Em graphic novel paranaense, Sherlock Holmes investiga crime na ‘Curityba’ de 1893

Página da HQ com Sherlock Holmes em terras brasileiras (Crédito: Cristiano Martinez)

O leitor brasileiro gosta tanto das aventuras detetivescas de Sherlock Holmes que este personagem já pisou em solo tupiniquim para investigar crimes em verde-amarelo, pelas mãos de escritores nacionais.

Uma das histórias mais famosas, com base no famoso detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle, está no primeiro romance policial de Jô Soares, “O Xangô de Baker Street”, publicado em 1995. Neste livro, o protagonista sai do conforto de Londres para se embrenhar no exotismo brasileiro, numa versão paródica e pontuada de piadas de Jô.

Caso diferente do quadrinista André Caliman, com seu “O Mistério do Pirata Avarento” (2021), uma produção paranaense com roteiro/desenhos de sua autoria e argumento dele com Antonio Eder e Walkir Fernandes (a dupla por trás da premiada Dogzilla Studio).

Trata-se de uma graphic novel (“romance gráfico”, em tradução livre) em que o Sr. Holmes investiga uma série de assassinatos de mulheres na Curitiba (“Curityba”) de 1893, quando a Capital do Paraná tinha “apenas” 200 anos de vida. O principal suspeito é o fantasma do Pirata Zulmiro.

Logo de cara, tem-se uma história em quadrinhos envolva pelo insólito e o terror.

Ao contrário do livro de Jô, Caliman elaborou um Sherlock com seu raciocínio dedutivo em ordem. Mas, claro, o personagem sofre as influências do ambiente, passando a tomar chimarrão, por exemplo. Aliás, a erva-mate é um dos ingredientes centrais da trama dessa HQ. Basta dizer que as faculdades mentais de raciocínio lógico do detetive inglês são prejudicadas em determinado momento.

O componente humorístico também é utilizado pelo quadrinista, botando um policial chamado de Wilson para ajudar (ou atrapalhar, na verdade) o investigador de Conan Doyle. O velho parceiro Dr. Watson ficou para trás, no famoso endereço de Baker Street, nessa viagem do Sr. Holmes a Curitiba.

Cena da graphic novel de André Caliman (Crédito: Reprodução)

Capítulos
Outro detalhe da narrativa é a abertura de cada capítulo, feita a partir de “reclames” de época, ou seja, propagandas de produtos que têm a ver com o contexto da narrativa. É o caso, por exemplo, da “Herva Mate do Barão”, que aparece também na história de crime investigada pelo convidado especial.

Com isso, a HQ ganha vozes, pontos de vista em torno da construção ficcional.

Nesse sentido, há também a metalinguagem. No dia em que se passa a aventura, estreia uma peça denominada justamente de “O Mistério do Pirata Avarento”, no Teatro São Teodoro. Em outras palavras, cria-se uma conexão narrativa entre o que se passa no núcleo do “Sherlockão” e no entorno dessa montagem teatral.

Crédito: Reprodução

Traço
Em sintonia com o momento histórico e o ambiente criado na HQ, Caliman utiliza um traçado sombreado e esfumaçado, com muitas cenas cercadas de névoas, sombras e baixa visibilidade. E a borda de todas as páginas é na cor preta. Em suma, imagem perfeita para o mistério.

Paulistano radicado em Curitiba há mais de duas décadas, André Caliman Migliavacca desenvolve uma técnica de desenho diferente para cada projeto, haja visto sua produção dos últimos anos, como “Revolta!” e “Uma moeda ou um beijo”. É uma qualidade que enche os olhos de seus leitores e leitoras.

No próximo projeto, “Era uma vez no Contestado”, prometido para 2024, ele investirá no estilo aquarelado.

Multimídia
Ao longo de suas páginas, “O Mistério do Pirata Avarento” apresenta recurso multimídia: acesso a vídeos com informações históricas por meio de QR CODES localizados ao lado de certos quadros.

Em um deles, por exemplo, o leitor é transportado para a Baker Street, 221 B, em Londres. É tão somente o endereço da fictícia residência do personagem icônico criado por Conan Doyle em 1887. Mas, no século 19, a rua se estendia somente até o número 89. Hoje, neste local, funciona o The Sherlock Holmes Museum, fundado em 1990.

Caliman, na Bienal de Quadrinhos (Crédito: Cristiano Martinez)

Origens
Desenvolvida ao longo de sete anos por Caliman, a HQ “O Mistério do Pirata Avarento” é fruto de uma provocação da época do lançamento do álbum “Bocas Malditas – Curitiba e suas histórias de gelar o sangue”, em 2014, na Gibiteca de Curitiba. Essa coletânea é fruto do trabalho coordenado de Antonio Eder (um dos criadores de O Gralha), Walkir Fernandes e Carol Sakura.

Naquele dia, enquanto faziam o desafio de mais quadrinhos sobre ambientações e mitos curitibanos, jogaram a ideia: “E se o famoso detetive de Baker Street, agora em domínio público, viesse à Curitiba de 1893 para investigar estranhos acontecimentos que envolviam o assassinato de Maria Bueno e, em paralelo, o mistério de um certo Pirata Zulmiro, dando as caras ao longo da trama? A reação positiva foi imediata”, recordam Eder e Fernandes no posfácio de “O Mistério do Pirata Avarento”.

Assim, Caliman aceitou o desafio e veio à luz essa HQ lançada em 2021.

Recursos
A graphic novel é um projeto realizado com recursos do programa de apoio e incentivo à cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba.

Capa da HQ (Crédito: Divulgação)

Serviço
Para mais informações sobre “O Mistério do Pirata Avarento”, acesse o site: https://andrecaliman.com/omisteriodopirataavarento/

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