Premiado roteirista brasileiro lança livro de memórias

Detalhe da capa do livro com desenho de Joe Bennett (Crédito: Reprodução)

O quadrinista, escritor, professor universitário e pesquisador Gian Danton lançou nova obra de sua autoria: “A árvore das ideias: Memórias de um roteirista de quadrinhos” (2024, Série Quiosque), pela editora Marca de Fantasia.

Trata-se de sua autobiografia no formato de e-book, comemorando 35 anos de carreira na função de roteirista.

Em linhas gerais, o livro une textos e quadrinhos autobiográficos, narrando a trajetória de Danton desde a infância até o momento atual, passando por sua parceria com Bené Nascimento (mais conhecido como Joe Bennett, desenhista internacional), a criação do grupo Ponto de Fuga e até mesmo a produção literária. “Também a atuação na área acadêmica é focada na obra, assim como a descoberta do diagnóstico de autismo”, diz o material de divulgação.

Aliás, ao lado do compadre Bené, Danton produziu HQs de terror para a revista “Calafrio”, do mestre Rodolfo Zalla (1931-2016), que marcaram época pela editora D-Arte. Hoje tanto um quanto outro estão na história do quadrinho brasileiro. Inclusive, Bennett é um disputado desenhista do mercado internacional, tendo feito arte em comics, caso do Hulk da Marvel.

Nascido em Minas Gerais, Danton fez carreira acadêmica no estado do Amapá, em Macapá, na Universidade Federal do Amapá. Lá, é o professor Ivan Carlo Andrade de Oliveira.

Mas os fãs de quadrinhos o conhecem mesmo pelo pseudônimo. Ele realizou obras emblemáticas como a revista Manticore, sobre a mítica criatura da criptobiologia – o Chupa-Cabra – que ganhou os prêmios mais importantes dos quadrinhos brasileiros, o Troféu Angelo Agostini e o HQmix. Foi parceiro do mestre Eugenio Colonesse, e de outros grandes nomes do quadrinho nacional como Antônio Éder, José Aguiar, Luciano Lagares, Jean Okada, JJ Marreiro, entre outros.

Entre as várias histórias contadas no livro estão os bastidores cômicos da criação da revista Manticore, o falso Gian Danton e o psicopata que fez com que o roteirista começasse a pesquisar sobre serial killers.

Ivan Carlo é mais conhecido no universo dos quadrinhos pelo pseudônimo de Gian Danton (Crédito: Arquivo Pessoal)

O Gralha
Danton também é cocriador de O Gralha, o personagem mais conhecido dos quadrinhos seriados produzidos no Paraná, tendo sido publicado em jornais e livros.

No prefácio do novo livro de Danton, Edgar Franco, o artista multimídia Ciberpajé, recorda que os autores disseram à época que esse herói paranaense era homenagem a um obscuro personagem curitibano, o Capitão Gralha, criado por Francisco Iwerten nos anos de 1940. Assim, esse suposto criador do super-herói homenageado chegou a ser premiado no Troféu Angelo Agostini de 2006 na categoria Mestre do Quadrinho Nacional.

“No ano de 2015, Gian e os demais quadrinistas envolvidos na criação do Gralha declararam que a história do Capitão Gralha era falsa e foi criada para promover o seu personagem. Diante da revelação da inexistência de Iwerten, a Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP), responsável pelo Troféu Angelo Agostini, retirou a premiação do suposto quadrinhista”, escreve Ciberpajé.

O assunto deu tanto pano para manga que Danton desenvolveu a tese de Doutorado na Universidade Federal de Goiás, que gerou o livro “Hiper-realidade e simulacro nos quadrinhos: a fantástica história de Francisco Iwerten” (2019, ed. Marca de Fantasia).

O trabalho reflete sobre o processo criativo do qual o autor participou ativamente: Francisco Iwerten e o personagem Capitão Gralha foram tomados como reais, citados em matérias jornalísticas, artigos científicos e cronogramas de quadrinhos; uma obra totalmente fictícia, mas que garantiu ao suposto desenhista paranaense até mesmo um prêmio e uma quase homenagem por uma escola de samba.

Assim, o livro faz a análise desse caso a partir dos conceitos de realidade-ficção e hiper-realidade. Além de discutir os principais conceitos tratados no trabalho, especialmente os relacionados à ficção, realidade, hiper-realidade e simulacro, o capítulo “Fake na arte” apresenta exemplos de casos em que a arte brincou com o conceito de realidade e as vezes em que a ficção foi tida como real.

Capa com arte de Bené Nascimento, o Joe Bennett dos comics da Marvel (Crédito: Reprodução)

Visual
“A árvore das ideias: Memórias de um roteirista de quadrinhos” traz, na parte visual, a colaboração de três dos principais parceiros de Gian Danton: Bené Nascimento (Joe Bennett) fez a ilustração da capa; Antonio Eder desenhou duas HQs e JJ Marreiro desenhou uma HQ e fez o design da capa. Edgar Franco, orientador de doutorado de Gian, assina o prefácio.

Pesquisa em quadrinhos
Na qualidade de roteirista e pesquisador do universo da Nona Arte, Gian Danton também publicou obras na área: “O roteiro nas Histórias em Quadrinhos” (2016, ed. Marca de Fantasia); “Jornalismo em Quadrinhos” (2022, ed. Marca de Fantasia); “Watchmen e a teoria do caos” (2014, ed. Marca de Fantasia”; “A Bíblia do Roteiro de Quadrinhos” (2020, ed. Tagore), feito a seis mãos com Alexandre Lobão e Leonardo Santana; e “Grafipar. A editora que saiu do eixo” (2016, ed. Kalaco).

E na área da literatura os romances “Cabanagem” (2020) e “Galeão” (2013).

Serviço
O livro “A árvore das ideias: Memórias de um roteirista de quadrinhos” (184 páginas) pode ser baixado gratuitamente no site da Marca de Fantasia, AQUI

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