A partir de 2025, o escritor paranaense Dalton Trevisan (1925-), um dos principais nomes da moderna literatura brasileira, terá uma nova casa no país. Nesta semana, a editora Todavia anunciou que vai publicar toda a obra do Vampiro de Curitiba.
“Para nós, será uma honra imensa estar ao lado do autor na celebração de seu centenário, em junho, quando os primeiros títulos serão lançados. Dalton é um dos mais celebrados escritores brasileiros, vencedor do Prêmio Camões e três vezes do prêmio Oceanos. Em sua obra, explora as aventuras cotidianas das pessoas comuns de Curitiba, conforme vagam asfixiadas pelo desejo, se encontrando e se perdendo, em pequenos e comoventes retratos”, diz o post da Todavia, que nos últimos anos se consolidou como editora de ponta no Brasil.
Até mesmo um perfil no Instagram foi criado para Dalton (@trevisan.dalton). É um fato curioso, tendo em vista o histórico “antissocial” desse curitibano, que é avesso a entrevistas e bajulação. Mas “ele” anda meio devagar com a atualização de sua conta, pois só havia uma publicação até a manhã desta quinta-feira (7).
A mudança de casa coincide com o centenário do célebre paranaense. No ano que vem, ele completará 100 anos de vida em 14 de junho, ainda em atividade. Sempre em Curitiba, cidade onde nasceu e cresceu.
Segundo o jornal Plural, o escritor já está revendo contos para as novas edições. Dalton é conhecido no meio literário pela obsessão em revisar seus textos, principalmente os que foram publicados e consagrados. Não à toa, ele estabeleceu um subgênero dentro do conto, que é o “miniconto” ou “miniestória”. Seu tamanho é mínimo, em textos de cinco, seis linhas, quase como um haicai na poesia oriental.
Isso é a concisão de linguagem e estilo, expressando alto teor temático em poucas palavras.
No cenário paranaense, Dalton é “o” nome no conto; e talvez o maior escritor autor dessas terras. Uns vão preferir o poeta e letrista Paulo Leminski (1944-1989); outros, o romancista Cristovão Tezza (71 anos). E ainda a poeta Helena Kolody (1912-2004). Sem contar nomes em atividade como Domingos Pellegrini (74 anos), Miguel Sanches Neto (58 anos), Giovana Madalosso (49 anos), Luci Collin (60 anos)…
Mas ninguém nega o impacto daltoniano com livros desconcertantes e clássicos como “O Vampiro de Curitiba”, “Cemitério de Elefantes”, “Desgracida”, “A Polaquinha”, “Guerra Conjugal”, “Ah, é?” e tantos mais.
Todavia
Nos últimos anos, a Todavia vem se consolidando no mercado editorial. Seja pelas edições caprichadas, seja pelo catálogo.
Por exemplo, essa casa tem republicado a obra de Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017), que foi crítico literário, sociólogo, professor e um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Ele escreveu os clássicos “Formação da literatura brasileira: momentos decisivos” e “Literatura e sociedade”, entre outros livros fundamentais para entender a cultura e o país.
A Todavia também abriga em seu catálogo as obras de Itamar Vieira Jr., autor baiano incensado por crítica e público nesta década, tendo vencido os prêmios Leya, Oceanos e Jabuti. É geógrafo e doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA. Seu romance “Torto Arado” é um dos maiores sucessos — de público e crítica — da literatura brasileira das últimas décadas, tendo sido traduzido em mais de vinte países e vendido 1 milhão de exemplares. Verdadeiro fenômeno, com direito a fãs nas redes sociais.
Além da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2024, Han Kang, que nasceu na Coreia do Sul em 1970. Traduzida para dezenas de idiomas, é autora de “A Vegetariana” e “Atos Humanos” (ambos publicados pela Todavia), entre outras obras.
A lista de autores e autoras é bem extensa e diversificada na Todavia.
Teatro
No ano do centenário de Dalton, o Teatro de Comédia do Paraná (TCP) apresentará peça em homenagem ao escritor com uma seleção de seus contos em “Daqui ninguém sai”. Previsão de estreia no Festival de Teatro.
A direção da peça ficará a cargo da atriz, diretora e produtora Nena Inoue, presente na cena teatral há mais de quarenta anos, com cerca de oitenta espetáculos no currículo. Ao longo de sua trajetória, Nena esteve em contato direto com a obra de Dalton Trevisan em diversos momentos, seja atuando, seja dirigindo.