De uma fase difícil em sua vida, quando entrou em falência, o escritor gaúcho e oficineiro Alex Riegel encontrou um novo caminho artístico. “Eu reciclei a minha vida reciclando resíduos”, conta, em entrevista à reportagem, momentos antes de ministrar a “Oficina de literatura de cordel: história, escrita e fabricação artesanal” no Sesc Maringá, na última terça-feira, 3 de dezembro.
Ele visitou a Cidade Canção por meio do Circula Sesc – Artistas Gaúchos pelo Brasil, que é um projeto idealizado pelo Sesc do Rio Grande do Sul, junto com o Sesc nacional, após as enchentes no primeiro semestre de 2024. As coordenações locais são feitas com as unidades regionais do Sistema, caso do Paraná.
Em Maringá, ele abordou a história do cordel e as formas de produção. É um tipo de literatura que entrou na vida desse escritor gaúcho a partir de 2019, quando uma dificuldade financeira o fez sair de São Paulo para voltar a Novo Hamburgo (RS). Nesta cidade, ele precisou reorganizar sua vida.
“O lixo sorriu para mim”, observando que havia muitos resíduos de papel nas lixeiras. Era um material que poderia ser reaproveitado em edições artesanais. Nascia o Projeto do Lixo ao Livro.
Ao mesmo tempo que desenvolvia a escrita e a fabricação de cordel com investimento em papel industrial. “Encontrei no exercício de escrita de histórias de cordel um universo novo e de retomada para mim”, recorda. Riegel passou a investir nesse tido de formato, pesquisando e promovendo oficinas em escolas gaúchas. Aliás, a demanda é grande porque se trata de uma produção literária de pouca tradição no Sul.
Oficina
Durante a oficina em Maringá, um dos temas abordados pelo oficineiro foi a origem do cordel, que veio para o Brasil pelas mãos dos imigrantes portugueses. Era uma tradição europeia, mas não com o mesmo formato que se consagrou principalmente no Nordeste brasileiro.
Inclusive, Riegel conta que o “pai” do cordel é um nordestino, do Sertão da Paraíba: Leandro Gomes de Barros. “Ele idealizou o cordel através de notícias. Levava informações através da oralidade, de um lugar para o outro, e ele descobriu que se escrevesse e expusesse essas obras escritas, poderia ter mais popularidade”.
Depois, o cordel evoluiu para as formas de cantar, como eram os trovadores na Europa, grupos de teatro mambembe com músicas.
Outro ponto da oficina é a formatação do cordel, que tem estrutura literária, caso das rimas, versos, estrofes, métrica etc. Com direito à prática da escrita no momento da atividade para que os alunos e alunas saiam com uma pequena obra original nesse tipo de produção, com fabricação manual.
Circula Sesc
Segundo o oficineiro, são 18 estados recebendo atividades de gaúchos dentro do Circula Sesc. “É a maior movimentação de artistas gaúchos da história do Sesc”, destacando que é o maior projeto de itinerâncias de um grupo de atrações, pois são 72 delas selecionadas pelo edital.
“Esse evento trazido para o Paraná é uma comemoração para todos nós, gaúchos e gaúchas. E sobretudo, esses artistas e colegas que estão atuando nesse projeto. Através de vocês, povo do Paraná, o Sesc do Paraná, a imprensa, e todos os apoios que a gente está recebendo, está conseguindo sorrir mais aberto, trazendo também o nosso trabalho, podendo vislumbrar novos caminhos”.
Percurso
No Paraná, Alex Riegel passa pelas unidades do Sesc em Maringá, Bela Vista do Paraíso e em Londrina nesta quinta-feira, 5 de dezembro.
Carreira
Riegel é artista autodidata multidisciplinar. Profissional desde 1988, envolvido em teatro, música, dramaturgia, artesanato, produção cultural, audiovisual, arte popular, artes visuais e literatura de cordel. É o criador de um personagem marcante na história das feiras de livros do Rio Grande do Sul: “Alaor, o contador de histórias” (com atuação em mais de 400 feiras e dois livros lançados). Ao longo da carreira, Alex recebeu mais de 30 prêmios em teatro, escreveu duas séries de TV (TV Cultura–SP), 30 peças de teatro, roteiros de videoclipes, web séries, programas de TV, documentário e internet.
Em 2019, criou Projeto do Lixo ao Livro, um espaço cultural de garagem em Novo Hamburgo (RS) que desenvolve estudos e descobertas de novas fontes de matérias-primas por meio da reativação de resíduos industriais e domésticos para fabricar livros e cadernos artesanais. Escreveu, editou e lançou um repertório autoral de livros de cordel fabricados manualmente.