O premiado escritor maringaense Oscar Nakasato (autor de “Nihonjin”) mediou o bate-papo “Koichi Kishimoto: memórias da Segunda Guerra”, na noite desta quinta-feira, 12 de setembro, no auditório Capitu da 11ª Festa Literária Internacional de Maringá (Flim).
Ele conversou com Mirian Marubayashi Hidalgo, neta de Koichi Kishimoto, o autor de “Isolados em um Território em Guerra na América do Sul”.
Livro originalmente lançado em 1947, ganhou reedição especial em dezembro de 2022 pela Ateliê Editorial, em trabalho de resgate feito por Mirian que levou 20 anos para ganhar o mercado editorial. A tradução do japonês foi feita por Seisiro Hasizume, com capa de Camyle Cosentino.
Inclusive, a orelha da edição em português foi feita por Nakasato, a convite da neta de Kishimoto. Mirian é professora aposentada do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
“O livro de Koichi Kishimoto basicamente vai contar sobre os desdobramentos da Segunda Guerra na vida, no dia a dia das pessoas, dos imigrantes japoneses que viviam aqui, no Brasil”, explica Mirian, acrescentando que seu avô aportou em terras brasileiras em 1922. “Ele escreveu do próprio punho, em idioma japonês, um relato em primeira pessoa, do imigrante”, destacando que isso possibilita transmitir tudo aquilo que o japonês chegado ao país estava sentindo, vivendo um pouco isolado em um território em guerra na América do Sul.
A organizadora do livro lembra que o Brasil era adversário dos países do Eixo, que era formado naquela época da Segunda Guerra Mundial por Alemanha, Itália e Japão. “Japoneses eram vistos como inimigos, adversários. E eles estavam inseridos na sociedade brasileira”. Nesse sentido, a escolha do título “Isolados em um território em guerra na América do Sul”, que extrapola até mesmo o Brasil.
Memórias do cárcere
De maneira geral, conforme Mirian, o livro de seu avô relata histórias de gente comum. “Eu sinto esse olhar para as pessoas. Ele contava o que estava sentindo, o que ele vivenciava. Mas também histórias muito simples. Os capítulos são bastante curtos, do cotidiano das pessoas”, citando uma vendedora de ovos, um alfaiate etc.
Kishimoto foi perseguido e preso, pois estava conversando num culto em japonês, o que era proibido no Brasil daquela época. “E ele relata as memórias do cárcere desse período”, afirma Mirian.
Altas vendas
Em linhas gerais, esse é o cerne do livro lançado em setembro de 1947, cuja primeira edição vendeu 2 mil exemplares em um mês. Logo em seguida, veio a segunda edição em dezembro daquele ano. Ao longo de três meses, vendeu 3,8 mil cópias. É um número raro até para os dias de hoje.
Mas em março de 1948 essa obra foi confiscada e Kishimoto sofre todo um processo, correndo risco de perder sua naturalização como brasileiro e ser deportado para o Japão.
Na terceira edição de 1962, o autor acrescenta a luta para provar sua inocência e não perder a cidadania.
Para o volume lançado em 2022, foram acrescentados paratextos a fim de valorizar o original, caso de duas apresentações, uma do jornalista e editorialista do jornal O Estado de S. Paulo Jorge J. Okubaro; outra do jornalista e editor-chefe do Nikkey Shimbun Masayuki Fukasawa. Além da orelha feita por Nakasato.
A seguir, mais registros do evento na Flim 2024 (fotos: Cristiano Martinez):