Após hiato de quase 20 anos, a revista Manchete voltou ao mercado de publicações na quarta-feira (19), com lançamento de projeto multiplataforma no Teatro Adolpho Bloch no Rio de Janeiro. Agora, é impresso, digital e redes sociais, no conceito de “Rio 360 graus”.
Aliás, o Rio de Janeiro é o protagonista da cobertura da nova fase desse tradicional título criado em 1952 pelo empresário e gráfico Adolpho Bloch (1908-1995), um imigrante ucraniano que se tornou barão da imprensa brasileira na segunda metade do século 20, com TV, editora e rádio, entre outros negócios.
O semanário dos Bloch (Adolpho tinha mais dois irmãos na fase inicial da empreitada) ficou marcado pela qualidade gráfica e o fotojornalismo inspirado em publicações como a francesa Paris Match e a norte-americana Life. A Manchete era bonita na leitura, mas ainda pecava pelo nível de matérias. O cenário mudou depois, sob comando do editor gaúcho Justino Martins, com a produção de grandes reportagens, a presença de colunistas do porte de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Fernando Sabino, além de séries especiais no campo das artes e cultura.
A construção de Brasília foi tema de diversas capas ao longo de sua circulação. Não à toa, Adolpho se tornou amigo do então presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), figura de proa no estabelecimento do planalto central como Capital Federal.
Outra marca da revista brasileira era a cobertura do Carnaval carioca, com edições que se esgotavam rapidamente nas bancas. Nos bons tempos, a publicação chegou a tiragens de milhões, e com pouco encalhe. O auge foi nos anos de 1970/80. Inclusive, com o lançamento da emissora de TV na década oitentista, cujo maior sucesso foi a novela “Pantanal” e a programação com proposta de “TV a cabo” em sinal aberto. Época também de construção do Edifício Manchete, na rua do Russel e do famoso parque gráfico no bairro de Parada de Lucas.
O slogan do semanário foi marcante: “Aconteceu, virou Manchete”.
A partir dos anos de 1990, porém, o conteúdo semanal impresso decaiu substancialmente, perdendo espaço para a concorrência de Veja e IstoÉ. Até que a Manchete encerrou suas atividades em 2000, sob o comando da Bloch Editores.

Pós-falência
Após a falência, uma cooperativa formada por ex-funcionários obteve autorização judicial para continuar editando algumas das revistas da Bloch, incluindo Manchete, no biênio 2001-2002. No entanto, deixou de ter periodicidade semanal para passar a ser editada apenas em edições especiais sem periodicidade fixa, como os especiais de Carnaval.
Como outros títulos da Bloch Editores, foi comprada pelo empresário Marcos Dvoskin e relançada em 2004, pela Editora Manchete, tendo sido publicada até 2007.
Retorno em 2025
Agora, a revista volta sob comando do empresário Marcos Salles, que tem 39 anos de vida profissional dedicados à área da comunicação. Inclusive, ele trabalhou na antiga Manchete e a adquiriu ao final de 2024. A nova fase manteve a numeração histórica, com a edição 2.540 lançada nesta semana. Preço de capa: R$ 59,9.

O foco é a cobertura do Rio de Janeiro, seu “lifestyle”, em áreas como cultura, entretenimento e negócios. No geral, é um jornalismo mais leve, com reportagens sobre saúde, esportes, turismo… e um time de colunistas. Mariana Leão é editora e repórter.
O impresso continua sendo o DNA da Manchete, mas nessa nova encarnação a proposta é de modernizar a produção jornalística, possibilitando ao leitor e à leitora o conteúdo em outras mídias, caso de vídeos em canal no YouTube.
“Sim, os dias são outros e por isso, a nova Revista Manchete vem com as características modernas na forma de apresentar o conteúdo. Somos um produto multiplataforma. Você pode ler a revista impressa ou assistir ao conteúdo pelo YouTube, site, redes sociais e TV. Voltada para cariocas e fluminenses com categorias setorizadas, comandadas por grandes colunistas que terão o objetivo de fortalecer e dar relevância a nossa melhor versão”, diz o próprio Salles no texto de apresentação da revista.
Por enquanto, o impresso vai circular bimestralmente no Rio de Janeiro. Para saber mais, acesse: https://revistamanchete.com.br/
Livros
Para quem quiser saber mais sobre a história da Manchete, vale a pena conhecer livros que foram lançados na última década e meia, muitos deles escritos por gente que esteve no olho do furacão.
Um deles é “Memórias de um sobrevivente” (ed. Nova Fronteira), de Arnaldo Niskier, que se propõe a contar a verdadeira história da ascensão e queda da Manchete e o convívio de 37 anos do autor com os responsáveis pela revista. Niskier entrou com 18 anos para o grupo das Empresas Bloch, responsável pela edição da revista, considerada um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos no Brasil.
Outra publicação é “Os irmãos Karamabloch: Ascensão e queda de um império familiar” (ed. Companhia das Letras). A saga dos Bloch, ou Família Manchete, é narrada com humor e sensibilidade literária por um descendente do clã, o escritor e jornalista Arnaldo Bloch, neto e xará de um dos “irmãos Karamabloch” (como o escritor Otto Lara Resende chamava os irmãos Bóris, Arnaldo e Adolpho Bloch, numa referência evidente aos atormentados Karamázov de Dostoiévski).

E ainda “Aconteceu na Manchete: as histórias que ninguém contou” (ed. Nova Fronteira). Este livro reúne textos de profissionais que trabalharam em várias revistas da Bloch, depoimentos de jornalistas convidados e de personalidades que mantiveram, ao longo de 48 anos, estreita ligação com a Manchete.