London Heathrow – Inglaterra e aí eu descobri que aviação não é nada do que parece. A gente se prepara e estuda muito mas ninguém está pronto de verdade no seu primeiro voo. Era um Boeing 777-300 cheio e eu tinha uma zona inteira e uma porta para armar, meu Deus será que eu fiz o check direito? e se eu confundir com Airbus e armar errado? E se eu derrubar bebida em alguém? Entregar a comida vegana para a pessoa errada? E por aí vai, e é normal se preocupar desesperadamente assim porque você só quer fazer um trabalho bem feito. Naquele momento você percebe que os seus sentidos tem que estar bem apurados, qualquer barulho, chamada ou anuncio tem que ser levados a sério porque você trabalha a 40.000 pés de altura e servir não é a sua tarefa principal. A 40.000 pés eu já limpei banheiro, assento sujo, lidei com passageiro bravo porque não tem mais o frango do menu ou porque tivemos que negar mais uma cervejinha para ele, já tive passageiros que choraram comigo, gritaram comigo ou queriam só desabafar, já ouvi chamada de emergência, puxão de orelha de supervisor e já administrei primeiros socorros a bordo. Tudo isso era minha rotina nas primeiras horas de um voo ultra longo, por exemplo, para os Estados Unidos.

Depois de alguns anos e muitos assessments (avaliações) eu consegui minha merecida promoção para a executiva e a primeira classe já que eu era treinada para o A380 também. Me tornei Elite crew e cada voo se tornou rotina, o destino mudava, mas a minha vida não, e foi ali que eu aprendi a minha mais valiosa lição da aviação, carpe diem, aproveite cada momento ao máximo pois nada é para sempre.

Sou extremamente grata por ter tido asas por um tempo, ter conhecido mais de 50 países, ter feito amigos para a vida toda e ter aprendido a lidar com estresse, fome, cansaço, saudade e medo porque o que vier daqui para a frente vai ser tranquilo.

Minha dica para vocês é que no seu próximo voo, leve um chocolate para a tripulação! De tripulante para tripulante a gente agradece.

Fonte: Barbara Neme Dutra. Dubai UAE

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