Corria o ensaio da banda, quando a plaquinha com a marca do amplificador de guitarra descolou e caiu no chão. O vocalista e guitarrista Marcos se virou para o baterista Luciano e pediu para ler o que estava escrito ali. “Maverick”. Pronto, estava escolhido o nome do conjunto formado pelos dois, acrescidos de Marcílio Fera na guitarra solo e Ney no baixo.
Isso ocorreu há sete anos. A plaquinha está guardada. E o cubo continua sendo utilizado nos ensaios e shows dessa banda maringaense. Quase todo mundo acha que Maverick se refere ao famoso automóvel homônimo, um clássico entre os apaixonados por carros possantes e que consomem combustível além da conta. “O velho beberrão”, brinca Luciano, dizendo que os integrantes não ficam bravos com a comparação. “É que nem nós”, entre risos.
Antes de chegar a esse nome, a banda teve muitas denominações, como, por exemplo, As Chaves. E história. No mínimo, 35 anos de estrada entre Marcos e Luciano, que se conheceram ainda adolescentes em Sarandi, município colado em Maringá. Na vizinhança, os dois começaram a amizade musical em 1989. “Estava em outra banda, aí conheci o Marcos e a gente se juntou”, diz o batera. “A gente trocou um Fusca em aparelhagem”, explicando a curiosa negociação para ter equipamentos de som.
No início dos anos de 1990, participaram de um festival na Exporandi, tocando a música autoral “O samba já morreu”. Era uma provocação, bem no espírito daquela época de contestação. E foram a única banda a apresentar uma canção própria nesse evento. “Todo mundo estava tocando cover”, diz Luciano. Segundo Marcos, o pessoal ficou pensando “que música é essa?”.
A dupla recorda que o então vocalista Dinho se empolgou e não queria mais sair do palco. Era para ser uma música, mas já estavam na terceira. “Eu tentando parar e ele [cantor] não parava”, lembra Marcos, dizendo que teve de desligar o equipamento e interrompeu o show.
Era uma época produtiva para o grupo, pois a cada ensaio os integrantes criavam uma canção para o repertório.
Algum tempo depois, Marcos e Luciano se mudaram para Maringá, onde continuaram formando bandas até chegar a atual Maverick. Mas já tiveram uma fase de covers do Mamonas Assassinas, grupo que estourou em meados dos anos de 1990 com os sucessos “Vira-Vira” e “Pelados em Santos”, entre outros. Inclusive, a banda maringaense, que tinha outro nome nesse período, tocou na Cabana 40 Graus, uma casa noturna histórica em Sarandi. “É como eu falo, nós somos da época do ‘epa’”, resume o vocalista.
Hoje o quarteto mescla em seus shows covers do Raul Seixas e material autoral. Um detalhe: por conta do repertório do Raulzito, Marcos também é conhecido pelo apelido Raul. É um trabalho que os levou até mesmo a tocar em um festival de música sertaneja, sendo a única banda de rock do meio. Deu tão certo que eles pretendem repetir a dose ao final deste ano, em um pesqueiro.
Quarteto
Experientes na música, Marcos e Luciano têm a companhia de Fera e Ney, que são um pouco mais “novos”, digamos assim. Além do Robertinho, que é uma espécie de quinto integrante não oficial. Com sua gaita de boca, ele puxa um som mais blues ao Maverick e gosta de arrumar os equipamentos, como se fosse um roadie.
“O Robertinho vem desde o início com a gente”, diz Marcos, acrescentando que o companheiro começou tocando o contrabaixo na banda.
Em relação à sonoridade, Luciano classifica o som do Maverick como um rock melódico. Ele compara com os sons mais conhecidos e baladeiros do Guns N’ Roses e Aerosmith. “É rock melodramático”, define o baterista. Porém, eles confessam que têm sons mais pesados, ao estilo punk rock, citando a música autora “A pipa”.
Autoral
Apesar da longa história produtiva no rock feito em Maringá, Marcos e Luciano não têm registro fonográfico de suas canções autorais. Apenas em vídeos que circulam no YouTube ou para quem vai aos shows. Mas eles têm planos de fazer o devido registro.
Uma dessas músicas, “Rose”, foi apresentada no 1º Festival de Bandas Autorais de Maringá e região, promovido pela Associação Cultural Rock do Paraná (ACRP) em maio de 2024 no Teatro Reviver Magó.
Na avaliação de Marcos, foi muito bom participar de um evento que é necessário para a Cidade Canção. Ele cita o presidente da Associação, Ronaldo Marques, como um grande incentivador. “Muita gente tinha esquecido do rock em Maringá”, complementa Luciano, dizendo que o Ronaldo vem de tempos movimentando a cena roqueira local.
“A gente foi lá e fez um show com a nossa música. Foi demais, um trampolim para a parte de música autoral”, recorda o baterista, contextualizando que a sua banda estava fazendo shows apenas em bares e churrascarias. Nesse sentido, o Festival se transformou num espaço cativo.
Nesse dia do evento, o Maverick tocou uma composição feita por Marcos em homenagem à esposa dele que passava por um problema de saúde. “Graças a Deus, hoje ela está muito bem”, recorda o vocalista, informando que, naquele período difícil, ela estava internada no hospital. “Eu fiz essa música em casa e o restante da banda gostou”, dizendo que cada integrante pôs a sua marca na versão final.