Com mais de 50 anos de história e histórias narradas, a Série Vaga-Lume da editora Ática marcou gerações de leitores com livros repletos principalmente de aventuras, dramas e mistérios. Sempre numa pegada juvenil, estilo “Sessão da Tarde” (os mais velhos vão entender a referência), e autores/autoras do porte de Marcos Rey, Maria José Dupré, Lúcia Machado de Almeida, Orígenes Lessa, Luiz Puntel, Marçal Aquino, Marcelo Duarte, entre tantos.
No início, a Vaga-Lume republicava obras que saíram por outras editoras, como é o caso de “A Ilha Perdida” (1973), de Maria José Dupré, publicada anteriormente pela Brasiliense, em 1944. Não eram livros pensados exatamente para a coleção. Mas com o sucesso, nos anos de 1980, a Ática passou a encomendar obras.
Um dos pontos altos da Vaga-Lume eram as narrativas de suspense e mistério, bem ao estilo do romance policial, seguindo a fórmula tradicional e certeira de “crime+investigação+resolução”. Só que ao invés daqueles detetives clássicos e adultos (tipo Sherlock Holmes), entravam em cena jovens estudantes, às voltas com os dramas da idade, mas dotados de inteligência e curiosidade para solucionar as tramas enigmáticas. Geralmente, andavam em turmas.
Nesse contexto, Marcos Rey era o rei das histórias, com o perdão do trocadilho. Sob esse pseudônimo, o escritor, roteirista, jornalista e dramaturgo brasileiro Edmundo Donato (1925-1999) fez a festa de leitores e leitoras ao longo da Vaga-Lume. Ele escreveu histórias envolventes, bem sacadas e que prendiam do início ao fim. Entre os destaques, “O Mistério do Cinco Estrelas” (1981), “O rapto do Garoto de Ouro” (1982) e “Um Cadáver Ouve Rádio” (1983). Ele produziu ao menos 15 volumes entre os anos de 1981 e 1997.
Em 2025, comemora-se o centenário de nascimento de Rey, autor que, infelizmente, caiu no esquecimento e pouco se ouve falar dele. Pior, não se dá o devido valor literário a sua produção ficcional, que costuma ser vista com desprezo porque escreveu para jovens leitores em parte de sua carreira.
Transitando à vontade entre a prosa adulta e a juvenil, ele vendeu mais de 5 milhões de exemplares e construiu uma obra de qualidade, profundamente enraizada na vida brasileira.
Rey estreou em 1953, com a novela “Um Gato no Triângulo”. Sete anos depois, publicou o romance “Café na Cama”, um dos best-sellers dos anos de 1960. Depois, vieram “Entre sem Bater”, “O Enterro da Cafetina”, “Memórias de um Gigolô”, “O Último Mamífero do Martinelli” e muitos outros.
Destacou-se pela qualidade de seus contos e romances de realismo urbano, captando e recriando a atmosfera da grande cidade e de seus personagens, incluindo a aristocracia, a classe média e a vida noturna.
Marcos Rey escrevia como se estivesse filmando o cotidiano e a realidade da metrópole paulista. Desde a infância, foi um inveterado leitor. Publicou o seu primeiro conto aos 16 anos no jornal Folha da Manhã, já fazendo uso do seu pseudônimo.
Habilidoso e versátil, Rey atravessou as décadas de 50 a 90 como cronista, contista e roteirista de rádio, televisão e cinema, além de participações em textos para programas de humor, novelas, minisséries e publicidade.

Biografia
Para quem quiser saber mais sobre o autor, recomenda-se a leitura de “Maldição e glória: a vida e o mundo do escritor Marcos Rey” (2004, ed. Companhia das Letras), biografia escrita por Carlos Maranhão, que foi diretor de redação da revista Veja São Paulo.
Flim
Em 2019, a Festa Literária Internacional de Maringá (Flim) homenageou a Vaga-Lume com um painel de 25m² feito pelo artista de São João do Ivaí Tiago Silva e uma mesa com debate sobre os livros da série juvenil. “Cada livro é diferente”, comentou editor e escritor da série Fabio Weintraub. “Só se é escritor quando está escrevendo. Nãos e sabe se vai escrever outro livro depois”.
Naquele dia, o bate-papo “Série Vaga-Lume: Literatura que ilumina” também teve a escritora carioca Jô Duarte e foi intermediado por Dany Fran e Kelly Shimohiro. “Escrever para criança é muito mais difícil que para adulto. Tem que cativar o leitor”, comentou Jô Duarte, citando seu livro “Ana Pijama no País do Pensamento”, da série Vaga-Lume Junior, de 2009.
Os livros da série são usados até hoje em atividades escolares. São mais de 90 títulos lançados chegando em torno de 10 milhões de exemplares vendidos.

Jornal e romance
Neste mês, a edição nº 160 do jornal Cândido tem uma reportagem especial sobre a Vaga-Lume, coleção de livros infantojuvenis lançada em 1973. Assinada por Flavio Jacobsen, a matéria conta curiosidades sobre como a série surgiu e ainda discute o impacto na formação de jovens leitores, tendo marcado diferentes gerações.
Como uma extensão do assunto, na retranca entra uma crônica, assinada também por Jacobsen, que celebra os 100 anos de um dos principais escritores da coleção: Marcos Rey.
Outra homenagem à Vaga-Lume é o romance juvenil “Detetive Vaga-Lume e o misterioso caso do Escaravelho” (2023, ed. Panda Books), escrito por um dos autores da coleção, Marcelo Duarte. Ele se vale de uma trama de mistério para rechear a narrativa de “easter eggs” sobre a série.
Confira a sinopse: O valioso cetro do xeque Tarum é roubado do resort de Nikolaos Kárabos. Para solucionar o caso, o empresário contrata o detetive Vaga-Lume, que leva seu filho Leandro para a ilha em que ocorreu o crime. Existe só uma pista: um bilhete enigmático assinado por “Escaravelho”. Enquanto Vaga-Lume desenha a lista de suspeitos, Leandro e sua nova amiga Mazé iniciam uma investigação paralela. Será que eles conseguirão desvendar o mistério?