Morto aos 82 anos de idade, conforme informações divulgadas nesta quarta-feira, 11 junho, o cantor, instrumentista e compositor norte-americano Brian Wilson deixou como legado músicas que estão nas mentes e corações de várias gerações de ouvintes. Desde os hits certeiros da surf music de sua banda The Beach Boys, até a obra-prima “Pet Sounds”.
Com quase seis décadas de história, esse disco foi lançado em 16 de maio de 1966 pela gravadora Capitol Records. Foi um fiasco de vendas à sua época. Nem o restante da banda (Al Jardine, Mike Love, Carl Wilson e Dennis Wilson) entendeu o projeto ousado de Brian, que lhe consumiu muito tempo de trabalho e também de dinheiro da gravadora pelas intermináveis horas de estúdio.
Mesmo com o fracasso comercial (os fãs também não compraram a ideia), valeu a pena. Como assim? Ora, “Pet Sounds” resistiu à prova do tempo e se tornou um dos melhores álbuns de todos os tempos, citado em diversas listas de jornais e revistas, incluindo a famosa publicação Rolling Stone. É clássico, obra-prima.
Com esse registro fonográfico, Brian Wilson fez uma virada em sua vida como compositor, chegando ao topo em harmonias ao mesmo tempo complexas e que tocam o bom apreciador da música. O artista deixou aquela fase mais inocente do surf rock do Beach Boys, com letras sobre praias e garotas, para produzir faixas refinadas, com vocais perfeitos, instrumentação de primeira linha e letras imbuídas de melancolia e questionamentos. É coisa rara. Verdadeira revolução musical.
A passagem do tempo possibilitou uma compressão mais acurada do projeto proposto por Brian em “Pet Sounds”, um disco que influenciou caras como Paul McCartney a fazer algo semelhante nos Beatles – vide “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, lançado em 1967, no ano seguinte. Acha pouco? Se fosse para escolher uma única faixa do álbum pensado, planejado e gravado pelo mais talentoso dos Beach Boys seria “God Only Knows”, que abre o lado B. Simplesmente, uma das canções mais lindas e perfeitas da história do pop.
Surgido no início dos anos de 1960, The Beach Boys teve seu auge entre 1962 e 1966, legando hits como “Surfin’ U.S.A.”, “California Girls” e “Fun, Fun, Fun”. O quinteto original composto por Brian Wilson, seus irmãos Carl e Dennis, o primo Mike Love e o amigo Alan Jardine criou um universo de carro, sexo e garotas numa Califórnia edílica.Ao longo do tempo, Beach Boys colocou 13 singles no Top 10. Três deles chegaram ao primeiro lugar: “I Get Around”, “Help Me, Rhonda” e “Good Vibrations”.
Quando “Pet Sounds” completou 50 anos de seu lançamento, o jornalista Pedro Antunes escreveu no jornal O Estado de S.Paulo (de 15 de maio de 2016) que Brian Wilson mergulhou em algumas viagens psicodélicas e colocou para fora suas ansiedades sociais, amores juvenis e decepções da vida adulta para fazer canções do pop mais puro. É preciso recordar que esse músico teve sua dose de “demônios interiores” ao longo da vida, sendo atormentado por problemas psicológicos e consumo de drogas que o levaram a uma vida errática na música.
“Os arranjos de Wilson transcendem a época, de delicadeza ímpar, poluídos por ruídos como latidos de cachorros”. Para Antunes, “God Only Knows” é possivelmente uma das mais belas músicas de amor de todos os tempos.
Verdade seja dita: certa vez, Brian admitiu que “Rubber Soul” (1965), dos Beatles, teve grande impacto em sua vida. Ele disse que o quarteto de Liverpool o inspirou.
Não à toa, parte da crítica costuma traçar paralelos entre Beach Boys e Beatles, pois ambos tiveram uma fase roqueira mais pueril e de grande sucesso até alcançarem o ápice musical com discos experimentais e fora de série. Mas com uma diferença: enquanto os ingleses tinham dois gênios na banda (John Lennon e Paul McCartney), além do “beatle discreto” George Harrison, os norte-americanos apenas Brian.
Para entender melhor “Pet Sounds”, vale escutar com muita atenção este disco e o primeiro episódio da temporada 1 do podcast “Discoteca Básica”. No programa, que está disponível em tocadores de áudio ou no site, o jornalista e escritor Ricardo Alexandre disseca o clássico do Beach Boys, tendo como convidado Herbert Vianna (Os Paralamas do Sucesso).