O preço do café subiu e muito. Para o consumidor médio, isso significa que um pacote de café que antes custava R$ 15 pode facilmente ultrapassar os R$ 30 em algumas regiões. Para muitas pessoas que tomam café diariamente, esse aumento representa uma redução na qualidade ou na quantidade do produto consumido. O café da manhã tradicional, composto por pão, manteiga e café, fica mais caro e se torna um reflexo das dificuldades econômicas do país.
Para explicar sobre o assunto e o cenário que é complexo, O Maringá ouviu especialistas e a população da cidade. O primeiro ponto é o clima desfavorável que compromete safras, pois as lavouras de café são extremamente sensíveis às alterações no tempo. Pequenas variações na temperatura e no regime de chuvas podem impactar significativamente a produtividade dos cafezais. No Brasil, que lidera a produção mundial do grão, os produtores enfrentaram uma sequência de desafios climáticos: estiagens prolongadas, temperaturas acima da média e, em algumas regiões, geadas inesperadas.

Essas adversidades afetaram o desenvolvimento das plantas, reduzindo a floração e comprometendo o volume da colheita. O mesmo fenômeno ocorreu na Etiópia, berço do café arábica, onde secas severas resultaram em uma produção muito abaixo do esperado. Segundo especialistas, a próxima safra brasileira pode sofrer uma redução de até 30%, impactando diretamente a oferta e, consequentemente, elevando os preços no mercado.
As mudanças climáticas têm tornado os ciclos de produção menos previsíveis, dificultando o planejamento dos produtores e gerando incertezas para a indústria cafeeira. Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), reforça a gravidade do problema. Em entrevista ao portal AgroBrasil , ele afirmou: “O café precisa de condições climáticas equilibradas para se desenvolver. Quando a chuva falha e o calor castiga, a produção sofre.”
Dólar
De acordo com relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI), desde a posse de Donald Trump, a política tarifária dos Estados Unidos passou por mudanças significativas, impactando o comércio global. O aumento de tarifas sobre importações e a adoção de uma política econômica mais protecionista têm afetado diversos setores, incluindo o agronegócio. Tais medidas têm levado a um aumento da volatilidade nos mercados internacionais. Como resultado, investidores buscam refúgio no dólar, o que fortalece a moeda norte-americana e contribui para a elevação dos preços de commodities como o café. O café é negociado na Bolsa de Valores de Nova York e tem seu valor atrelado ao câmbio. Com a cotação do dólar chegando a R$ 6,00, o custo para o consumidor final aumenta significativamente.
China
Além dos tradicionais mercados da Europa e América do Norte, um novo gigante entrou no jogo: a China. O país, que historicamente tem no chá sua bebida símbolo, vive uma transformação cultural, com jovens chineses adotando o café como parte de seu estilo de vida. Na última década o consumo vem crescendo exponencialmente, pressionando a oferta global.
Indústria
A indústria também enfrenta o aumento no custo de produção, incluindo fertilizantes, mão de obra e transporte. Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), destacou em reportagem da Revista do Café que os reajustes nas torrefadoras chegaram a 200% no último ano, mas apenas parte desse aumento foi repassado ao consumidor. “O mercado ainda sente os impactos, e novos reajustes podem ocorrer nos próximos meses”, alerta.

Cafés especiais
No Brasil, o consumo de cafés especiais cresceu significativamente nos últimos anos, formando um público exigente, que aprecia os aromas, notas sensoriais e toda a cultura cafeeira. O café especial também sofreu o impacto natural da alta nos preços. Esse produto passa por um rigoroso processo de seleção e estima-se que apenas 15% dos grãos possam ser classificados como especiais, seguindo critérios de sabor, aroma e doçura estabelecidos por padrões internacionais.
A busca por qualidade e o maior controle sobre a origem e os métodos de produção encarecem o produto, tornando-o diferenciado no mercado. Em Maringá, uma família com tradição cafeeira decidiu comercializar a bebida utilizando grãos cultivados por eles mesmos no Cerrado Mineiro, região que possui a primeira denominação de origem do café brasileiro. Seu produto ostenta o selo de origem do Cerrado Mineiro, certificação que os coloca entre um grupo seleto de produtores que atingem no mínimo 80 pontos na avaliação da Specialty Coff ee Association (SCAA), considerando desde a ausência de defeitos até a complexidade dos sabores.
Embora satisfeitos com a crescente valorização do café especial e sua aceitação pelo público, a família Tamura também enfrenta desafios: Michael Tamura, sócio do Café Tamura, explica: “Estamos tentando segurar ao máximo e ajustar nossos preços para não repassar integralmente os custos aos clientes. Sabemos que o consumidor, de maneira geral, não consegue absorver essa alta na mesma proporção. Hoje, um café ‘Tradicional’ (de classificação inferior) custa praticamente o mesmo que um café especial custava em 2024.”

O pai de Michael, Rui Tamura, responsável pela produção do café especial da família, compartilha uma perspectiva cautelosa: “Como produtor, temos a expectativa de que os valores se mantenham para a safra de 2025, que acontece entre junho e agosto. Isso é positivo, principalmente para aqueles que conseguiram armazenar café para comercializar no último ano.”
Para o empresário, dono da Razena Cafés Especiais, Gabriel Vinicius Papa Belini, ainda vai ter mais uma alta em breve à medida que os estoques novos vão sendo comprados pelas empresas e elas, obrigadas a repassar esse custo pro consumidor e frisa. “A curto prazo a probabilidade é de mais aumento de preços. A médio prazo (6 meses a 1 ano) é de leve queda de preço do café verde que eu não acredito que será refletida na gôndola para o consumidor final.”
Segundo destaca Belini, o preço da commodity do café saiu de R$ 980 e foi para R$ 2.750, em menos de um ano (fevereiro de 2024 comparado a fevereiro de 2025). A alta para o consumidor final foi de pelo menos 15% a 20%. (*O preço do café commodity é o valor do café negociado na bolsa de valores, que é determinado pela oferta e procura internacional).
“O início desse problema que estamos tendo hoje foi por causa de uma geada severa em 2021; A seca que tivemos nos últimos anos em momentos de florada também foi crucial para que o café chegasse nesse patamar de preços”, explica o empresário. Belini diz que estamos vivendo uma tempestade perfeita: a diminuição da produção, o aumento de consumo, aliado ao aumento de dólar. “O preço alto deve frear o consumo pra que o preço se estabilize ou caia pelo menos um pouco”, conclui.
Para produtores e comerciantes, o desafio é manter a qualidade e absorver os custos. Para o consumidor, a realidade é que o preço da bebida favorita continuará subindo. Pequenos comerciantes e cafeterias enfrentam o dilema de manter a qualidade sem onerar ainda mais os clientes, enquanto produtores tentam equilibrar custos crescentes sem comprometer a sustentabilidade de seus negócios. Apesar do cenário desafiador, a paixão pelo café se mantém firme. O crescimento do consumo de cafés especiais no Brasil mostra que os consumidores estão mais exigentes e dispostos a explorar novas experiências sensoriais. O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre oferta, demanda e acessibilidade, garantindo que essa tradição nacional continue acessível para todos.
Principais motivos que levaram à forte escalada no preço
– Geada no Brasil em 2021
– Queda de produção no Vietnã
– Secas recorrentes na época de florada no Brasil
– Área plantada cresceu apenas 5% nos últimos 5 anos no Brasil

Consumidores
O desenvolvedor de software e estudante Pedro Henrique da Silva Gomes, diz que ficou mais complicado tomar a quantidade de café que estava acostumado. Na casa de Gomes, mora ele e mais duas pessoas. “Continuamos comprando da mesma marca, não tem o que fazer, pois todas ficaram caras. Lá em casa a gente toma duas garrafas. Tem que tomar mais café no trabalho, na faculdade, mas está difícil também”, brinca.
Mesmo com a alta geral, para o vendedor ambulante, Rozeniu da Cruz, se procurar bem nos mercados, pode ser que ainda encontre valores mais acessíveis. “Eu bebo bastante, só que eu procuro muito. Sempre que tem aquela promoção eu compro”, comenta.
Paraná e Maringá
O Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) divulgou na última semana os números de janeiro relacionados a alimentos e bebidas no Estado. A influência principal mostrada é proveniente do café, que isoladamente foi responsável por 0,72% da variação mensal. No mês, o café teve um aumento de 10,23% e o tomate subiu 14,66%. Apesar do percentual de tomate ter sido maior, o café pesa mais no índice porque a contribuição em pontos porcentuais corresponde à influência ponderada de cada um dos itens no resultado agregado do IPR – Alimentos e Bebidas.
Além da análise estadual, o Ipardes apresenta números regionalizados. Nos últimos 12 meses no acumulado desde fevereiro de 2024, o aumento mais acentuado é também no café (58,95%). Em Maringá, o reajuste já chegou a 38,06%.