Todavia publica nova edição de ‘Angústia’, clássico romance de Graciliano Ramos

Detalhe da capa de Kalany Ballardin/Foresti Design para a nova edição de "Angústia" (Crédito: Reprodução)

Com a entrada da obra do escritor Graciliano Ramos (1892-1953) em domínio público, o leitor e a leitora terão novas opções de edições dos livros desse nome fundamental da literatura brasileira.

Desde 1975, a editora Record detém os direitos autorais sobre os títulos desse autor alagoano; mas agora qualquer casa pode publicar, respeitando o texto e a autoria. É que já se passaram 70 anos da morte do Mestre Graça, como era carinhosamente conhecido no meio das letras.

Uma das primeiras editoras que anunciou novas edições é a Todavia, que pretende reeditar as principais obras de Graciliano.

“Com uma nova coleção, buscamos resgatar, por meio de edições singulares, o que há de melhor em Graciliano: o caráter abertamente crítico, que revela aquilo que Antonio Candido chamaria de ‘pesquisa progressiva da alma humana’. Não dá para discordar”, diz a casa, em postagem oficial nas suas redes sociais.

Será uma coleção organizada pelo professor e pesquisador Thiago Mio Salla, reconhecido especialista na obra do autor e coordenador de projetos no Fundo Graciliano Ramos, do IEB/Universidade de São Paulo (USP). O primeiro título a ser publicado é “Angústia” (381 páginas, capa de Kalany Ballardin/Foresti Design), e nele o leitor vai poder encontrar alguns diferenciais, como:

Com tintas psicológicas, esse romance lançado originalmente em 1936 tem como protagonista Luís da Silva, um funcionário público de Maceió que leva uma vida medíocre e sem grandes emoções até o dia em que se apaixona por Marina. De início, a jovem demonstra certo interesse no relacionamento e no conforto material que o casamento poderia lhe proporcionar, mas logo acaba trocando o noivo por Julião Tavares, mais rico e poderoso.

Tomado por ciúmes e rancor, Silva fica perturbado com os acontecimentos que se desenrolam e passa a acompanhar a vida de Marina enquanto sonha em matar Julião. Escrito em primeira pessoa, o romance tem estrutura temporal não linear, seguindo o fluxo de consciência do narrador-personagem e aproximando o leitor dos sentimentos turbulentos de Luís da Silva.

Capa de Kalany Ballardin/Foresti Design (Crédito: Reprodução)

Novidade
Outra novidade da Todavia é o poema inédito de Graciliano Ramos, “Os filhos da coruja”, também organizado por Thiago Mio Salla.

É uma narrativa breve inspirada em uma fábula de La Fontaine, mas à moda brasileira, mencionando, por exemplo, o Nordeste e a seca. O texto, ainda que curto, abre espaço para leituras diversas e, em seu ineditismo, dialoga com a obra completa de Graciliano Ramos e com uma vasta tradição literária.

Pré-venda
Tanto “Angústia” quanto “Os filhos da coruja” estão em pré-venda até 12 de janeiro.

Edição tem pinturas de Gustavo Magalhães e projeto gráfico de Luciana Facchini (Crédito: Reprodução)

Autor
Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, Alagoas. Em 1933, publicou seu romance de estreia, “Caetés”. No mesmo ano, foi nomeado diretor da Instrução Pública de Alagoas e contratado como redator do Jornal de Alagoas. Em 1934, publicou seu segundo romance, “S. Bernardo”.

Em março de 1936, Graciliano foi preso, em Maceió, sem acusação formal, sob a alegação de que seria comunista. Passou por várias prisões em Maceió e Recife. Seguiu no porão de um navio para o Rio de Janeiro, onde ficou quase um ano na cadeia. Em agosto, ainda na prisão, publicou o romance “Angústia”. Ao sair do cárcere, morou no Rio de Janeiro com a família. Iniciou a publicação de alguns contos no jornal argentino La Prensa, entre eles “Baleia”, que faria parte da edição de “Vidas secas”, lançado em 1938.

Em 1945, filiou-se ao Partido Comunista a convite de Luís Carlos Prestes. Em 30 de março de 1953, aos 61 anos, o Mestre Graça faleceu na cidade do Rio de Janeiro.

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